Sociedade

Os animais sem destino do Pinheirinho

Uma crônica sobre nossos cachorros e aqueles que ficaram à deriva com a intervenção da Polícia Militar na comunidade de São José dos Campos (SP)

Apoie Siga-nos no

Talvez seja culpa do Johnnie Walker, talvez seja a idade. O fato é que, cada vez mais, as notícias sobre o sofrimento dos animais têm mais efeito sobre mim do que as que falam em tragédias com vidas humanas.

E aqui cabe um esclarecimento: o Johnnie Walker em questão é meu cachorrinho poodle, tamanho médio, e não aquilo que algumas pessoas podem estar pensando.

Johnnie Walker é um companheiro de jornada há 12 anos. Eu me lembro do dia em que ele chegou em casa. Dentro de uma cestinha vermelha, parecia um chumaço de algodão. O branco contrastava com as três azeitoninhas negras. O conjunto do focinhozinho com os olhos sempre acesos.

Morávamos, eu e Débora na Granja Viana, em Cotia, perto de São Paulo.

Johnnie Walker chegou num aniversário dela. Presente do Cauê, que o trouxe desde Uberlândia.

Ou seja, sua condição de mineiro talvez explique parte do seu temperamento discreto e tranqüilo. E também sua serenidade quando analisa fatos políticos.

Várias vezes eu mencionava suas reflexões no tempo em que freqüentava o Twitter e o Facebook. Meus interlocutores, especialmente as interlocutoras, pediam: põe a foto do Johnnie!

Discreto, ele nunca permitiu.

Eu me desculpava. Dizia que ele, como os jogadores de futebol, cobrava pelo uso da imagem.

O fato é que, com a Débora, eu aprendi – e já era cinquentão – a importância que um bichinho desses pode ter para as nossas vidas.

Na Granja Viana, casa grande, terreno idem, tínhamos a Priscila, uma viralata elegante, com pose e atitudes de Cleópatra, (mais tarde Priscilla Maria, para não confundir com uma grande amiga do Diogo), e o Van Basten.

Um doce de pastor alemão. Criatura finíssima. Só se enfurecia quando você ameaçava alguma propriedade da Débora.

O automóvel, por exemplo, era dela (eu nunca dirigi). Antes de entrar no carro qualquer pessoa tinha que comunicar ao Vanba (seu apelido) senão corria o risco de ser mordido. Uma mordida do Van Basten era assunto para boletim de ocorrência.

O Johnnie foi criado nesse ambiente. A Priscilla Maria o adotou como o filhote que ela nunca teve. E dava a ele apoio total quando, ainda garotinho, ele resolvia torrar a paciência do Van Basten.

Vale dizer que o Johnnie sempre se comportou como filho único. Aliás, num fato que a veterinária jura ser raro, ele foi o único bebê de uma ninhada.

Aí há uma contradição. Filho único de uma ninhada. Como? Pois esse já era um diferencial do Johnnie. Ele era filho único da Betsie.

O tempo passou, Van Basten e Priscilla Maria se foram, mas o Johnnie segue me acompanhando.

”Pop pai e Pop filho”, costuma dizer a Débora quando saímos para dar um giro pelo condomínio. E isso acontece todas as manhãs.

Pelo regulamento interno, todo animal na rua deve usar guia, também chamada coleira.

Numa reunião de condôminos, mencionei o Estatuto do Idoso. Hoje o Johnnie é o único a andar livre, sem peias, sem limitações.

Conversamos sobre vários assuntos nesses passeios, entremeados por longos silêncios onde cada um mergulha em suas memórias ou, às vezes, em nossas mútuas solidões.

Ontem quase não nos falamos. Nossa volta silenciosa pelo condomínio foi uma  homenagem aos animais abandonados no lamentável episódio do Pinheirinho.

A invasão criminosa da Policia Militar, as bombas de gás, os tiros de balas de borracha usados para espalhar pessoas, assustaram os animais.

Todos, não somente cães e gatos. Havia cavalos, porcos, galinhas, cabritos, etc.  Um total estimado em 600, vagando sem rumo na área de 1,3 milhão de m2 que, dizem, pertenceriam ao mega-investidor Naji Nahas.

Talvez seja culpa do Johnnie Walker, talvez seja a idade. O fato é que, cada vez mais, as notícias sobre o sofrimento dos animais têm mais efeito sobre mim do que as que falam em tragédias com vidas humanas.

E aqui cabe um esclarecimento: o Johnnie Walker em questão é meu cachorrinho poodle, tamanho médio, e não aquilo que algumas pessoas podem estar pensando.

Johnnie Walker é um companheiro de jornada há 12 anos. Eu me lembro do dia em que ele chegou em casa. Dentro de uma cestinha vermelha, parecia um chumaço de algodão. O branco contrastava com as três azeitoninhas negras. O conjunto do focinhozinho com os olhos sempre acesos.

Morávamos, eu e Débora na Granja Viana, em Cotia, perto de São Paulo.

Johnnie Walker chegou num aniversário dela. Presente do Cauê, que o trouxe desde Uberlândia.

Ou seja, sua condição de mineiro talvez explique parte do seu temperamento discreto e tranqüilo. E também sua serenidade quando analisa fatos políticos.

Várias vezes eu mencionava suas reflexões no tempo em que freqüentava o Twitter e o Facebook. Meus interlocutores, especialmente as interlocutoras, pediam: põe a foto do Johnnie!

Discreto, ele nunca permitiu.

Eu me desculpava. Dizia que ele, como os jogadores de futebol, cobrava pelo uso da imagem.

O fato é que, com a Débora, eu aprendi – e já era cinquentão – a importância que um bichinho desses pode ter para as nossas vidas.

Na Granja Viana, casa grande, terreno idem, tínhamos a Priscila, uma viralata elegante, com pose e atitudes de Cleópatra, (mais tarde Priscilla Maria, para não confundir com uma grande amiga do Diogo), e o Van Basten.

Um doce de pastor alemão. Criatura finíssima. Só se enfurecia quando você ameaçava alguma propriedade da Débora.

O automóvel, por exemplo, era dela (eu nunca dirigi). Antes de entrar no carro qualquer pessoa tinha que comunicar ao Vanba (seu apelido) senão corria o risco de ser mordido. Uma mordida do Van Basten era assunto para boletim de ocorrência.

O Johnnie foi criado nesse ambiente. A Priscilla Maria o adotou como o filhote que ela nunca teve. E dava a ele apoio total quando, ainda garotinho, ele resolvia torrar a paciência do Van Basten.

Vale dizer que o Johnnie sempre se comportou como filho único. Aliás, num fato que a veterinária jura ser raro, ele foi o único bebê de uma ninhada.

Aí há uma contradição. Filho único de uma ninhada. Como? Pois esse já era um diferencial do Johnnie. Ele era filho único da Betsie.

O tempo passou, Van Basten e Priscilla Maria se foram, mas o Johnnie segue me acompanhando.

”Pop pai e Pop filho”, costuma dizer a Débora quando saímos para dar um giro pelo condomínio. E isso acontece todas as manhãs.

Pelo regulamento interno, todo animal na rua deve usar guia, também chamada coleira.

Numa reunião de condôminos, mencionei o Estatuto do Idoso. Hoje o Johnnie é o único a andar livre, sem peias, sem limitações.

Conversamos sobre vários assuntos nesses passeios, entremeados por longos silêncios onde cada um mergulha em suas memórias ou, às vezes, em nossas mútuas solidões.

Ontem quase não nos falamos. Nossa volta silenciosa pelo condomínio foi uma  homenagem aos animais abandonados no lamentável episódio do Pinheirinho.

A invasão criminosa da Policia Militar, as bombas de gás, os tiros de balas de borracha usados para espalhar pessoas, assustaram os animais.

Todos, não somente cães e gatos. Havia cavalos, porcos, galinhas, cabritos, etc.  Um total estimado em 600, vagando sem rumo na área de 1,3 milhão de m2 que, dizem, pertenceriam ao mega-investidor Naji Nahas.

ENTENDA MAIS SOBRE: ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo