Sociedade

O enigma Rubens Barrichello, o falso perdedor

Rubinho foi um bom piloto na Fórmula 1, o mais longevo da categoria. Mas a expectativa que ele fosse um novo Ayrton Senna, alimentada por ele mesmo, transformou-o num falso perdedor

Foto: AFP
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Rubens Barrichello foi o piloto de Fórmula 1 que mais tempo correu na categoria. Estreou num GP da África do Sul em 1993 e deu adeus na temporada passada, 19 longos anos depois.

O fim foi um tanto melancólico, ressalta-se: ele chegou a arrumar patrocinadores que bancassem a permanência na Williams, mas os dirigentes da escuderia não toparam. Na quinta 1º, o piloto anunciou sua ida à Fórmula Indy.

Quando começou a carreira, os holofotes focavam Rubinho como futuro brasileiro campeão mundial, seguindo a esteira de Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. Não chegou lá. Conforme ia ficando claro ao longo dos anos que não iria tão longe, grudaram-lhe a pecha de “perdedor”, de “lerdo”, de “Rubinho Pé de Chinelo”.

 

Injusto, certamente. Barrichello não foi campeão, isso é fato, mas a partir disso taxá-lo como um piloto ruim certamente vai um abismo.

Ninguém fica 20 anos na principal categoria do automobilismo por acaso. Rubinho foi vice-campeão mundial, venceu 11 corridas (algumas de forma espetacular), conseguiu 68 pódios e 14 poles-positions. Ficou famoso por ser um exímio “acertador” de carros no início de temporada. Em termos absolutos, isso é talvez mais do que fizeram uns 70% de todos os pilotos da história da Fórmula 1. Não é pouco.

Então por que essa fama negativa?

Talvez aí more o grande defeito de Rubinho.

No começo de sua carreira, como já dissemos, havia a expectativa que se tornasse um dos cobras da modalidade. Quando Senna morreu, as atenções mais do que nunca se voltaram para Barrichello. A tevê Globo bancou-o ano a ano como um futuro campeão mundial. Quando ele assinou contrato com a Ferrari, a emissora tratava-o como uma estrela do esporte mundial. O problema é que o companheiro de equipe de Rubinho era o alemão Michael Schumacher. E poucos (nenhum?) na Fórmula foram Michael Schumacher.

A tevê Globo vendia Barrichello como um candidato forte a bater o alemão. Barrichello sistematicamente endossou a euforia, mesmo que Schumacher fosse, além de piloto mais completo, obviamente o preferido na escuderia italiana. Na dúvida, durante uma corrida, Barrichello teria que abrir espaço para ele. Assim o foi.

A expectativa, sistematicamente frustrada, acabou, a meu ver, transformando a imagem do piloto paulistano em um fracasso. É o peso das coisas: os analistas de Fórmula 1 mais conservadores entendiam que Rubinho era bom, mas deu o enorme azar de ser contemporâneo do maior campeão da história.

Rubinho acreditou no discurso da Globo, endossava que poderia bater Schumacher. Mas, cá entre nós, se ele não acreditasse nisso, talvez nem devesse competir. Seu erro foi colocar esse desafio abertamente na imprensa.

Que Rubinho seja feliz na Fórmula Indy. Como disse o jornalista Flavio Gomes: recomeçar uma carreira aos 40 anos é para poucos. Não importa se vai ser campeão. Tentar esse recomeço já é uma bela vitória.

Rubens Barrichello foi o piloto de Fórmula 1 que mais tempo correu na categoria. Estreou num GP da África do Sul em 1993 e deu adeus na temporada passada, 19 longos anos depois.

O fim foi um tanto melancólico, ressalta-se: ele chegou a arrumar patrocinadores que bancassem a permanência na Williams, mas os dirigentes da escuderia não toparam. Na quinta 1º, o piloto anunciou sua ida à Fórmula Indy.

Quando começou a carreira, os holofotes focavam Rubinho como futuro brasileiro campeão mundial, seguindo a esteira de Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. Não chegou lá. Conforme ia ficando claro ao longo dos anos que não iria tão longe, grudaram-lhe a pecha de “perdedor”, de “lerdo”, de “Rubinho Pé de Chinelo”.

 

Injusto, certamente. Barrichello não foi campeão, isso é fato, mas a partir disso taxá-lo como um piloto ruim certamente vai um abismo.

Ninguém fica 20 anos na principal categoria do automobilismo por acaso. Rubinho foi vice-campeão mundial, venceu 11 corridas (algumas de forma espetacular), conseguiu 68 pódios e 14 poles-positions. Ficou famoso por ser um exímio “acertador” de carros no início de temporada. Em termos absolutos, isso é talvez mais do que fizeram uns 70% de todos os pilotos da história da Fórmula 1. Não é pouco.

Então por que essa fama negativa?

Talvez aí more o grande defeito de Rubinho.

No começo de sua carreira, como já dissemos, havia a expectativa que se tornasse um dos cobras da modalidade. Quando Senna morreu, as atenções mais do que nunca se voltaram para Barrichello. A tevê Globo bancou-o ano a ano como um futuro campeão mundial. Quando ele assinou contrato com a Ferrari, a emissora tratava-o como uma estrela do esporte mundial. O problema é que o companheiro de equipe de Rubinho era o alemão Michael Schumacher. E poucos (nenhum?) na Fórmula foram Michael Schumacher.

A tevê Globo vendia Barrichello como um candidato forte a bater o alemão. Barrichello sistematicamente endossou a euforia, mesmo que Schumacher fosse, além de piloto mais completo, obviamente o preferido na escuderia italiana. Na dúvida, durante uma corrida, Barrichello teria que abrir espaço para ele. Assim o foi.

A expectativa, sistematicamente frustrada, acabou, a meu ver, transformando a imagem do piloto paulistano em um fracasso. É o peso das coisas: os analistas de Fórmula 1 mais conservadores entendiam que Rubinho era bom, mas deu o enorme azar de ser contemporâneo do maior campeão da história.

Rubinho acreditou no discurso da Globo, endossava que poderia bater Schumacher. Mas, cá entre nós, se ele não acreditasse nisso, talvez nem devesse competir. Seu erro foi colocar esse desafio abertamente na imprensa.

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