Sociedade
Teixeira era ruim. Marin é do mal
O presidente da CBF é um tapa na cara do futebol e personaliza a impunidade sobre quem se beneficiou da ditadura
Os 23 anos que Ricardo Teixeira passou à frente da CBF foram marcados pelo que o futebol brasileiro poderia ter sido. Avanços foram obtidos, como a criação da Copa do Brasil e o campeonato de pontos corridos, mas seu mandato teve como característica básica o uso do cargo e da seleção brasileira para se locupletar, como mostram as inúmeras denúncias, enquanto o futebol foi definhando ao ponto humilhante em que se encontra hoje.
Teixeira era um dirigente ruim, levou uma aura de gangsterismo à CBF. José Maria Marin é pior. Marin é do mal. As reportagens publicadas na semana passada pelos repórteres Thiago Arantes, na ESPN Brasil, e Aiuri Rebello e Rodrigo Mattos, do UOL, mostraram que Marin era, além de apoiador da ditadura, um lacaio do regime. Arquivos do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e do Sistema Nacional de Informação (SNI) disponíveis no Arquivo Nacional e na Assembleia Legislativa mostram Marin elogiando torturadores, bem como sua ligação com a ala radical da ditadura.
As denúncias somam-se às críticas feitas a Vladimir Herzog, o ex-diretor da TV Cultura morto dias depois. Foi este caso, comentado aqui pelo Bruno Winckler, que fez o deputado federal Romário (PSB-RJ) iniciar sua campanha contra Marin.
Marin, e aqui não há necessidade alguma de fugir do clichê, é um tapa na cara do futebol nacional e da sociedade brasileira. Ele é mais uma das provas de que inúmeros beneficiados pelos anos de chumbo continuam desfrutando impunemente de privilégios obtidos naquele período.
No caso de Marin, a situação é agravada pela sensação, comum para quem acompanha futebol no Brasil, de que não há nada a fazer para se livrar dele. Como foi com Teixeira, Marin só deixará o cargo se ele, e apenas ele, sentir que não vale mais a pena. A história de Marin, sua chegada à presidência da CBF e seu status são exemplo de tudo o que está errado no futebol brasileiro, e também explicam o porquê de tudo estar errado.
*Texto originalmente publicado no site Esporte Fino
Um minuto, por favor…
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.
Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.
Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.
Assine a edição semanal da revista;
Ou contribua, com o quanto puder.