Economia

Entre dois mundos

Os EUA e a Zona do Euro estão em uma corrida para ver quem desvaloriza mais a sua moeda

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O governo não deve desprezar a oportunidade de fazer mudanças importantes na política monetária e na questão do crédito neste momento em que há uma tendência de redução das taxas de juro e aumenta a competitividade no setor bancário. É fundamental estimular a competição entre os bancos, privados ou públicos, inclusive usando o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal para ajudar a baixar os juros.

Não há nada de errado em estimular o Banco do Brasil ou a Caixa Econômica a participarem ativamente deste processo competitivo. O Banco do Brasil está hoje bastante preparado, teve sua área de operações ampliada graças à absorção dos 6 mil postos da rede postal e a CEF participa com as agências lotéricas da ampliação da oferta do pequeno crédito. Está na hora do BB, principalmente, apresentar a sua nova musculatura. E mostrar que serão úteis seus ganhos de dimensão para ajudar substancialmente a redução dos custos. É importante, nessa política, a garantia do governo de que esses bancos não vão usar dinheiro do Tesouro para a expansão dos financiamentos. Mais do que isso, não vão violar as normas de Basileia, porque continuarão sujeitos aos controles do Banco Central.

Evidentemente os bancos privados não ficarão de braços cruzados assistindo o “Bancão” avançar sobre seus melhores clientes e certamente devem usar medidas defensivas. É totalmente impossível, entretanto, continuar com o nível de taxa de juros que temos hoje, com a economia brasileira prisioneira desse processo corrosivo há mais de 20 anos!

O governo Dilma, com toda a evidência, resolveu pôr os olhos sobre essa situação absurda. E a própria Federação dos Bancos, a Febraban, está conduzindo análises cuidadosas sobre a questão do spread. Como considerar normal uma situação em que os juros caem, mas as pessoas ainda pagam taxas de 7% ao mês nos empréstimos?

Há muita coisa errada nisso e chegou a hora de mudar. Explica-se o nível do “spread bancário” pelo peso da carga tributária, pelo compulsório elevado e pelos custos previdenciários. Além disso, alega-se que há uma “gigantesca inadimplência”, como se o Brasil fosse um país que não paga ou atrasa sempre suas contas e, também, porque é preciso compreender os lucros efetivos dos bancos. Cada um desses fatores tem um efeito isolado, mas a soma deles todos resulta na formação de um custo de crédito que não maltrata apenas a pessoa física, mas que produz uma importante retração nos investimentos produtivos privados.

Aqui chegamos à questão fundamental de como enfrentar o problema da retomada do crescimento econômico, com uma taxa de juros que obviamente não estimula investimentos na produção e cujo nível é o maior fator de atração do investimento especulativo que ajuda na formação de uma taxa de câmbio que produz dois efeitos letais. De um lado, a invasão de importados numa competição desleal aos produtos da indústria nacional no mercado interno, desarticulando a própria cadeia produtiva. De outro, o aniquilamento de alguns setores de nossa indústria de transformação, quase sempre aqueles mais sofisticados e com o foco nas exportações.

Esse processo aprofundou-se extraordinariamente desde a eclosão da chamada “guerra cambial” na qual fomos envolvidos, com os Estados Unidos e a Eurolândia competindo para ver quem desvaloriza mais, se o dólar ou o euro. O Federal Reserve de Bernanke quer colocar o euro em 1,35 dólar, enquanto o Banco Central Europeu de Mario Draghi deseja o euro em 1,15 dólar. Na “guerra de dois mundos”, a China acoplou-se montada no dólar americano, usufruindo das melhores condições de negócio, sem tomar conhecimento das normas de convivência que (no passado) se acreditava civilizadas no comércio internacional.

Os prejuízos que o Brasil sofre são profundos e dramáticos em razão da supervalorização do real face àquelas moe-das e da imensa desvalorização da moeda chinesa. Esta última, além da devastação que promove por causa da competição em nosso mercado interno, produziu o deslocamento de produtos brasileiros que eram importados pelos Estados Unidos ou por diversos países europeus e até mesmo por nossos vizinhos do Mercosul.

Não foi à toa que o PIB brasileiro cresceu apenas 2,7% em 2011. A causa foi o afundamento de nossa indústria, que cresceu apenas 0,1%. A destruição que está acontecendo na cadeia produtiva de nossa indústria de transformação é o principal fator responsável pela redução do crescimento de 1% do PIB brasileiro no ano passado.

O governo não deve desprezar a oportunidade de fazer mudanças importantes na política monetária e na questão do crédito neste momento em que há uma tendência de redução das taxas de juro e aumenta a competitividade no setor bancário. É fundamental estimular a competição entre os bancos, privados ou públicos, inclusive usando o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal para ajudar a baixar os juros.

Não há nada de errado em estimular o Banco do Brasil ou a Caixa Econômica a participarem ativamente deste processo competitivo. O Banco do Brasil está hoje bastante preparado, teve sua área de operações ampliada graças à absorção dos 6 mil postos da rede postal e a CEF participa com as agências lotéricas da ampliação da oferta do pequeno crédito. Está na hora do BB, principalmente, apresentar a sua nova musculatura. E mostrar que serão úteis seus ganhos de dimensão para ajudar substancialmente a redução dos custos. É importante, nessa política, a garantia do governo de que esses bancos não vão usar dinheiro do Tesouro para a expansão dos financiamentos. Mais do que isso, não vão violar as normas de Basileia, porque continuarão sujeitos aos controles do Banco Central.

Evidentemente os bancos privados não ficarão de braços cruzados assistindo o “Bancão” avançar sobre seus melhores clientes e certamente devem usar medidas defensivas. É totalmente impossível, entretanto, continuar com o nível de taxa de juros que temos hoje, com a economia brasileira prisioneira desse processo corrosivo há mais de 20 anos!

O governo Dilma, com toda a evidência, resolveu pôr os olhos sobre essa situação absurda. E a própria Federação dos Bancos, a Febraban, está conduzindo análises cuidadosas sobre a questão do spread. Como considerar normal uma situação em que os juros caem, mas as pessoas ainda pagam taxas de 7% ao mês nos empréstimos?

Há muita coisa errada nisso e chegou a hora de mudar. Explica-se o nível do “spread bancário” pelo peso da carga tributária, pelo compulsório elevado e pelos custos previdenciários. Além disso, alega-se que há uma “gigantesca inadimplência”, como se o Brasil fosse um país que não paga ou atrasa sempre suas contas e, também, porque é preciso compreender os lucros efetivos dos bancos. Cada um desses fatores tem um efeito isolado, mas a soma deles todos resulta na formação de um custo de crédito que não maltrata apenas a pessoa física, mas que produz uma importante retração nos investimentos produtivos privados.

Aqui chegamos à questão fundamental de como enfrentar o problema da retomada do crescimento econômico, com uma taxa de juros que obviamente não estimula investimentos na produção e cujo nível é o maior fator de atração do investimento especulativo que ajuda na formação de uma taxa de câmbio que produz dois efeitos letais. De um lado, a invasão de importados numa competição desleal aos produtos da indústria nacional no mercado interno, desarticulando a própria cadeia produtiva. De outro, o aniquilamento de alguns setores de nossa indústria de transformação, quase sempre aqueles mais sofisticados e com o foco nas exportações.

Esse processo aprofundou-se extraordinariamente desde a eclosão da chamada “guerra cambial” na qual fomos envolvidos, com os Estados Unidos e a Eurolândia competindo para ver quem desvaloriza mais, se o dólar ou o euro. O Federal Reserve de Bernanke quer colocar o euro em 1,35 dólar, enquanto o Banco Central Europeu de Mario Draghi deseja o euro em 1,15 dólar. Na “guerra de dois mundos”, a China acoplou-se montada no dólar americano, usufruindo das melhores condições de negócio, sem tomar conhecimento das normas de convivência que (no passado) se acreditava civilizadas no comércio internacional.

Os prejuízos que o Brasil sofre são profundos e dramáticos em razão da supervalorização do real face àquelas moe-das e da imensa desvalorização da moeda chinesa. Esta última, além da devastação que promove por causa da competição em nosso mercado interno, produziu o deslocamento de produtos brasileiros que eram importados pelos Estados Unidos ou por diversos países europeus e até mesmo por nossos vizinhos do Mercosul.

Não foi à toa que o PIB brasileiro cresceu apenas 2,7% em 2011. A causa foi o afundamento de nossa indústria, que cresceu apenas 0,1%. A destruição que está acontecendo na cadeia produtiva de nossa indústria de transformação é o principal fator responsável pela redução do crescimento de 1% do PIB brasileiro no ano passado.

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