Política

De frente ou de perfil?

Na Câmara do Rio, veradores propõem até que vendedores vendam peixes com as fotos dos peixes. Conheça essas e outras propostas em discussão

Cuidado com o cidadão: confira se este é verdadeiramente o peixe que você vai adquirir. Foto: Bacondog/Flickr
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Falar mal de político, sabemos todos, mesmo sendo esporte nacional, não é bom para a democracia. Toda vez que criticamos um comportamento equivocado, prejudicial ou mesmo francamente desonesto e mal intencionado dos nossos legisladores, sem dúvida colocamos mais um tijolo no edifício dos inimigos do sistema que – como disse Winston Churchill num dos seus muitos momentos de inspiração – é o pior, excetuados todos os outros.

Mas que diabo! Os nossos vereadores, deputados e senadores bem poderiam nos ajudar um pouquinho a não fazer carga contra a que deveria ser uma das mais nobres funções do homem social. Infelizmente, não é o que acontece. Abra um jornal, entre num site, frequente qualquer espaço de comunicação e você verá, a cada dia, um discurso, gesto ou ato dolorosamente constrangedor vindo dessa gente ou por ela patrocinado e estimulado.


Mais: estive na Câmara dos Vereadores e, num requinte de minuciosa crueldade, misturado com instinto de perseguição, me dediquei a ler o Diário Oficial. Encontrei ainda mais motivos para me (des) encantar com o que li, com ajuda de amigos que trabalham lá. Mesmo sem esses maus sentimentos acima descritos, dei rápidas olhadas em algumas edições do Diário da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, minha cidade, para conferir.


Ressalvo: encontrei boas iniciativas, claro, mesmo que algumas delas estivessem contaminadas pela falta de lógica, de atendimento à Constituição ou de puro e simples bom senso. Outras eram realmente boas e já tinham sido aprovadas e aguardavam sanção do prefeito ou estavam na fila para isso. Porém, achei poucas – bem poucas, é verdade – mas suficientes para desmantelar as promovidas pelos bem-intencionados. E são essas, infelizmente, pelo ridículo, pela inocuidade, por serem meras bobagens, que vão ganhar as ruas e justificam este artigo.


A lista é infindável, mas há algumas iniciativas particularmente cabeludas. E seus autores precisam ser conhecidos, exatamente para distingui-los daquela minoria de gente dedicada, que leva a sério o voto do cidadão. Dia desses, o vereador Jorge Manaia, do PDT, apresentou projeto determinando que locais de vendas de peixes e demais frutos do mar deveriam exibir suas fotografias (as dos peixes) junto com eles. Não disse se era de frente ou perfil, mas talvez não precisasse.


Um outro, que usa o nome de guerra (e de trabalho) de Carlinhos Mecânico, do PSD, herdeiro da vaga de Stepan Nercessian (eleito deputado federal) e que tem “escritório” com placa e tudo num botequim em frente à Câmara, deu a Medalha Pedro Ernesto, a mais importante honraria concedida pelo Legislativo da cidade, a um clube de motoqueiros batizado com o sugestivo nome de Predador Moto Clube. Combinam-se, portanto, motoqueiros predadores e vereadores idem (do dinheiro público e da imagem do Legislativo).


Já o vereador José Everaldo, do PMN, criou o Dia do Apoio ao Portador de Doenças Raras e o Dia do Banho de Mar a Fantasia na Orla da Ilha do Governador. E seu colega Elton Babu (PT) é autor da lei que reconhece como bem cultural da cidade as Sete Maravilhas de Santa Cruz, na verdade um corredor cultural no bairro da Zona Oeste do Rio.


Enfim, como já mostrei neste site antes, a criatividade dos nobres edis cariocas não tem fim.


É preciso que se diga que tanta asneira concretizada não tem um pai só. O famigerado propõe, mas é preciso que um monte de cúmplices aprove, no mínimo por omissão e/ou graças a uma “técnica” de votação de todas as casas legislativas que consiste em o presidente da Mesa ler a apresentação do projeto e decretar ao microfone: “senhores vereadores que aprovam permaneçam como estão, aprovado!”. Ou seja, muita gente, em geral distraída ou conversando, nem ouve, mas aprova. Mesmo assim, nem se dá ao trabalho de verificar, depois, onde e em quê seu nome foi usado.


Estou mostrando essas pérolas da Câmara do Rio porque moro aqui. Mas a mediocridade e a enganação dos parlamentares é lugar comum em todos os municípios brasileiros.


Como vivo e trabalho no Rio, mostro que é assim que a banda desta Câmara toca, produzindo sons desafinados aos ouvidos de pelo menos uma parte considerável da população.


A outra parte, infelizmente, é aquela que entrega um mandato de quatro anos a gente dessa envergadura. Mas isso é a tal democracia, não?

Falar mal de político, sabemos todos, mesmo sendo esporte nacional, não é bom para a democracia. Toda vez que criticamos um comportamento equivocado, prejudicial ou mesmo francamente desonesto e mal intencionado dos nossos legisladores, sem dúvida colocamos mais um tijolo no edifício dos inimigos do sistema que – como disse Winston Churchill num dos seus muitos momentos de inspiração – é o pior, excetuados todos os outros.

Mas que diabo! Os nossos vereadores, deputados e senadores bem poderiam nos ajudar um pouquinho a não fazer carga contra a que deveria ser uma das mais nobres funções do homem social. Infelizmente, não é o que acontece. Abra um jornal, entre num site, frequente qualquer espaço de comunicação e você verá, a cada dia, um discurso, gesto ou ato dolorosamente constrangedor vindo dessa gente ou por ela patrocinado e estimulado.


Mais: estive na Câmara dos Vereadores e, num requinte de minuciosa crueldade, misturado com instinto de perseguição, me dediquei a ler o Diário Oficial. Encontrei ainda mais motivos para me (des) encantar com o que li, com ajuda de amigos que trabalham lá. Mesmo sem esses maus sentimentos acima descritos, dei rápidas olhadas em algumas edições do Diário da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, minha cidade, para conferir.


Ressalvo: encontrei boas iniciativas, claro, mesmo que algumas delas estivessem contaminadas pela falta de lógica, de atendimento à Constituição ou de puro e simples bom senso. Outras eram realmente boas e já tinham sido aprovadas e aguardavam sanção do prefeito ou estavam na fila para isso. Porém, achei poucas – bem poucas, é verdade – mas suficientes para desmantelar as promovidas pelos bem-intencionados. E são essas, infelizmente, pelo ridículo, pela inocuidade, por serem meras bobagens, que vão ganhar as ruas e justificam este artigo.


A lista é infindável, mas há algumas iniciativas particularmente cabeludas. E seus autores precisam ser conhecidos, exatamente para distingui-los daquela minoria de gente dedicada, que leva a sério o voto do cidadão. Dia desses, o vereador Jorge Manaia, do PDT, apresentou projeto determinando que locais de vendas de peixes e demais frutos do mar deveriam exibir suas fotografias (as dos peixes) junto com eles. Não disse se era de frente ou perfil, mas talvez não precisasse.


Um outro, que usa o nome de guerra (e de trabalho) de Carlinhos Mecânico, do PSD, herdeiro da vaga de Stepan Nercessian (eleito deputado federal) e que tem “escritório” com placa e tudo num botequim em frente à Câmara, deu a Medalha Pedro Ernesto, a mais importante honraria concedida pelo Legislativo da cidade, a um clube de motoqueiros batizado com o sugestivo nome de Predador Moto Clube. Combinam-se, portanto, motoqueiros predadores e vereadores idem (do dinheiro público e da imagem do Legislativo).


Já o vereador José Everaldo, do PMN, criou o Dia do Apoio ao Portador de Doenças Raras e o Dia do Banho de Mar a Fantasia na Orla da Ilha do Governador. E seu colega Elton Babu (PT) é autor da lei que reconhece como bem cultural da cidade as Sete Maravilhas de Santa Cruz, na verdade um corredor cultural no bairro da Zona Oeste do Rio.


Enfim, como já mostrei neste site antes, a criatividade dos nobres edis cariocas não tem fim.


É preciso que se diga que tanta asneira concretizada não tem um pai só. O famigerado propõe, mas é preciso que um monte de cúmplices aprove, no mínimo por omissão e/ou graças a uma “técnica” de votação de todas as casas legislativas que consiste em o presidente da Mesa ler a apresentação do projeto e decretar ao microfone: “senhores vereadores que aprovam permaneçam como estão, aprovado!”. Ou seja, muita gente, em geral distraída ou conversando, nem ouve, mas aprova. Mesmo assim, nem se dá ao trabalho de verificar, depois, onde e em quê seu nome foi usado.


Estou mostrando essas pérolas da Câmara do Rio porque moro aqui. Mas a mediocridade e a enganação dos parlamentares é lugar comum em todos os municípios brasileiros.


Como vivo e trabalho no Rio, mostro que é assim que a banda desta Câmara toca, produzindo sons desafinados aos ouvidos de pelo menos uma parte considerável da população.


A outra parte, infelizmente, é aquela que entrega um mandato de quatro anos a gente dessa envergadura. Mas isso é a tal democracia, não?

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