Sociedade

Chega de apitos!

Em meio ao barulho da Avenida Paulista, CET usa mímicos para conscientizar pedestres sobre os perigos do trânsito de São Paulo

Foto: Isadora Pamplona
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Para conquistar a atenção das milhares de pessoas que passam pela Avenida Paulista, no centro de São Paulo, eles escolheram o silêncio. Uma aparente contradição para um local onde reinam as buzinas, o barulho intenso e a gritaria quase diária de manifestantes de diversas causas. Com suas camisas listradas, suspensórios e rosto pintado de branco, os palhaços mímicos misturam-se ao trânsito e surpreendem pedestres desatentos com gestos caricatos e caretas a indicar como atravessar as ruas de maneira segura.

“São Paulo já tem muito barulho, muita gente falando, multando, buzinando. O silêncio das mímicas ajuda bastante”, conta Milton Filho, um ator de 32 anos. O bracelete da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) preso à sua roupa indica que ele integra um projeto da empresa, comandado pelo Instituto Brasileiro de Arte, Cultura e Educação (Ibace). A ação coloca nas ruas do centro da maior cidade da América Latina mímicos para conscientizar pedestres, e também motoristas, sobre a segurança no trânsito. “A mímica é uma comunicação quase universal. Você consegue passar a mensagem desejada a quem quer que seja, sem precisar fazer barulho, falar ou apitar.”

Uma maneira leve de lidar com um assunto sério em São Paulo. Segundo a própria CET, 617 pedestres morreram em decorrência de acidentes de trânsito na cidade no último ano, uma pequena queda em relação a 2010. Mas, ao incluir casos envolvendo motoristas de carro e motociclistas, o número de mortes sobe para 1.365, uma alta de 0,6%. Em Nova York, por exemplo, esse índice ficou em 291.

 

O projeto da CET está nas ruas de São Paulo desde agosto, onde deve permanecer por um ano. Em sua segunda temporada na capital paulista, o foco são os pontos críticos do centro, nos quais o trânsito é mais caótico. Por isso, os atores já mostraram sua arte em diversos pontos, desde a região da Faria Lima, o metrô Clínicas, Largo São Francisco, ao distante bairro de São Miguel Paulista, na Zona Leste.

O grupo de 16 mímicos chega à Avenida Paulista, e arredores, por volta das 7h da manhã. Maquiam-se e poucos minutos depois estão espalhados pelas faixas de pedestre, onde permanecem até às 14h. Antes, precisam recorrer a banheiros de estacionamentos e de shoppings para se arrumar. Espaços muitas vezes minúsculos. Nada que atrapalhe um bom mímico. Os mais tradicionais quase sempre recorrerem ao truque do aprisionamento na pequena caixa de vidro imaginária.

O gorro natalino, o “uniforme de trabalho” e a baixa estatura de quase todos os integrantes do projeto os tornam, aos olhares mais distraídos, facilmente confundíveis com duendes em meio aos arranjos de Natal da avenida. Eles não fazem parte da decoração. Não intencionalmente. Mas a época do ano torna o trabalho mais popular. “Ficamos mais visíveis, é como se virássemos um enfeite de Natal”, brinca Fernanda Gave, estudante de teatro de 21 anos.

Na Avenida Paulista, os passantes estão acostumados a constantes (e muitas vezes estranhas) intervenções artísticas ou publicitárias. O que colabora, em parte para o trabalho dos mímicos. “Aqui conseguimos até entreter mais as pessoas. Em outros locais, viramos quase orientadores, porque o trânsito é muito caótico”, conta Filho.

O exemplo de usar a imagem de palhaços para auxiliar na conscientização sobre os perigos do trânsito não é inédito. Em 1995, quando foi eleito pela primeira vez prefeito de Bogotá, na Colômbia, Antanas Mockus colocou palhaços no lugar de guardas de trânsito para repreender motoristas. Eram policiais “caracterizados” que ficavam localizados em postos e cruzamentos perigosos. Usavam o bom humor para alertar, e também multar, os infratores. Deu certo, os índices de acidentes diminuíram.

Por aqui, o objetivo é outro: conscientizar os pedestres pela arte. Para isso, as mímicas passam orientações básicas, como a atenção ao sinal de pedestres. O foco são os passantes, mas também há tempo para dicas e conselhos aos motoristas de carros e motocicletas, explica Filho. “Já tem motoqueiro que para no semáforo perto da gente e abaixa a viseira sozinho.”

Na rua, os artistas sabem que tudo pode acontecer. E a recepção nem sempre é das melhores. “Alguns moradores de rua gritam com a gente. Agora há pouco, tive que fugir de um deles”, conta Gave, aos risos. Os mais bem vestidos também podem ser rudes. “Até pedestre de terno e gravata xinga, fala mal”, ironiza Filho. No final do dia, porém, o balanço é positivo. Os cumprimentos e agrados de crianças, mães e pedestres chegam em maior número.

Difícil mesmo é suportar o calor de São Paulo, amplificado pelos reflexos do sol nas fachadas de vidro dos arranha-céus. O protetor solar torna-se item indispensável, assim como as sombrinhas e o rodízio entre os palhaços. Fora das paredes de um teatro, a atuação também ganha interação com o “público”. “As pessoas brincam bastante, ou param do lado só olhando. Teve até um menino que vende adesivos, que ficou ajudando”, diz Fernanda. Ainda assim, dependendo do lugar, a ação causa estranheza. “O que um palhaço está fazendo aqui, me ensinado a atravessar a rua? Não preciso disso”, imita Gave.

Para conquistar a atenção das milhares de pessoas que passam pela Avenida Paulista, no centro de São Paulo, eles escolheram o silêncio. Uma aparente contradição para um local onde reinam as buzinas, o barulho intenso e a gritaria quase diária de manifestantes de diversas causas. Com suas camisas listradas, suspensórios e rosto pintado de branco, os palhaços mímicos misturam-se ao trânsito e surpreendem pedestres desatentos com gestos caricatos e caretas a indicar como atravessar as ruas de maneira segura.

“São Paulo já tem muito barulho, muita gente falando, multando, buzinando. O silêncio das mímicas ajuda bastante”, conta Milton Filho, um ator de 32 anos. O bracelete da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) preso à sua roupa indica que ele integra um projeto da empresa, comandado pelo Instituto Brasileiro de Arte, Cultura e Educação (Ibace). A ação coloca nas ruas do centro da maior cidade da América Latina mímicos para conscientizar pedestres, e também motoristas, sobre a segurança no trânsito. “A mímica é uma comunicação quase universal. Você consegue passar a mensagem desejada a quem quer que seja, sem precisar fazer barulho, falar ou apitar.”

Uma maneira leve de lidar com um assunto sério em São Paulo. Segundo a própria CET, 617 pedestres morreram em decorrência de acidentes de trânsito na cidade no último ano, uma pequena queda em relação a 2010. Mas, ao incluir casos envolvendo motoristas de carro e motociclistas, o número de mortes sobe para 1.365, uma alta de 0,6%. Em Nova York, por exemplo, esse índice ficou em 291.

 

O projeto da CET está nas ruas de São Paulo desde agosto, onde deve permanecer por um ano. Em sua segunda temporada na capital paulista, o foco são os pontos críticos do centro, nos quais o trânsito é mais caótico. Por isso, os atores já mostraram sua arte em diversos pontos, desde a região da Faria Lima, o metrô Clínicas, Largo São Francisco, ao distante bairro de São Miguel Paulista, na Zona Leste.

O grupo de 16 mímicos chega à Avenida Paulista, e arredores, por volta das 7h da manhã. Maquiam-se e poucos minutos depois estão espalhados pelas faixas de pedestre, onde permanecem até às 14h. Antes, precisam recorrer a banheiros de estacionamentos e de shoppings para se arrumar. Espaços muitas vezes minúsculos. Nada que atrapalhe um bom mímico. Os mais tradicionais quase sempre recorrerem ao truque do aprisionamento na pequena caixa de vidro imaginária.

O gorro natalino, o “uniforme de trabalho” e a baixa estatura de quase todos os integrantes do projeto os tornam, aos olhares mais distraídos, facilmente confundíveis com duendes em meio aos arranjos de Natal da avenida. Eles não fazem parte da decoração. Não intencionalmente. Mas a época do ano torna o trabalho mais popular. “Ficamos mais visíveis, é como se virássemos um enfeite de Natal”, brinca Fernanda Gave, estudante de teatro de 21 anos.

Na Avenida Paulista, os passantes estão acostumados a constantes (e muitas vezes estranhas) intervenções artísticas ou publicitárias. O que colabora, em parte para o trabalho dos mímicos. “Aqui conseguimos até entreter mais as pessoas. Em outros locais, viramos quase orientadores, porque o trânsito é muito caótico”, conta Filho.

O exemplo de usar a imagem de palhaços para auxiliar na conscientização sobre os perigos do trânsito não é inédito. Em 1995, quando foi eleito pela primeira vez prefeito de Bogotá, na Colômbia, Antanas Mockus colocou palhaços no lugar de guardas de trânsito para repreender motoristas. Eram policiais “caracterizados” que ficavam localizados em postos e cruzamentos perigosos. Usavam o bom humor para alertar, e também multar, os infratores. Deu certo, os índices de acidentes diminuíram.

Por aqui, o objetivo é outro: conscientizar os pedestres pela arte. Para isso, as mímicas passam orientações básicas, como a atenção ao sinal de pedestres. O foco são os passantes, mas também há tempo para dicas e conselhos aos motoristas de carros e motocicletas, explica Filho. “Já tem motoqueiro que para no semáforo perto da gente e abaixa a viseira sozinho.”

Na rua, os artistas sabem que tudo pode acontecer. E a recepção nem sempre é das melhores. “Alguns moradores de rua gritam com a gente. Agora há pouco, tive que fugir de um deles”, conta Gave, aos risos. Os mais bem vestidos também podem ser rudes. “Até pedestre de terno e gravata xinga, fala mal”, ironiza Filho. No final do dia, porém, o balanço é positivo. Os cumprimentos e agrados de crianças, mães e pedestres chegam em maior número.

Difícil mesmo é suportar o calor de São Paulo, amplificado pelos reflexos do sol nas fachadas de vidro dos arranha-céus. O protetor solar torna-se item indispensável, assim como as sombrinhas e o rodízio entre os palhaços. Fora das paredes de um teatro, a atuação também ganha interação com o “público”. “As pessoas brincam bastante, ou param do lado só olhando. Teve até um menino que vende adesivos, que ficou ajudando”, diz Fernanda. Ainda assim, dependendo do lugar, a ação causa estranheza. “O que um palhaço está fazendo aqui, me ensinado a atravessar a rua? Não preciso disso”, imita Gave.

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