Sociedade

Decisão do conclave afeta trabalho social da Igreja?

Padres ligados a pastorais de cunho social dizem que mudança no Vaticano não altera suas ações. “Confiamos mais na planície do que no planalto”, diz Flavio Lazzarin, da CPT

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A decisão do conclave que escolherá o novo papa não afeta o trabalho social da Igreja Católica no Brasil. Enquanto se especula a opinião do futuro pontífice sobre diversos assuntos, padres brasileiros atuantes em pastorais dizem que o comando central da igreja em Roma não tem influência direta e imediata sobre o que acontece no trabalho ordinário da Igreja.

“A gente confia mais na planície do que no planalto. Mais na iniciativa do povo, dos fiéis que se articulam nas comunidades de base. Tem coisas que acontecem nos planos altos da hierarquia política e eclesial que não afetam essa vivência que se dá no dia a dia da comunidade,” diz o padre Flavio Lazzarin, coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Dom José Luiz Sales, da Pastoral do Migrante, segue a mesma linha. “O papa nos conforta com sua palavra. Mas, no dia a dia, são as comunidades que fazem o trabalho social,” diz.

O padre Júlio Lancellotti, que atua junto a moradores de rua na cidade de São Paulo, diz que o papa deve se ater a questões sem relação direta com o trabalho diário da igreja. “O papa pode ter uma compreensão maior ou menor de determinadas questões. Ele vai trabalhar muito os grandes desafios da bioética, as questões morais, administrativas e econômicas. Agora, não importa o perfil dele, ele não vai impedir os trabalhos nas favelas que muitos missionários fazem, por exemplo” diz Júlio Lancellotti.

Bento XVI

Dúvidas a respeito da influência do papa surgiram quando o cardeal Joseph Ratzinger se tornou o papa Bento XVI, em 2005. Quando liderou a Congregação para a Doutrina da Fé durante o pontificado de João Paulo II, Ratzinger condenou a Teologia da Libertação e teve uma atuação que afetou o trabalho social da igreja na América Latina, onde essa linha tinha grande influência.

Lazzarin diz que, antes de Joseph Ratzinger virar o papa, houve uma “certa perseguição” ao que ele chama de “herdeiros de conferência de Medelin”. O encontro do episcopado latino-americano  realizado na Colômbia, em 1968, teve forte cunho social. “Se houve uma certa perseguição, foi no tempo em que foram atingidos os teólogos como o Leonardo Boff”, diz Lazzarin, referindo-se ao teólogo mais conhecido da Teologia da Libertação. “Mas esses episódios de perseguição são datados.”

Segundo Dom José Luiz Sales, o temor da ascensão de um pontífice tido como conservador não se concretizou durante o pontificado de Ratzinger. “Achavam que ele iria fechar igreja, acabar com isso, acabar com aquilo. Aí, logo no começo, fez uma carta apresentando que Deus foi amor. Foi o grande susto que a gente levou.” Ele se refere à primeira encíclica escrita pelo papa. O documento, divulgado no início de 2006,  foi batizado como “Deus é Amor”, e falava da importância da caridade para os católicos. Foi um alívio ao trabalho de base da Igreja Católica que, esperam os padres, seja renovado no próximo papado.

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