Saúde

“Não podemos parar por 7 mil que vão morrer” e “molecada na favela nem pega”: os bolsonaristas sobre o coronavírus

Para o empresariado bolsonarista, como Hang, Justus e Durski, o coronvírus representa uma ameaça somente aos seus bolsos

(Foto: Wikimedia Commons)
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Enquanto o mundo olha para a pandemia de coronavírus e realiza esforços para diminuir seu alastramento, empresários bolsonaristas não parecem estar contentes com as tentativas de salvar vidas. Para Luciano Hang, já conhecido dono das lojas Havan, Junior Durski, dono da rede de restaurantes Madero, e Roberto Justus, empresário conhecido pelo programa “O Aprendiz”, a economia se sobrepõe à luta contra a Covid-19 – e eles não têm medo de fazerem essas afirmações.

A mais enfática e literal, até o momento, saiu de um vídeo gravado por Durski e publicado, orgulhosamente, em suas redes sociais. Aos seus seguidores, ele diz, indignado: “Não podemos [parar] por conta de 5 mil pessoas ou 7 mil pessoas que vão morrer. […] Tava melhorando muito, o Brasil tem que continuar trabalhando. Não pode simplesmente os infectologistas [sic] decidir que tem que todo mundo parar.”, diz o empresário.

Em seguida, esse se justifica dizendo que sua empresa têm recursos para se manter nos próximos meses, mas que ele pensa “no vendedor de pipoca” e na “pessoa que tem um barzinho” para justificar sua fala. Nos comentários, é difícil ver algum elogio à fala de Durski. “Coloque sua mãe e seus filhos nesses 5 mil mortos que o senhor mencionou. Não deseje para os outros o que o senhor jamais queira que aconteça com você”, comentou um seguidor.

O bolsonarismo, no entanto, tem se esforçado para conseguir dar espaço para a sua narrativa e vem se amparando nos dados econômicos, como Durski, para ser contra as medidas sanitárias de isolamento social que, como observado na China, são as únicas capazes de conter o avanço do vírus entre as pessoas.

 

A preocupação “com os pobres” que aparece na fala dos milionários é recorrente. Justus, por sua vez, enviou um áudio em um grupo de WhatsApp e acabou sendo exposto. Seguindo o exemplo do presidente Jair Bolsonaro, que diminuiu a Covid-19 a uma “gripezinha” e classificou os alertas como “histeria” mais de uma vez, Justus diz:

“Vai custar muito caro. Você está preocupado com os pobres? Você vai ver a vida devastada da humanidade na hora do colapso econômico, da recessão mundial, dos pobres não ter o que comer, das empresas fecharem, do desemprego em massa, não dá pra comparar com um virusinho, que é uma gripezinha leve para 90% das pessoas.”.

Depois, o empresário faz uma análise dos pobres nas favelas, uma “molecada” que nem doente fica – mas que, de acordo com a OMS, pode passar o vírus aos mais velhos mesmo estando assintomática, detalhe que Justus parece ignorar.

“Não tem nenhuma pessoa que morreu que não tivesse outras doenças. Na pessoa saudável, zero, e na favela não tem só gente doente não. Não vai acontecer porra nenhuma se o vírus entrar na favela, pelo contrário. Essa molecada que tá na favela […] nem pegam a doença.”, diz o empresário.

Após ser duramente criticado, Justus correu para o seu Instagram e justificou seu ponto de vista. À exemplo de Durski, disse que outras enfermidades eram mais graves para o País, e criticou o “politicamente correto” por ter sido questionado.

“As crianças têm que voltar para a escola, as pessoas tem que voltar para o trabalho, a economia tem que rodar. Se não, o drama vai ser infinitamente maior. O politicamente correto nem sempre resolve o problema – pelo contrário, às vezes atrapalha”​.

O presidente Jair Bolsonaro e Luciano Hang, dono das lojas Havan. (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

A fala de Luciano Hang, da Havan, fecha o ciclo de intenções dos empresários. Com o discurso de que se importam com os mais pobres e com os futuros desempregados no Brasil, eles têm a opção de, se quiserem, demitirem seus funcionários e irem “à praia”. Criticando a “histeria” do fechamento de comércios, Luciano, em uma atitude patriótica, diz que pode mandar seus 22 mil funcionários embora por conta do coronavírus.

“Pra mim, Luciano, é muito simples. Então, eu simplesmente fecho as lojas, cancelo os pedidos de todos os meus fornecedores. Tenho dinheiro para pagar tudo e vai sobrar dinheiro no meu bolso. E aí eu vou pegar e vou pra praia. Né? E quem sabe eu tenha que mandar 22 mil colaboradores embora”, conclui.

Luciano, porém, entendeu onde estará o dinheiro e vem mudando o tom em conjunto com os setores econômicos. Chegou a elogiar o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em relação às propostas de fundo financeiro para o combate ao coronavírus. Em entrevista, porém, Maia chegou a mencionar a parcela do empresariado que preferia o dinheiro à preservação das pessoas era objeto de sua completa discórdia.

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