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A jovem e conservadora equipe de Felipão, que insiste em nomes como Hulk para tentar vencer o único teste que realmente importa antes da Copa

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A maior surpresa da convocação foi uma ausência. Ronaldinho Gaúcho, o ex-melhor jogador do mundo que, em boa forma, vive sua melhor fase desde sua saída do Barcelona, ficou de fora da lista de Luiz Felipe Scolari para a Copa das Confederações, espécie de rascunho para a Copa do Mundo (leia mais AQUI).

Sem resultados expressivos desde que assumiu a seleção, Felipão optou por montar um time jovem e conservador para a disputa do único teste que realmente importa até 2014. Como em anos anteriores, este deve ser o time-base que disputará o Mundial. Em 2010, por exemplo, dos 23 jogadores convocados pelo técnico Dunga para o Mundial, 17 disputaram o torneio um ano antes – do time campeão do torneio em 2009, apenas o goleiro Victor, os laterais Kléber e André Santos, o zagueiro Alex, o meia Anderson e o atacante Alexandre Pato ficaram de fora.

Desta vez, à exceção de Neymar e Oscar – e Lucas, se tiver chance entre os titulares – 90% da equipe é composta por transpiração e 10%, de talento. A fórmula funcionou em 94, mas não em 2010. Não houve surpresa nem mesmo entre as decepções – a maior delas, para a torcida, talvez seja a nova chance dada ao atacante Hulk.

Confira abaixo quem é quem no time de Felipão.

Julio Cesar (QPR/ING) – Remanescente da seleção de Dunga que naufragou em 2010, é o jogador mais experiente do elenco. Sem Ronaldinho nem Kaká, deve funcionar como o principal líder da equipe em campo. Embora tenha sido rebaixado com o QPR no campeonato inglês, tem se destacado nos últimos amistosos da seleção e ganhou a confiança do treinador.

Jefferson (Botafogo) – Constantemente lembrado nas convocações anteriores, está em alta após o titulo estadual com o Botafogo. Vai brigar com Diego Cavalieri, do rival Fluminense, pela vaga de segundo goleiro da equipe

Diego Cavalieri (Fluminense) – Em 2012, foi peça-chave no título do Campeonato Brasileiro pelo Fluminense. Tecnicamente, está no mesmo patamar que os outros dois goleiros convocados, embora tenha menos experiência na seleção – o que o deixa em desvantagem na largada.

Daniel Alves (Barcelona/ESP) – Virou sinônimo de avenida após os alemães do Bayern de Munique descobrirem o mapa da mina para estraçalhar o até então imbatível Barcelona nas semifinais da Champions League. É o pior titular absoluto da safra atual. Não fez jus ao posto desde o fim da Copa de 2010, quando era reserva de luxo de Maicon, que desapareceu. Não surgiu um concorrente a altura desde então.

Jean (Fluminense) – É um volante eternamente improvisado na lateral direita desde os tempos do São Paulo. Tem virtudes, mas não tem a mesma força ofensiva de Marcos Rocha, que está voando junto com o Atlético Mineiro na temporada. Sua convocação é uma das muitas escolhas conservadoras de Felipão para montar a equipe.

Filipe Luis (Atlético de Madri/ESP) – Na seleção, não brilhou nem comprometeu, e isso é mais do que 99% da safra atual da posição em que, em um passado não muito distante, sobravam opções à sombra de Roberto Carlos, como Serginho, Junior, Kleber, Zé Roberto, Felipe, Gilberto, etc.

Marcelo (Real Madrid-ESP) – É o Felipe Melo do time atual: inconstante, explosivo e incompreendido. Pode brilhar como pode deixar o time na mão na primeira entrada. Como Daniel Alves, não tem um concorrente à altura. A conferir.

Thiago Silva (foto) (PSG/FRA) – É o queridinho de todos os treinadores por onde passou. Se tudo correr bem, será o dono da zaga em 2014. Falta saber quem será seu companheiro no setor defensivo.

Réver (Atlético-MG) – Dedé, a maior contratação do rival Cruzeiro para a temporada, era o favorito. Os dois têm até estilo parecido: fortes na jogada aérea, mais ágeis que a maioria dos zagueiros, e ainda com faro de gol (Rever é também o melhor lançador do Galo na temporada, algo raro para a posição). Pelo visto, até na convocação a fase atleticana é melhor.

David Luiz (Chelsea/ING) – Briga com Dante para ser o companheiro de Thiago Silva na zaga. Leva a vantagem pela titularidade por ter sido chamado em mais oportunidades.

Dante (Bayern de Munique/ALE) – Ganhou chance com Felipão e deve ficar. A fase do Bayern, a grande sensação na Europa, ajuda. Terá a chance de mostrar serviço e se cacifar para a Copa.

Lucas (PSG/FRA) – Basta ver o buraco deixado no meio-campo do São Paulo para perceber a importância de Lucas em qualquer equipe atualmente. O meia-atacante acaba de se sagrar campeão francês pelo PSG. Com Mano Menezes, era reserva de luxo, inclusive na equipe sub-23 derrotada pelo México na final da Olimpíada. Tem mais bola e mais estrela que os concorrentes diretos. Falta avisar o treinador.

Oscar (Chelsea/ING) – É uma ilha de habilidade em um meio-campo de velocidade e combate. Sem Ronaldinho Gaúcho, será praticamente o único responsável por açucarar o passe e aprimorar os lançamentos em direção ao ataque. É uma missão e tanto para um dos mais jovens atletas da equipe.

Fernando (Grêmio) – Na reta final, ganhou a vaga de Ralf, o estragador oficial de jogadas adversárias do Corinthians. Tem terreno livre pra ser o titular até a Copa. Tem tudo para ser, neste time, o que foi Gilberto Silva no meio-campo da equipe campeã do mundo em 2002.

Hernanes (Lazio/ITA) – É um volante que ataca e um meia ofensivo que defende. A cara de Felipão. Não poderia ficar de fora.

Luiz Gustavo (Bayern de Munique/ALE) – Desbancou o favorito Ramires. Apesar do bom momento de sua equipe, ainda é uma incógnita com a camisa da seleção.

Jádson (São Paulo) – Vive boa fase no São Paulo. Ok. Mas não fez nem sombra para Ronaldinho Gaúcho quando sua equipe enfrentou o Atlético-MG nas oitavas-de-final da Libertadores e foi atropelada. Isso diz muito sobre a escolha de Felipão (embora tenha pesado o fato de Ronaldinho ter se atrasado para se apresentar ao treinador na última convocação – o que, quando se disputa uma Copa, não deixa de ser um motivo besta).

Paulinho (Corinthians) – Há anos é o melhor meio-campo em atividade no Brasil. Convocação merecida, previsível, etc. Mas é único representante na seleção do atual campeão do mundo. Isso também diz muito sobre a escolha do treinador.

Neymar (Santos) – Não ficaria de fora nem se marcasse oito gols contra na final do Paulista. Mas, sem um elenco à sua altura, tem acumulado atuações apagadas no Santos. Fato é que não existe no futebol brasileiro um atacante da sua envergadura. Mas é fato também que, mesmo no auge da forma, jamais mostrou na seleção o futebol que o consagrou, com todos os méritos, como novo rei da Vila Belmiro. Tem caminho livre até 2014, mas só agora saberemos com que moral chegará com a torcida na disputa do Mundial.

Bernard (Atlético-MG) – É o reserva natural de Neymar. Não tem a mesma capacidade de decisão, mas está para surgir um atacante que corra tanto sem deixar de pensar com a bola nos pés. É o ponto de desequilíbrio hoje do Atlético Mineiro, a única equipe nacional que vence e encanta, mas é possível que sinta falta, na seleção, dos lançamentos de Ronaldinho em sua direção.

Leandro Damião (Internacional) – É o centroavante nato que Felipão não abre mão. Ganhou a vaga de titular durante a Olimpíada e mostrou estrela. Após um período de contusões, volta aos poucos à melhor forma no Internacional. Na Copa das Confederações, tem a chance de se garantir. Caso contrário, vai passar um ano com a sombra de Jô às suas costas – sim, porque, a essa altura, dificilmente Luis Fabiano entrará no páreo.

Fred (Fluminense) – Como Damião, também passou parte da temporada no departamento médico. Na seleção de Felipão, fez gols salvadores nos últimos amistosos e se credenciou para assumir a camisa 9. Dificilmente ficaria de fora.

Hulk (Zenit/RUS) – No meio da molecada do time sub-23 que disputou a Olimpíada em 2012, não jogou nada e perdeu a posição. Ainda assim, foi preservado durante a transição Mano Menezes/Felipão. É, na seleção, uma espécie melhorada de Luan, o contestado amuleto do treinador gaúcho no Palmeiras que fazia de tudo: marcava, dava combate, pegava a saída de bola, tirava espaço. Só não cruzava, não acertava passe nem fazia gol. É quase a representação de uma mensagem subliminar de Scolari à torcida: “Contentem-se. É o que temos”.

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