Sustentabilidade

Queimadas controladas e novas políticas de manejo de fogo podem evitar incêndios florestais

Pesquisadores da USP e de outras entidades defendem política que combine a fiscalização e manejo do fogo em alguns ecossistemas brasileiros

Força-tarefa atua no controle de incêndios no Pantanal, 2020. Foto: Sílvio de Andrade
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Em 2020, uma série de grandes queimadas, a maior registrada desde 1998, devastou o Pantanal mato-grossense. Com quase 30% da área devastada pelas chamas, a perda de biodiversidade local ainda é incalculável.

O aquecimento global e outras ações do homem, como o desmatamento, aumentam a chance de que novos megaincêndios ocorram no futuro. Para enfrentá-los de maneira eficaz, a realização de queimadas controladas pode ser mais eficiente que a atual política de fogo-zero.

É o que indica um estudo realizado pela Universidade de São Paulo em parceria com outras entidades, publicado na revista Perspectives in Ecology and Conservation nesta terça 20. O estudo teve apoio financeiro do Programa Biota/Fapesp e do CNPq por meio do Centro de Síntese em Biodiversidade (SinBiose) e do Edital PrevFogo/Ibama.

Abordagens mais eficazes de manejo do fogo precisam ser pensadas levando em consideração a composição dos diferentes biomas e ecossistemas no Brasil. Florestas tropicais, como a Amazônia e a Mata Atlântica, são extremamente vulneráveis às queimadas. Já os campos naturais do Sul e o Cerrado tem no fogo um agente central no equilíbrio ecológico: as queimadas eliminam o acúmulo de biomassa e nutrem o solo para um novo ciclo da vegetação.

Os pesquisadores defendem a criação de uma política que combine a fiscalização ambiental com o manejo do fogo para executar pequenas queimadas planejadas, prevenindo focos de incêndio em biomas sensíveis e controlando o tamanho em lugares adaptados. Segundo a pesquisadora Vânia Pivello, o fogo ainda é um tema bastante polêmico, porém “é muito importante que possamos discutir onde e como ele ocorre, pois os efeitos são completamente diferentes em cada ambiente”.

Como visto nas queimadas do Pantanal, mesmo locais adaptados podem sofrer com o fogo dependendo da sua frequência, tipo e intensidade. Além da perda de biodiversidade, megaincêndios prejudicam a qualidade do ar e o fornecimento de água para outras regiões, o que contribui para novas queimadas.

Custo aos cofres públicos

Desde 2014, o Brasil possui uma estratégia de Manejo Integrado do Fogo que integra áreas públicas e de preservação, atuando no monitoramento e controle do acúmulo de matéria orgânica ‘de fácil combustão’. Porém, 44,2% do território brasileiro corresponde a propriedades privadas.

O Cadastro Ambiental Rural atua como um meio de regular grandes queimadas em áreas agrícolas e propriedades privadas, que usam o fogo como uma alternativa barata para preparar grandes áreas para o plantio.

Em 2019, 33% dos focos de incêndio registrados na floresta amazônica partiram de queimadas intencionais autorizadas. Foram registradas 2,195 internações por problemas respiratórios causados pela fumaça, ao custo de mais de R$ 2,6 milhões de reais para o SUS.

Mudanças na fiscalização das queimadas

Em 2020, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontaram que o Amazonas registrou mais de oito mil focos de queimadas no mês de agosto. Maior número registrado em um único mês desde 1998.

Neste mês, o governo federal retirou do Inpe a atribuição de divulgar os dados sobre alertas de incêndios e queimadas em todo o país. Caberá ao instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), vinculado ao Ministério da Agricultura.

Em nota, o Ministério da Agricultura atribuiu a mudança ao fato de que “incêndios florestais e queimadas, que ocorrem normalmente de julho a setembro no Brasil central”, provocarem “grande impacto ao meio ambiente, ao agronegócio e à economia brasileira”.

O monitoramento do desmatamento, realizado mês a mês pelo Inpe, foi questionado diversas vezes por Jair Bolsonaro, que em 2019 citou que o até então diretor do instituto estaria “a serviço de alguma ONG”.

Desde a campanha eleitoral em 2018, o atual presidente prometeu aos ruralistas mudanças na legislação de queimadas, assim como a alteração do sistema que monitorava os focos de incêndio no País.

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