Cultura

Budapeste!

Neymar virou um verdadeiro popstar na Hungria: estava nas capas da Four Four Two, da Góóól e da Pro Football

Neymar: destaque nas revistas até mesmo em Budapeste. Foto: AFP
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Confesso que tive vontade de dar uma de João Paulo II e beijar o chão de Budapeste as descer do avião da Eurowings no Liszt Ferenc International Airport naquela tarde de verão, julho de 2012. Ainda lá no alto quando a aeronave fez a curva procurando o aeroporto foi que eu vi pela primeira vez a capital da Hungria. Me pareceu linda.

Por um momento acreditei que em Budapeste encontraria Zosze Kósta, o personagem imaginário de Chico Buarque perambulando pelas ruas e avenidas de nomes tão complicados. Confesso que tive medo da língua ao estudar o guia da cidade durante o voo. Como sairia numa cidade cujo museu de etnologia chama-se Néprajzi Múszeum, o parlamento chama-se Országház e o quarteirão judeu Zsidó Negyed?

Em terra, trocamos alguns Euros por um punhado de Forints. Há muito tempo não via notas com valores tão altos. Um taxista muito sério nos deixou no Artotel e em poucos minutos já estávamos batendo perna, entrando na Bem Rakpart, cruzando a Csalogány e seguindo pela Toldy Ferenc como se estivéssemos em casa.

O primeiro passeio foi à beira do Danúbio que não é azul e sim meio verde, meio amarelado. Como amarelado é o bonde que passa a cada minuto pra lá e pra cá bem devagar, no ritmo da cidade. O primeiro gole de cerveja foi uma Delirium Tremens acompanhada de um prato de fígado de pato com batatas amassadas. O tradutor do Google no iPhone era sempre acionado nessas horas. Como iria adivinhar que  kacsamáj burgonyapurével era fígado de pato com batatas amassadas?

Andando pelas ruas de Budapeste o que vimos? Na vitrine de uma livraria no centro da cidade o livro do Paulo Coelho Veronika meg akar halni em liquidação. De 2.490 por 2.240 forints. Num sebo, uma cesta cheia de números antigos da revista Demokrata também estava em liquidação. Não me arrisquei a deixar ali alguns forints para levar uma revista que só dava para entender o título.

O que pode essa língua, eu me perguntei ao quase trombar num poste e dar de cara com um pequeno luminoso que dizia: Tuz Esetén a lift használata tilos! Segui caminho. Budapeste é uma cidade realmente muito linda que ainda tem espalhado aqui e ali lembranças do velho comunismo. Um velhinho na porta da estação Vorosmarty Ter do metrô vendendo tickets alaranjados impressos em papel jornal, Trabants bem rodados mas ainda enxutos com decalques da foice e do martelo e prédios grandiosos, monumentais, sisudos, acinzentados.

Na banca de jornal a Playboy anunciava uma entrevista exclusiva com Tom Cruise e uma tal de Marianna de calcinha e sutiã na capa. Neymar um verdadeiro popstar nas capas da Four Four Two, da Góóól e da Pro Football cuja manchete deixava bem claro: Neymar Rozhovor z Brazílie!

Bateu fome e entramos num supermercado. Lá encontramos um suco de frutas tropicais chamado Rio, um molho chamado Piroska, um energético chamado Bomba, uma cerveja chama Dreher e pra matar a sede naquela hora foi uma Fanta Narancs amarelinha amarelinha, diferente da nossa brasileira.

Budapeste é mesmo uma cidade deslumbrante. Os moradores passeiam por ruas largas e espaçosas. O trânsito é calmo e na primeira ameaça de um pedestre atravessar a rua, os motoristas param e esperam. A cidade está coberta de grafites que são verdadeiras obras de arte. Tem também um permanente cheiro de páprica no ar e uma vontade grande de voltar um dia. Budapeste daria um livro.

 

[Semana que vem: Viena]

Confesso que tive vontade de dar uma de João Paulo II e beijar o chão de Budapeste as descer do avião da Eurowings no Liszt Ferenc International Airport naquela tarde de verão, julho de 2012. Ainda lá no alto quando a aeronave fez a curva procurando o aeroporto foi que eu vi pela primeira vez a capital da Hungria. Me pareceu linda.

Por um momento acreditei que em Budapeste encontraria Zosze Kósta, o personagem imaginário de Chico Buarque perambulando pelas ruas e avenidas de nomes tão complicados. Confesso que tive medo da língua ao estudar o guia da cidade durante o voo. Como sairia numa cidade cujo museu de etnologia chama-se Néprajzi Múszeum, o parlamento chama-se Országház e o quarteirão judeu Zsidó Negyed?

Em terra, trocamos alguns Euros por um punhado de Forints. Há muito tempo não via notas com valores tão altos. Um taxista muito sério nos deixou no Artotel e em poucos minutos já estávamos batendo perna, entrando na Bem Rakpart, cruzando a Csalogány e seguindo pela Toldy Ferenc como se estivéssemos em casa.

O primeiro passeio foi à beira do Danúbio que não é azul e sim meio verde, meio amarelado. Como amarelado é o bonde que passa a cada minuto pra lá e pra cá bem devagar, no ritmo da cidade. O primeiro gole de cerveja foi uma Delirium Tremens acompanhada de um prato de fígado de pato com batatas amassadas. O tradutor do Google no iPhone era sempre acionado nessas horas. Como iria adivinhar que  kacsamáj burgonyapurével era fígado de pato com batatas amassadas?

Andando pelas ruas de Budapeste o que vimos? Na vitrine de uma livraria no centro da cidade o livro do Paulo Coelho Veronika meg akar halni em liquidação. De 2.490 por 2.240 forints. Num sebo, uma cesta cheia de números antigos da revista Demokrata também estava em liquidação. Não me arrisquei a deixar ali alguns forints para levar uma revista que só dava para entender o título.

O que pode essa língua, eu me perguntei ao quase trombar num poste e dar de cara com um pequeno luminoso que dizia: Tuz Esetén a lift használata tilos! Segui caminho. Budapeste é uma cidade realmente muito linda que ainda tem espalhado aqui e ali lembranças do velho comunismo. Um velhinho na porta da estação Vorosmarty Ter do metrô vendendo tickets alaranjados impressos em papel jornal, Trabants bem rodados mas ainda enxutos com decalques da foice e do martelo e prédios grandiosos, monumentais, sisudos, acinzentados.

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Bateu fome e entramos num supermercado. Lá encontramos um suco de frutas tropicais chamado Rio, um molho chamado Piroska, um energético chamado Bomba, uma cerveja chama Dreher e pra matar a sede naquela hora foi uma Fanta Narancs amarelinha amarelinha, diferente da nossa brasileira.

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