Sociedade
MPF vai apurar exploração sexual em Belo Monte
Polícia Civil libertou mulheres de prostíbulo perto do canteiro de obras da usina em Altamira
Trancadas em um prostíbulo, na região das obras da usina de Belo Monte entre as cidades paraenses de Altamira e Vitória do Xingu, 17 mulheres trabalhavam 24 horas por dia. Viviam em condições insalubres e sem permissão para sair do local, onde acumulavam dívidas e eram vigiadas sob a mira de armas, além de serem submetidas à prostituição.
A situação análoga à escravidão (e exploração sexual) no interior de um Brasil profundo foi descoberta quando uma jovem de 16 anos fugiu e buscou ajuda de uma assistente social. “Ela nunca recebeu nada e estava sempre devendo”, diz Thais Santi, procuradora da República em Altamira.
Após a denúncia, a Polícia Civil paraense e o Conselho Tutelar da cidade libertaram 17 mulheres do prostíbulo. E o Ministério Público Federal abriu uma investigação na segunda-feira 18 para apurar a existência do crime de trabalho escravo.
A Polícia Civil investiga os casos de exploração sexual.
Na mesma semana, uma operação policial encontrou outras 14 mulheres vítimas de exploração sexual em boates de Altamira. “A prostituição está ligada à condição insalubre em que os trabalhadores [de Belo Monte] se colocam nos canteiros de obras. Isso deve ser trabalhado desde o licenciamento para permitir que eles tenham um convívio mais adequado, inclusive com a família”, afirma Santi, responsável pelo caso.
Segundo ela, o caso também pode configurar tráfico de pessoas, pois algumas das mulheres vinham da região sul do País com a promessa de emprego. Acabavam, entretanto, diante de uma situação de submissão. “É necessário uma investigação para encontrar essa rede de tráfico que não está somente nesta barragem.”
O MPF já requisitou à Polícia Civil cópia do inquérito do caso e as vítimas devem ser ouvidas em Belém e Altamira.
O órgão também investiga se houve omissão das empresas responsáveis pela usina, a Norte Energia e ao Consórcio Construtor de Belo Monte, sobre a presença do prostíbulo nas proximidades do canteiro de obras. Por isso, ambas foram oficiadas sobre a localização do estabelecimento. O MPF quer saber se o local está dentro do perímetro de desapropriação de Belo Monte concedida pelo governo federal.
As empresas afirmam ainda não terem recebido o ofício. Em nota conjunta, negaram envolvimento com o caso e dizem estar colaborando com as autoridades para punir os responsáveis.
O texto ainda aponta que o imóvel funcionava em uma chácara na zona rural de Vitória do Xingu, “em terreno particular de propriedade desconhecida e distante cerca de 20 quilômetros do canteiro de obras mais próximo”, e que não havia funcionários das empresas no local no momento das prisões.
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