Economia

A produção agrícola brasileira: de verdade mundial a possível mito

Desnacionalizamos quase toda a produção de fertilizantes e há terras na extensão de um estado do Alagoas nas mãos de estrangeiros

Aos caboclos, campesinos, sertanejos e mesmo grandes produtores restará o olhar conformado dos bovinos
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“Agro é tech, agro é pop, agro é tudo” quer a marota campanha publicitária. Em breve, não mais será.

Na coluna anterior havia prometido discutir o trabalho de agrônomos do IAC, Instituto Agronômico de Campinas, sobre a produção de hortaliças. Promessa é dívida, mas não será paga hoje. Continuarei devendo, mas a cumprirei. Principalmente, porque a lupa aponta graves dificuldades para quem as produz.

A produção agrícola brasileira é uma verdade mundial que pode se transformar, em poucos anos, em nosso último mito, a mais recente oportunidade econômica que jogamos fora, pois política e social já as perdemos.

Impressiona a matéria de Rodrigo Martins na última edição impressa desta CartaCapital, “A mexicanização do Brasil”. Nela, um gráfico, feito a partir de dados do PNAD/IBGE, mostra que entre os anos 1995 e 2015 os índices de pobreza e extrema pobreza tiveram acentuada queda. Do período Fernando Henrique Cardoso ao de Dilma “deposta” Rousseff, caíram de 8,5% para 3,1% e de 22,9% para 8,3% da população, respectivamente.

E o que a casa-grande e seus porta-vozes nas folhas e telas cotidianas têm a dizer disso? “Ah, mas ela ferrou a Petrobras e a Eletrobrás. Não fez o ajuste fiscal, pedalou”. E eu que pensava ser objetivo de governo aumentar o bem-estar da população.

Os arautos da indecência agora veem tudo melhorar com a volta do projeto neoliberal? Nunca fomos enganados com tanta desfaçatez por políticos tão imbecis. Quem promoveu o golpe está destruindo a nação, mas as elites econômicas sabem que seu patrimônio está garantido pela financeirização do modelo. Só não sabem se acabarão entre sangue.

Mas este meu papo é para gentinha que só está podendo comer hortaliças, legumes e algumas frutas porque os preços estão aniquilando quem os planta. Vamos hoje atender Paulinho da Viola com a vista lá do alto. Por que o agro não mais será tudo?

Porque para lucrar, se reproduzir, continuar crescendo com competitividade precisa de produtividade que depende dos insumos que alimentam e defendem terras e plantas. Entenderam manés de Temer?

Duas constatações: já desnacionalizamos, praticamente, 100% da produção nacional de fertilizantes; terras na extensão de um estado de Alagoas já estão em mãos estrangeiras.

Se em agrotóxicos e sementes transgênicas nossa agricultura dependia das moléculas multinacionais, no potássio estávamos a zero depois que a Vale vendeu suas jazidas, agora é a Petrobras que zerará o nitrogênio vendendo suas unidades para a norueguesa Yara, maior produtora mundial do nutriente. Não demorará para que os poucos fosfatados em operação sigam o mesmo caminho.

São notícias que sempre acabam se confirmando sob o olhar imediatista de políticos da bancada ruralista, analistas econômicos do setor e interessados na intermediação.

Aos caboclos, campesinos, sertanejos e mesmo grandes produtores restará o olhar conformado dos bovinos. Logo estarão todos ferrados. Educado, hoje. A AK-47 de palavrões se esconde de vergonha.

Resta, no entanto, uma opção que vocês teimam em não usar. Diminuam a demanda por agroquímicos reduzindo suas aplicações através de tecnologias naturais e orgânicas efetivas fabricadas por pequenas empresas nacionais. Pesquisem e os procurem. Testem. Caindo o consumo, monopólios e oligopólios começam a competir e maneiram nos preços e achaques.

Podem não os salvar, mas prolongarão suas sobrevivências no mercado.

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