Tecnologia

Veneno online

O tradicional críquete serviu de mote para a primeira ação britânica de difamação via Twitter. Por Felipe Marra Mendonça

Mensagem. O caso Cairns vs. Modi expõe o risco ligado às redes sociais. Foto: Lakruwan Wanniarachchi/afp
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Por Felipe Marra Mendonça

 

O críquete é tão antiquado que parece não ter lugar no mundo instantâneo das redes sociais. Seus jogadores usam calças brancas, camisas primorosamente engomadas e coletes de alvíssimo algodão. As regras premiam a polidez.

E os jogadores chegam a aplaudir as boas jogadas dos adversários, a ponto de os ingleses descreverem algo desagradável ou errado na vida cotidiana como not cricket.

Os jogos podem durar até cinco dias, interrompidos para almoço, bebidas e, principalmente, o chá da tarde.

O críquete é a Inglaterra imaginada, ilha de gramados impecáveis, reino além-do-tempo e da tecnologia.

Foi esse mundo que bateu de frente com a internet. E gerou o primeiro processo por difamação no Twitter a ser julgado no país. O caso Cairns vs. Modi nasceu de uma postagem feita pelo indiano Lalit Modi, ex-presidente da liga de críquete de seu país, em janeiro de 2010. Na época, o nome do jogador neozelandês Chris Cairns, que atuou pelo seu país 267 vezes, foi retirado da lista dos jogadores disponíveis para os times da liga indiana, segundo uma mensagem postada pelo cartola, “devido ao seu histórico de resultados arranjados”.

Modi, residente na Inglaterra, foi figura poderosa no mundo do críquete até ser removido de seu cargo em setembro de 2010. Ele não só criou a liga indiana de críquete como foi nomeado pela revista Time como o 16º dirigente esportivo mais influente do planeta. Cairns alegou que a acusação de Modi poderia destruir sua reputação construída em 20 anos de carreira.

Na segunda-feira 26, Cairns ganhou 90 mil libras como pagamento pela difamação. “A característica principal do Twitter é que a mensagem se espalha e corre o mundo todo. Aí está o perigo, “disse o advogado de Cairns, Rhory Robertson, ao sair do tribunal. O tweet original foi recebido por um número -limitado de seguidores de Modi, estimado em 65 pessoas. Em seguida, um site de críquete, o Cricinfo, divulgou um artigo citando a alegação de Modi, que ficou postado online por apenas algumas horas, lido por cerca de mil pessoas.

No veredicto, o juiz David Bean disse que, embora a publicação das palavras de Modi tivesse sido “limitada”, isso não significava que “os danos deveriam ser reduzidos a um -montante trivial”. E destacou que, no século XXI, “o veneno tende a se espalhar muito mais rapidamente”.

Inédito no Reino Unido, esse não é o primeiro caso de difamação no Twitter. Nos Estados Unidos, em 2010, a cantora Courtney Love também se encontrou em apuros ao ter de pagar 430 mil dólares por comentários negativos sobre uma designer de moda. E desde o ano passado há uma ação contra um repórter da Associated Press, Jon Krawczynski, por ter escrito que um árbitro de -basquete não estava em uma noite particularmente inspirada e apitara mal.

Talvez seja a hora de mais precaução na hora de redigir comentários. O sarcasmo e as indiretas contumazes na rede podem se tornar um infeliz caso sério para qualquer um.

Por Felipe Marra Mendonça

 

O críquete é tão antiquado que parece não ter lugar no mundo instantâneo das redes sociais. Seus jogadores usam calças brancas, camisas primorosamente engomadas e coletes de alvíssimo algodão. As regras premiam a polidez.

E os jogadores chegam a aplaudir as boas jogadas dos adversários, a ponto de os ingleses descreverem algo desagradável ou errado na vida cotidiana como not cricket.

Os jogos podem durar até cinco dias, interrompidos para almoço, bebidas e, principalmente, o chá da tarde.

O críquete é a Inglaterra imaginada, ilha de gramados impecáveis, reino além-do-tempo e da tecnologia.

Foi esse mundo que bateu de frente com a internet. E gerou o primeiro processo por difamação no Twitter a ser julgado no país. O caso Cairns vs. Modi nasceu de uma postagem feita pelo indiano Lalit Modi, ex-presidente da liga de críquete de seu país, em janeiro de 2010. Na época, o nome do jogador neozelandês Chris Cairns, que atuou pelo seu país 267 vezes, foi retirado da lista dos jogadores disponíveis para os times da liga indiana, segundo uma mensagem postada pelo cartola, “devido ao seu histórico de resultados arranjados”.

Modi, residente na Inglaterra, foi figura poderosa no mundo do críquete até ser removido de seu cargo em setembro de 2010. Ele não só criou a liga indiana de críquete como foi nomeado pela revista Time como o 16º dirigente esportivo mais influente do planeta. Cairns alegou que a acusação de Modi poderia destruir sua reputação construída em 20 anos de carreira.

Na segunda-feira 26, Cairns ganhou 90 mil libras como pagamento pela difamação. “A característica principal do Twitter é que a mensagem se espalha e corre o mundo todo. Aí está o perigo, “disse o advogado de Cairns, Rhory Robertson, ao sair do tribunal. O tweet original foi recebido por um número -limitado de seguidores de Modi, estimado em 65 pessoas. Em seguida, um site de críquete, o Cricinfo, divulgou um artigo citando a alegação de Modi, que ficou postado online por apenas algumas horas, lido por cerca de mil pessoas.

No veredicto, o juiz David Bean disse que, embora a publicação das palavras de Modi tivesse sido “limitada”, isso não significava que “os danos deveriam ser reduzidos a um -montante trivial”. E destacou que, no século XXI, “o veneno tende a se espalhar muito mais rapidamente”.

Inédito no Reino Unido, esse não é o primeiro caso de difamação no Twitter. Nos Estados Unidos, em 2010, a cantora Courtney Love também se encontrou em apuros ao ter de pagar 430 mil dólares por comentários negativos sobre uma designer de moda. E desde o ano passado há uma ação contra um repórter da Associated Press, Jon Krawczynski, por ter escrito que um árbitro de -basquete não estava em uma noite particularmente inspirada e apitara mal.

Talvez seja a hora de mais precaução na hora de redigir comentários. O sarcasmo e as indiretas contumazes na rede podem se tornar um infeliz caso sério para qualquer um.

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