Sociedade

Ando pasmo

Por que ficar pasmo com o salário de 160 mil reais do sr. Marin? Os relevantes serviços prestados à nação valem até muito mais

O presidente da Confederação Brasileira do Futebol (CFB), José Maria Marin. Foto: Agência Brasil
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Ando pasmo, mas vivo contente. Sem querer plagiar o título do Jorge Amado, Deus, quando distribuiu a humanidade sobre o planeta Terra, resolveu que ali, naquele território triangular que se deslocou da costa ocidental da África, ali colocaria o povo mais feliz do planeta para que fosse o País do Carnaval. O Jorge Amado sabia do que estava falando.

Vivo contente, mas ando pasmo. Vivo contente porque a televisão nos ordena todos os dias que sejamos felizes. Então, apesar das pequenas diferenças entre contente e feliz, prefiro viver contente. Como a imensa maioria do povo que habita este triângulo.

Aqui as coisas acontecem, alguns chiam, outros dizem, Ah, mas isso sempre foi assim. Coisas, muitas coisas, e de pasmar. As coisas acontecem e com as coisas não acontece nada. Deu pra entender?

Pois este povo contente acaba de ver o sr. Marin (mas de onde surgiu essa peça?), convencido de que não terá muito tempo para amealhar fortuna, que é seu dever deixar para os herdeiros, e por isso, por essa falta de tempo (vamos dizer “útil”, completando o chavão?) resolveu estipular seus próprios honorários um pouco acima daqueles cirrus que em dia de céu claro a gente pode ver.

Mas por que ficar pasmo com o salário de 160 mil reais por mês do sr. Marin? Pensando bem, os relevantes serviços (mais chavão) prestados à nação brasileira valem até muito mais. Ele, o sr. Marin, tem um expediente árduo, para dizer pouco, tedioso, em que o esforço intelectual exigido ultrapassa qualquer cérebro… bem, digamos, de um Einstein, por exemplo. E graças a esse esforço, seremos campeões de futebol nas Olimpíadas da Inglaterra, se não me engano, além de hexacampões da Copa do Mundo, aqui no Brasil, com toda certeza.

Muitas pessoas, e eu conheço algumas, como meu amigo Adamastor, ficarão indignadas. Mas o caso do Adamastor é crônico. Além de não ser brasileiro, eis que nasceu no Cabo das Tormentas, depois da Boa Esperança, segundo Camões, além disso ele é um ressentido, pois não lhe coube a honra de levar Tétis para a cama, como pretendia. Ora, mas indignação é coisa do passado. As ideologias acabaram, não acabaram? Vivemos num mundo em que não cabem mais sentimentos baixos, como inveja, indignação

E você, meu leitor, que só me lê para me acusar dos piores palavrões que conheço, deve estar feliz por saber que a família do sr. Marin vai ficar em boa situação financeira quando ele faltar, e se não está feliz, ah, meu caro, que triste nutrir sentimentos baixos como indignação e inveja!

Em fevereiro tem mais carnaval, a gente esquece tudo, veste uma fantasia e mostra ao mundo como vive um povo feliz. Contente mas pasmo, ou pasmo mas contente?

Ando pasmo, mas vivo contente. Sem querer plagiar o título do Jorge Amado, Deus, quando distribuiu a humanidade sobre o planeta Terra, resolveu que ali, naquele território triangular que se deslocou da costa ocidental da África, ali colocaria o povo mais feliz do planeta para que fosse o País do Carnaval. O Jorge Amado sabia do que estava falando.

Vivo contente, mas ando pasmo. Vivo contente porque a televisão nos ordena todos os dias que sejamos felizes. Então, apesar das pequenas diferenças entre contente e feliz, prefiro viver contente. Como a imensa maioria do povo que habita este triângulo.

Aqui as coisas acontecem, alguns chiam, outros dizem, Ah, mas isso sempre foi assim. Coisas, muitas coisas, e de pasmar. As coisas acontecem e com as coisas não acontece nada. Deu pra entender?

Pois este povo contente acaba de ver o sr. Marin (mas de onde surgiu essa peça?), convencido de que não terá muito tempo para amealhar fortuna, que é seu dever deixar para os herdeiros, e por isso, por essa falta de tempo (vamos dizer “útil”, completando o chavão?) resolveu estipular seus próprios honorários um pouco acima daqueles cirrus que em dia de céu claro a gente pode ver.

Mas por que ficar pasmo com o salário de 160 mil reais por mês do sr. Marin? Pensando bem, os relevantes serviços (mais chavão) prestados à nação brasileira valem até muito mais. Ele, o sr. Marin, tem um expediente árduo, para dizer pouco, tedioso, em que o esforço intelectual exigido ultrapassa qualquer cérebro… bem, digamos, de um Einstein, por exemplo. E graças a esse esforço, seremos campeões de futebol nas Olimpíadas da Inglaterra, se não me engano, além de hexacampões da Copa do Mundo, aqui no Brasil, com toda certeza.

Muitas pessoas, e eu conheço algumas, como meu amigo Adamastor, ficarão indignadas. Mas o caso do Adamastor é crônico. Além de não ser brasileiro, eis que nasceu no Cabo das Tormentas, depois da Boa Esperança, segundo Camões, além disso ele é um ressentido, pois não lhe coube a honra de levar Tétis para a cama, como pretendia. Ora, mas indignação é coisa do passado. As ideologias acabaram, não acabaram? Vivemos num mundo em que não cabem mais sentimentos baixos, como inveja, indignação

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