Política

Fernando Haddad: candidato em construção

Consultor técnico da campanha do ex-ministro conta qual será a estratégia para impulsionar candidatura

CConsultor técnico da campanha do petista à prefeitura de São Paulo comenta quais serão as principais estratégias do ex-ministro para ganhar o eleitorado paulistano . Foto: Elza Fiúza/Abr
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Com apenas 3% das intenções de voto, o pré-candidato do PT Fernando Haddad ainda tem um longo trajeto até o início oficial das eleições para prefeito de São Paulo.

Na última pesquisa de intenção de voto, José Serra (PSDB) saiu na frente, com 30%. Os demais candidatos, boa parte deles de partidos aliados do governo federal, dividem os votos dos eleitores da esquerda.

Mas, segundo o analista e consultor técnico da campanha de Fernando Haddad, Aldo Fornazieri, coordenador do curso de pós-graduação em política e relações internacionais da Escola de Sociologia e Política de São Paulo,  Haddad pode ser beneficiado justamente por ser pouco conhecido do eleitorado. Em sua primeira disputa, ele será a imagem da novidade na campanha, aposta o professor.

“Chalita e Haddad são os candidatos com mais chances. As altas taxas de rejeição de Kassab mostram que o paulistano quer uma mudança no status quo do governo”, disse ele, em entrevista a CartaCapital.

Ainda desconhecido pela maior parte da população (59%), Haddad terá de construir sua imagem a partir da agora. Pouco se sabe sobre ele: ex-ministro da Educação, esteve à frente das mudanças na fórmula do Enem e possui uma trajetória ligada à vida acadêmica, com publicações sobre o materialimo histórico.

Fornazieri mostra como o político encaminha os aspectos principais de sua candidatura:

Entre intelectuais e a periferia


Haddad tem visitado bairros da cidade duas vezes por semana e se reúne com lideranças comunitárias do local, inclusive na periferia. Ao mesmo tempo, busca apoio dentro da comunidade acadêmica. No sábado 10 de março, o pré-candidato se reuniu com mais de cem intelectuais, ligados às principais universidades de São Paulo, de várias áreas. “Queremos aproximar a universidade da cidade”, afirma o consultor. A campanha deve ter um processo aberto – Haddad ouvirá entidades ligadas à sociedade civil, como a Rede Nossa São Paulo e se reunirá com técnicos para discutir problemas da cidade. Fornazieri conta que o candidato tem dado bastante peso para o programa dentro da pré-campanha. Haddad quer colocar primazia na cidade e tem chamado a população para discutir. “Ele está assumindo compromissos públicos em relação aos quais ele não vai retornar”, comenta Fornazieri.

À espera de Marta

Dentro do partido, não há dúvidas de que a senadora Marta Suplicy (PT) participará da campanha muito intensamente. “Não é hora de ela aparecer. Isso tem que ocorrer em momentos estratégicos”, diz Fornazieri. Quando chegar o momento, Lula, Dilma, Marta e outras figuras fortes, como o senador Eduardo Suplicy auxiliarão na campanha. No À frente da prefeitura de São Paulo entre 2001 e 2004, a senadora possui uma base eleitoral ampla na cidade, sobretudo nas periferias, mas se afastou do processo a pedido de Dilma Rousseff no fim do ano passado, abrindo espaço justamente para Haddad, indicado por Lula. Durante a aproximação do PT com o PSD, que foi frustrada com a entrada de Serra na disputa, Marta sinalizou mais uma vez distanciamento da campanha. Agora, o PT espera seu retorno para a campanha.

Rosto resconhecido


Segundo a última pesquisa do Datafolha, Haddad é desconhecido por 59% da população. Para o analista, o cenário em São Paulo pede caras novas, por conta da rejeição ao atual governante. A figura de Haddad representa uma renovação política. Nesse sentido, segundo ele, o PSDB errou ao lançar Serra. “Não ficarei surpreso se o Gabriel Chalita (PMDB) tiver uma votação expressiva e consiga galvanizar votos que tradicionalmente iriam para o Serra”, afirma. Mesmo assim, Haddad terá de se associar com as figuras fortes do PT (Marta, Lula e Dilma) para lançar a candidatura.

Nacionalização do debate


Desde 1985, nenhum candidato apoiado pelo presidente foi eleito em São Paulo. A estratégia falhou nas duas últimas eleições, quando Lula apoiou Marta, em 1996, e duas vezes durante o governo FHC, quando apoiou Serra e Celso Pitta venceu e em 2000, ano em que Marta venceu a disputa com Geraldo Ackmin. Para Fornazieri, Haddad não tem intenção de nacionalizar a discussão e deve focar o debate nos problemas do município. “Quem está nacionalizando é o Serra”, diz ele. Haddad leva a vantagem de não ter pretensões, ao menos por enquanto, de usar a prefeitura como trampolim político, estratégia já utilizada por Serra. Para 66% dos paulistanos, o ex-governador deve repetir o procedimento caso seja eleito.

A elite paulistana

Desde 2000, quando Marta Suplicy foi eleita, o PT perdeu, sucessivamente, a disputa para a prefeitura para Serra, em 2004 e Kassab, em 2008. Nas últimas eleições presidenciais, Serra recebeu 53,64% dos votos da cidade no segundo turno, ao passo que Dilma ficou com 46,36%. Ao que tudo indica, a principal resistência ao PT parte da classe média paulistana. Haddad deve tentar driblar essa dificuldade utilizando o discurso da mobilidade urbana e da qualidade de vida. “A classe média está descontente. Quantas horas um cidadão passa dentro do carro? Não há uma gestão estratégica para que o trânsito diminua. Não há política de meio-ambiente para que as pessoas possam respirar um ar mais puro”, diz Fornazieri. Segundo ele, meio-ambiente deve ser justamente um dos focos da campanha de Haddad.

A conquista do velho PT


O analista comenta que, durante a reunião com intelectuais na sexta-feira, muitos afirmaram que haviam se afastado do PT por conta do mensalão e do que Fornazirei chamou de política de alianças muito elástica. E completaram que agora, com Haddad, pensam se reaproximar, pois entendem que a figura do candidato possiblita abertura política para a sociedade e uma renovação partidária. O próprio Fornazieri é um exemplo desse processo, pois retorna para o trabalho com o partido depois de ter abandonado a militância em 2005.

Isolamento


Segundo Edinho Silva, o PT corre para buscar alianças com partidos da base aliada de Dilma Rousseff, depois dos planos de parceria com Kassab fracassarem na capital. O partido busca se aproximar do PSB, que em São Paulo é mais ligado ao PSDB, ao PDT, PR e PC do B. A escolha de Marcelo Crivella (PRB) para o Ministério da Pesca pode ser uma pressão para que Celso Russomano (PRB) desista de sua candidatura. Fornazieri comenta que ainda há tempo para essas alianças se firmarem e indica que o PT focará nos partidos da base aliada. “Não se governa no Brasil sem uma política de alianças. Mas ela tem que estar submetida ao programa partidário. Para isso, ele tem que ter pulso firme”, diz o consultor.

Discurso de oposição


Haddad terá como foco questões como qualidade de vida e mobilidade urbana. Fornazieri utilizará, justamente, a falta de planos de meta para o transporte na cidade e de políticas públicas de uma maneira geral como falhas da atual gestão. Também focará na questão das subprefeituras, que quer fortalecer para melhorar as condições de cada bairro e possibilitar que as pessoas possam trabalhar perto de casa. Atualmente, 30 das 31 unidades são comandadas por coronéis da Polícia Militar. “Kassab pegou um poder tipicamente civil e colocou militares. Não é uma forma adequada de administra a cidade. É uma visão autoritária e queremos expressar uma visão participativa e democrática”, afirma.

Educação

Ex-ministro da Educação e responsável por lançar o novo modelo do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o tema será um dos eixos de mais peso na campanha. Fornazieri afirma que Haddad dará ênfase para a infância e juventude e na formação de jovens para entrar no Ensino Médio com mais preparo. “Não há profissionais preparados para dar conta do desenvolvimento que o Brasil está tendo”, diz.

Com apenas 3% das intenções de voto, o pré-candidato do PT Fernando Haddad ainda tem um longo trajeto até o início oficial das eleições para prefeito de São Paulo.

Na última pesquisa de intenção de voto, José Serra (PSDB) saiu na frente, com 30%. Os demais candidatos, boa parte deles de partidos aliados do governo federal, dividem os votos dos eleitores da esquerda.

Mas, segundo o analista e consultor técnico da campanha de Fernando Haddad, Aldo Fornazieri, coordenador do curso de pós-graduação em política e relações internacionais da Escola de Sociologia e Política de São Paulo,  Haddad pode ser beneficiado justamente por ser pouco conhecido do eleitorado. Em sua primeira disputa, ele será a imagem da novidade na campanha, aposta o professor.

“Chalita e Haddad são os candidatos com mais chances. As altas taxas de rejeição de Kassab mostram que o paulistano quer uma mudança no status quo do governo”, disse ele, em entrevista a CartaCapital.

Ainda desconhecido pela maior parte da população (59%), Haddad terá de construir sua imagem a partir da agora. Pouco se sabe sobre ele: ex-ministro da Educação, esteve à frente das mudanças na fórmula do Enem e possui uma trajetória ligada à vida acadêmica, com publicações sobre o materialimo histórico.

Fornazieri mostra como o político encaminha os aspectos principais de sua candidatura:

Entre intelectuais e a periferia


Haddad tem visitado bairros da cidade duas vezes por semana e se reúne com lideranças comunitárias do local, inclusive na periferia. Ao mesmo tempo, busca apoio dentro da comunidade acadêmica. No sábado 10 de março, o pré-candidato se reuniu com mais de cem intelectuais, ligados às principais universidades de São Paulo, de várias áreas. “Queremos aproximar a universidade da cidade”, afirma o consultor. A campanha deve ter um processo aberto – Haddad ouvirá entidades ligadas à sociedade civil, como a Rede Nossa São Paulo e se reunirá com técnicos para discutir problemas da cidade. Fornazieri conta que o candidato tem dado bastante peso para o programa dentro da pré-campanha. Haddad quer colocar primazia na cidade e tem chamado a população para discutir. “Ele está assumindo compromissos públicos em relação aos quais ele não vai retornar”, comenta Fornazieri.

À espera de Marta

Dentro do partido, não há dúvidas de que a senadora Marta Suplicy (PT) participará da campanha muito intensamente. “Não é hora de ela aparecer. Isso tem que ocorrer em momentos estratégicos”, diz Fornazieri. Quando chegar o momento, Lula, Dilma, Marta e outras figuras fortes, como o senador Eduardo Suplicy auxiliarão na campanha. No À frente da prefeitura de São Paulo entre 2001 e 2004, a senadora possui uma base eleitoral ampla na cidade, sobretudo nas periferias, mas se afastou do processo a pedido de Dilma Rousseff no fim do ano passado, abrindo espaço justamente para Haddad, indicado por Lula. Durante a aproximação do PT com o PSD, que foi frustrada com a entrada de Serra na disputa, Marta sinalizou mais uma vez distanciamento da campanha. Agora, o PT espera seu retorno para a campanha.

Rosto resconhecido


Segundo a última pesquisa do Datafolha, Haddad é desconhecido por 59% da população. Para o analista, o cenário em São Paulo pede caras novas, por conta da rejeição ao atual governante. A figura de Haddad representa uma renovação política. Nesse sentido, segundo ele, o PSDB errou ao lançar Serra. “Não ficarei surpreso se o Gabriel Chalita (PMDB) tiver uma votação expressiva e consiga galvanizar votos que tradicionalmente iriam para o Serra”, afirma. Mesmo assim, Haddad terá de se associar com as figuras fortes do PT (Marta, Lula e Dilma) para lançar a candidatura.

Nacionalização do debate


Desde 1985, nenhum candidato apoiado pelo presidente foi eleito em São Paulo. A estratégia falhou nas duas últimas eleições, quando Lula apoiou Marta, em 1996, e duas vezes durante o governo FHC, quando apoiou Serra e Celso Pitta venceu e em 2000, ano em que Marta venceu a disputa com Geraldo Ackmin. Para Fornazieri, Haddad não tem intenção de nacionalizar a discussão e deve focar o debate nos problemas do município. “Quem está nacionalizando é o Serra”, diz ele. Haddad leva a vantagem de não ter pretensões, ao menos por enquanto, de usar a prefeitura como trampolim político, estratégia já utilizada por Serra. Para 66% dos paulistanos, o ex-governador deve repetir o procedimento caso seja eleito.

A elite paulistana

Desde 2000, quando Marta Suplicy foi eleita, o PT perdeu, sucessivamente, a disputa para a prefeitura para Serra, em 2004 e Kassab, em 2008. Nas últimas eleições presidenciais, Serra recebeu 53,64% dos votos da cidade no segundo turno, ao passo que Dilma ficou com 46,36%. Ao que tudo indica, a principal resistência ao PT parte da classe média paulistana. Haddad deve tentar driblar essa dificuldade utilizando o discurso da mobilidade urbana e da qualidade de vida. “A classe média está descontente. Quantas horas um cidadão passa dentro do carro? Não há uma gestão estratégica para que o trânsito diminua. Não há política de meio-ambiente para que as pessoas possam respirar um ar mais puro”, diz Fornazieri. Segundo ele, meio-ambiente deve ser justamente um dos focos da campanha de Haddad.

A conquista do velho PT


O analista comenta que, durante a reunião com intelectuais na sexta-feira, muitos afirmaram que haviam se afastado do PT por conta do mensalão e do que Fornazirei chamou de política de alianças muito elástica. E completaram que agora, com Haddad, pensam se reaproximar, pois entendem que a figura do candidato possiblita abertura política para a sociedade e uma renovação partidária. O próprio Fornazieri é um exemplo desse processo, pois retorna para o trabalho com o partido depois de ter abandonado a militância em 2005.

Isolamento


Segundo Edinho Silva, o PT corre para buscar alianças com partidos da base aliada de Dilma Rousseff, depois dos planos de parceria com Kassab fracassarem na capital. O partido busca se aproximar do PSB, que em São Paulo é mais ligado ao PSDB, ao PDT, PR e PC do B. A escolha de Marcelo Crivella (PRB) para o Ministério da Pesca pode ser uma pressão para que Celso Russomano (PRB) desista de sua candidatura. Fornazieri comenta que ainda há tempo para essas alianças se firmarem e indica que o PT focará nos partidos da base aliada. “Não se governa no Brasil sem uma política de alianças. Mas ela tem que estar submetida ao programa partidário. Para isso, ele tem que ter pulso firme”, diz o consultor.

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Haddad terá como foco questões como qualidade de vida e mobilidade urbana. Fornazieri utilizará, justamente, a falta de planos de meta para o transporte na cidade e de políticas públicas de uma maneira geral como falhas da atual gestão. Também focará na questão das subprefeituras, que quer fortalecer para melhorar as condições de cada bairro e possibilitar que as pessoas possam trabalhar perto de casa. Atualmente, 30 das 31 unidades são comandadas por coronéis da Polícia Militar. “Kassab pegou um poder tipicamente civil e colocou militares. Não é uma forma adequada de administra a cidade. É uma visão autoritária e queremos expressar uma visão participativa e democrática”, afirma.

Educação

Ex-ministro da Educação e responsável por lançar o novo modelo do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o tema será um dos eixos de mais peso na campanha. Fornazieri afirma que Haddad dará ênfase para a infância e juventude e na formação de jovens para entrar no Ensino Médio com mais preparo. “Não há profissionais preparados para dar conta do desenvolvimento que o Brasil está tendo”, diz.

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