Saúde

Uma China envelhecida

A urbanização rápida e a queda das taxas de fertilidade e mortalidade fizeram a economia crescer, mas exigem adaptações

Motor da economia, a abundante mão de obra tende a escassear com o envelhecimento da população chinesa
Apoie Siga-nos no

Por Drauzio Varella*

 

Na coluna anterior mostramos os principais indicadores demográficos da Índia. Hoje falaremos sobre a China, outro gigante asiático. A demografia chinesa do século XX foi marcada pelo crescimento populacional: havia 600 milhões de habitantes em 1954; agora há 1,33 bilhão. É o país mais populoso do mundo.

A taxa de mortalidade ao redor de 25 óbitos para cada 1.000 habitantes no início dos anos 1950, enquanto o país era um dos mais pobres do mundo, flutuou no período de 1959 a 1961, em virtude da epidemia de fome que tirou a vida de 20 milhões de chineses e retardou o nascimento de outros 20 milhões. Hoje a mortalidade não passa de 7 por 1.000. Em 1950, para cada 1.000 crianças nascidas, 203 morriam antes de completar 5 anos; atualmente morrem 14, uma das reduções de mortalidade mais espetaculares da história.

 

Ao mesmo tempo, a expectativa de vida ao nascer, que era de 40 anos, quase duplicou: 73 anos. A taxa de fertilidade de 5,8 filhos por mulher, em 1970, diminuiu para 2,8, em 1979, e para 1,5, nos dias atuais, valor abaixo da taxa de reposição (2,1). A queda obedeceu a políticas -governamentais e  à implementação de programas coercitivos de planejamento familiar, como a do “filho único”, adotada com mais rigor nas áreas urbanas no fim dos anos 1970.

A China jamais colocou em prática uma política rígida de “filho único”, uma vez que na zona rural a maioria das famílias pode ter até duas crianças. Como consequência do abortamento seletivo, na faixa de 0 a 6 anos há clara desproporção de gênero: 100 meninas para cada 118 meninos.

O país viveu a maior migração do campo para a cidade já descrita. Apenas 20% moravam nas cidades em 1970. Entre 2000 e 2010 as reformas econômicas levaram anualmente para a vida urbana 15 milhões de chineses, o que cria a necessidade de 20 milhões de novos empregos por ano.

A urbanização prosseguirá em ritmo incomparável: em 2030 cerca de 1 bilhão de chineses viverá em área urbana; haverá 219 cidades com mais de 1 milhão de habitantes e 24 com mais de 5 milhões. As previsões mostram que o pico numérico de 1,45 a 1,5 bilhão de habitantes será atingido entre 2025 e 2030, para depois diminuir gradativamente.

O envelhecimento da população criará desafios para a economia. A proporção atual de 10% de habitantes com mais de 65 anos alcançará 20% em 2025. Apesar desse aumento, o número daqueles entre 15 e 64 anos, portanto em idade de trabalhar, ainda será enorme: 980 milhões a 1 bilhão por volta de 2020.

A China está completando a transição demográfica em tempo mais curto do que a maioria dos países. A queda contínua da fertilidade e da mortalidade e a urbanização rápida trouxeram desenvolvimento econômico, mas exigirão adaptação à nova realidade. O excesso de mão de obra responsável por 26% do crescimento econômico no período de 1965 a 2005 não estará disponível nos mesmos níveis.

Em artigo publicado na revista Science, Shizhe Peng, professor da Fudan University, de Xangai, diz que as mudanças demográficas farão a China “transformar-se numa economia emergente dinâmica, porém normal”. A resposta à redução da oferta de mão de obra exigirá aumento da produtividade por meio de investimentos em educação, área em que os chineses conseguiram muitos avanços nas últimas décadas.

O analfabetismo na população acima dos 15 anos caiu de 6,7%, em 2000, para 4,0%, em 2010. Estudam em universidades 120 milhões de chineses, dos quais 29 milhões estão na pós-graduação.

Embora em valores numéricos esse seja o maior sistema educacional do mundo, a China investe apenas 3,6% do PIB em educação, parcela menor do que muitos países em desenvolvimento. Segundo os especialistas, o declínio do número de habitantes é desejável, mas se continuar rápido como está poderá mostrar-se catastrófico. Se a fertilidade aumentar de 1,5 para 1,8 haverá tempo para que as mudanças socioeconômicas e o envelhecimento populacional sejam equacionados

Por Drauzio Varella*

 

Na coluna anterior mostramos os principais indicadores demográficos da Índia. Hoje falaremos sobre a China, outro gigante asiático. A demografia chinesa do século XX foi marcada pelo crescimento populacional: havia 600 milhões de habitantes em 1954; agora há 1,33 bilhão. É o país mais populoso do mundo.

A taxa de mortalidade ao redor de 25 óbitos para cada 1.000 habitantes no início dos anos 1950, enquanto o país era um dos mais pobres do mundo, flutuou no período de 1959 a 1961, em virtude da epidemia de fome que tirou a vida de 20 milhões de chineses e retardou o nascimento de outros 20 milhões. Hoje a mortalidade não passa de 7 por 1.000. Em 1950, para cada 1.000 crianças nascidas, 203 morriam antes de completar 5 anos; atualmente morrem 14, uma das reduções de mortalidade mais espetaculares da história.

 

Ao mesmo tempo, a expectativa de vida ao nascer, que era de 40 anos, quase duplicou: 73 anos. A taxa de fertilidade de 5,8 filhos por mulher, em 1970, diminuiu para 2,8, em 1979, e para 1,5, nos dias atuais, valor abaixo da taxa de reposição (2,1). A queda obedeceu a políticas -governamentais e  à implementação de programas coercitivos de planejamento familiar, como a do “filho único”, adotada com mais rigor nas áreas urbanas no fim dos anos 1970.

A China jamais colocou em prática uma política rígida de “filho único”, uma vez que na zona rural a maioria das famílias pode ter até duas crianças. Como consequência do abortamento seletivo, na faixa de 0 a 6 anos há clara desproporção de gênero: 100 meninas para cada 118 meninos.

O país viveu a maior migração do campo para a cidade já descrita. Apenas 20% moravam nas cidades em 1970. Entre 2000 e 2010 as reformas econômicas levaram anualmente para a vida urbana 15 milhões de chineses, o que cria a necessidade de 20 milhões de novos empregos por ano.

A urbanização prosseguirá em ritmo incomparável: em 2030 cerca de 1 bilhão de chineses viverá em área urbana; haverá 219 cidades com mais de 1 milhão de habitantes e 24 com mais de 5 milhões. As previsões mostram que o pico numérico de 1,45 a 1,5 bilhão de habitantes será atingido entre 2025 e 2030, para depois diminuir gradativamente.

O envelhecimento da população criará desafios para a economia. A proporção atual de 10% de habitantes com mais de 65 anos alcançará 20% em 2025. Apesar desse aumento, o número daqueles entre 15 e 64 anos, portanto em idade de trabalhar, ainda será enorme: 980 milhões a 1 bilhão por volta de 2020.

A China está completando a transição demográfica em tempo mais curto do que a maioria dos países. A queda contínua da fertilidade e da mortalidade e a urbanização rápida trouxeram desenvolvimento econômico, mas exigirão adaptação à nova realidade. O excesso de mão de obra responsável por 26% do crescimento econômico no período de 1965 a 2005 não estará disponível nos mesmos níveis.

Em artigo publicado na revista Science, Shizhe Peng, professor da Fudan University, de Xangai, diz que as mudanças demográficas farão a China “transformar-se numa economia emergente dinâmica, porém normal”. A resposta à redução da oferta de mão de obra exigirá aumento da produtividade por meio de investimentos em educação, área em que os chineses conseguiram muitos avanços nas últimas décadas.

O analfabetismo na população acima dos 15 anos caiu de 6,7%, em 2000, para 4,0%, em 2010. Estudam em universidades 120 milhões de chineses, dos quais 29 milhões estão na pós-graduação.

Embora em valores numéricos esse seja o maior sistema educacional do mundo, a China investe apenas 3,6% do PIB em educação, parcela menor do que muitos países em desenvolvimento. Segundo os especialistas, o declínio do número de habitantes é desejável, mas se continuar rápido como está poderá mostrar-se catastrófico. Se a fertilidade aumentar de 1,5 para 1,8 haverá tempo para que as mudanças socioeconômicas e o envelhecimento populacional sejam equacionados

ENTENDA MAIS SOBRE: , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo