Sociedade

Meu primeiro título no Itaquerão

Torcedor conta como “invadiu” o futuro estádio do Corinthians para comemorar o título do Mundial Interclubes

Famílias invadiram o estádio corintiano para comemorar o título do Mundial. Fotos: André de Oliveira
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Por Diego Sartorato

 

O Corinthians é campeão do Mundial de Clubes da Fifa de 2012, embora, para o torcedor fanático, certamente esteja sendo difícil cair a ficha. Para mim, ainda é. Comemoração à parte, é difícil mesmo, depois de acumular tanta ansiedade, dissociar o que é do que poderia ter sido, curtir o presente vitorioso e esquecer tantos dúbios futuros do pretérito. No domingo 16, o clube brindou a torcida com algo mais: uma espiada no futuro. De portas abertas, sem seguranças ou obstáculos, o estádio em obras do Corinthians se transformou em praça pública para corinthianos de todos os cantos da cidade.

 

Quando comemorávamos o título na (saturada) avenida Paulista, a ideia de ir à futura “casa” foi pronunciada pela primeira com alguma dificuldade, atravessando camadas de euforia e cerveja: “vamos ao Itaquerão escrever nosso nome no cimento”, decidiu um grupo ao lado do nosso. E por que não? Assim como tantos outros, decidimos ir ao estádio sem promessa de nada além de um vislumbre da fachada. A viagem de trem e metrô foi curta e tranquila, diferente do que os passageiros da Linha Vermelha do Metrô e da Expresso Leste, da CPTM, enfrentam durante a semana e nos horários de pico. Chegando lá, só não encontramos cimento fresco para escrever nossos nomes, mas isso é o de menos.

Ao longo do dia, foram milhares de voltas olímpicas, fotos no local onde será dado o pontapé inicial da Copa do Mundo de 2014 e chutes aos gols já posicionados nas extremidades do campo –acompanhados da vibração corintiana habitual, que sagrava os gols anônimos ao ídolo favorito ou, no caso de defesa, o nome de Cássio, homem do jogo em Yokohama. Famílias fizeram piqueniques, grupos de samba e pagode apresentaram-se para os amigos e conhecidos. Das arquibancadas, os gritos de “Vai, Corinthians!” e “Bicampeão!” testaram o eco das estruturas do estádio e dos torcedores que exploravam os outros cantos do “Itaquerão”, ou “Arena Corinthians” para quem acha que os apelidos dificultam a negociação de venda pelo direito de nomear o estádio.

No momento da visita, havia pelo menos 200 pessoas ocupando o estádio ainda sem gramado. Foi uma invasão pacífica. O clima era familiar e, a despeito da falta de seguranças, não houve confusões ou vandalismo. Como expressou um torcedor de cabeça branca enquanto olhava pensativo para as arquibancadas, não havia motivos para bagunça. “Segurança para quê? Ninguém veio aqui quebrar nada, viemos conhecer nossa casa”. O acesso era completamente livre. Era possível caminhar pelo futuro gramado, subir nas arquibancadas, sentar na meia dúzia de cadeiras já instaladas e até mesmo olhar de perto as pastilhas pretas da decoração interna. O único impedimento era físico: conseguir galgar o morro que separava a saída do metrô Corinthians-Itaquera do estádio em construção. De acordo com estimativas da PM, cerca de 1.500 torcedores passaram pela arena esportiva no domingo. Não houve registros de incidentes.

Quando derrotou o Chelsea no Japão, o Corinthians alcançou o objetivo de um projeto de modernização e profissionalização que teve início ainda na amarga Série B, e que se consolida como exemplo de gestão para o futebol a cada tijolo firmado na Zona Leste. A estrutura milionária que está sendo erguido no coração da periferia paulistana é um monumento aos sonhos que se tornam realidade e, também, retrato do momento de crescimento e esperança que todo o país tem desfrutado nas últimas décadas.

A pequena invasão deste domingo, da mesma forma, fala diretamente aos anseios de uma cidade que deseja mais espaços públicos e precisa desesperadamente descentralizar-se e conhecer-se por inteiro. Não houve publicidade massiva para chamar os torcedores ao novo estádio; não havia sequer qualquer estrutura instalada para receber os visitantes. Mas um murmurinho pela superlotada comemoração na avenida Paulista foi o suficiente para deslocar pequenas multidões à Zona Leste, onde vizinhos da arena se surpreenderam com a distância percorrida pelos colegas corinthianos para desfrutar o fim de domingo no que, para além da paixão, não é mais que uma obra inacabada.

 

*Colaborou Tory Oliveira

 

Por Diego Sartorato

 

O Corinthians é campeão do Mundial de Clubes da Fifa de 2012, embora, para o torcedor fanático, certamente esteja sendo difícil cair a ficha. Para mim, ainda é. Comemoração à parte, é difícil mesmo, depois de acumular tanta ansiedade, dissociar o que é do que poderia ter sido, curtir o presente vitorioso e esquecer tantos dúbios futuros do pretérito. No domingo 16, o clube brindou a torcida com algo mais: uma espiada no futuro. De portas abertas, sem seguranças ou obstáculos, o estádio em obras do Corinthians se transformou em praça pública para corinthianos de todos os cantos da cidade.

 

Quando comemorávamos o título na (saturada) avenida Paulista, a ideia de ir à futura “casa” foi pronunciada pela primeira com alguma dificuldade, atravessando camadas de euforia e cerveja: “vamos ao Itaquerão escrever nosso nome no cimento”, decidiu um grupo ao lado do nosso. E por que não? Assim como tantos outros, decidimos ir ao estádio sem promessa de nada além de um vislumbre da fachada. A viagem de trem e metrô foi curta e tranquila, diferente do que os passageiros da Linha Vermelha do Metrô e da Expresso Leste, da CPTM, enfrentam durante a semana e nos horários de pico. Chegando lá, só não encontramos cimento fresco para escrever nossos nomes, mas isso é o de menos.

Ao longo do dia, foram milhares de voltas olímpicas, fotos no local onde será dado o pontapé inicial da Copa do Mundo de 2014 e chutes aos gols já posicionados nas extremidades do campo –acompanhados da vibração corintiana habitual, que sagrava os gols anônimos ao ídolo favorito ou, no caso de defesa, o nome de Cássio, homem do jogo em Yokohama. Famílias fizeram piqueniques, grupos de samba e pagode apresentaram-se para os amigos e conhecidos. Das arquibancadas, os gritos de “Vai, Corinthians!” e “Bicampeão!” testaram o eco das estruturas do estádio e dos torcedores que exploravam os outros cantos do “Itaquerão”, ou “Arena Corinthians” para quem acha que os apelidos dificultam a negociação de venda pelo direito de nomear o estádio.

No momento da visita, havia pelo menos 200 pessoas ocupando o estádio ainda sem gramado. Foi uma invasão pacífica. O clima era familiar e, a despeito da falta de seguranças, não houve confusões ou vandalismo. Como expressou um torcedor de cabeça branca enquanto olhava pensativo para as arquibancadas, não havia motivos para bagunça. “Segurança para quê? Ninguém veio aqui quebrar nada, viemos conhecer nossa casa”. O acesso era completamente livre. Era possível caminhar pelo futuro gramado, subir nas arquibancadas, sentar na meia dúzia de cadeiras já instaladas e até mesmo olhar de perto as pastilhas pretas da decoração interna. O único impedimento era físico: conseguir galgar o morro que separava a saída do metrô Corinthians-Itaquera do estádio em construção. De acordo com estimativas da PM, cerca de 1.500 torcedores passaram pela arena esportiva no domingo. Não houve registros de incidentes.

Quando derrotou o Chelsea no Japão, o Corinthians alcançou o objetivo de um projeto de modernização e profissionalização que teve início ainda na amarga Série B, e que se consolida como exemplo de gestão para o futebol a cada tijolo firmado na Zona Leste. A estrutura milionária que está sendo erguido no coração da periferia paulistana é um monumento aos sonhos que se tornam realidade e, também, retrato do momento de crescimento e esperança que todo o país tem desfrutado nas últimas décadas.

A pequena invasão deste domingo, da mesma forma, fala diretamente aos anseios de uma cidade que deseja mais espaços públicos e precisa desesperadamente descentralizar-se e conhecer-se por inteiro. Não houve publicidade massiva para chamar os torcedores ao novo estádio; não havia sequer qualquer estrutura instalada para receber os visitantes. Mas um murmurinho pela superlotada comemoração na avenida Paulista foi o suficiente para deslocar pequenas multidões à Zona Leste, onde vizinhos da arena se surpreenderam com a distância percorrida pelos colegas corinthianos para desfrutar o fim de domingo no que, para além da paixão, não é mais que uma obra inacabada.

 

*Colaborou Tory Oliveira

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