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Onde estão os democratas do Egito?

O país vive a maior crise política desde o fim da ditadura Mubarak e seus líderes, no governo e na oposição, não dão chance ao diálogo

Morsi durante discurso na noite desta quinta-feira 6. Seu breve aceno para o diálogo foi considerado insuficiente pela oposição. Foto: AFP
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Em meio à mais grave crise política de seus cinco meses como presidente do Egito, Mohamed Morsi fez nesta quinta-feira 5 um esperado discurso em rede nacional. Depois de um dia no qual a entre seus apoiadores islamitas e a oposição secular e liberal deixou seis mortos e mais de 700 feridos, esperava-se de Morsi um discurso conciliador, que pudesse estabilizar o Egito. O que se viu não chegou perto disso. Morsi convidou a oposição para um diálogo no próximo sábado, mas se recusou a aceitar as duas exigências feitas por seus adversários: adiar o referendo constitucional convocado para o próximo dia 15 e revogar o decreto constitucional pelo qual se concedeu superpoderes.

O discurso de Morsi lembrou muito a fase aguda das manifestações que derrubaram o ditador Hosni Mubarak, em janeiro e fevereiro de 2011. O teor de sua fala estava cercada de mistério e ele demorou horas para aparecer na televisão. Quando surgiu na tevê, Morsi atribuiu a violência a agentes estrangeiros e a egípcios da “quinta coluna”, disse que o governo iria encontrar as pessoas que estão financiando a violência e que muitos desses estavam ligados à oposição. Exatamente como fazia Mubarak. Pior, Morsi recusou a reconhecer o que vídeos e relatos mostraram: partidários da Irmandade Muçulmana, grupo religioso que o apoia firmemente, também participaram da violência. Ao tentar defender sua legitimidade, Morsi mostrou uma característica autoritária. “A minoria deve ouvir à maioria. Não é assim que funciona a democracia?”, questionou.

As boas notícias do discurso de Morsi vieram na segunda parte de sua fala. O presidente egípcio disse que aceita a oposição de quem se manifesta de forma pacífica e confirmou que o polêmico decreto constitucional emitido no fim de novembro perderá a validade após o referendo do dia 15, mesmo em caso de a Constituição ser rejeitada pela população. Por fim, Morsi convocou a oposição para um diálogo no próximo sábado 8.

O pequeno aceno feito por Morsi caiu em ouvidos moucos. Pouco depois de seu discurso, a Frente de Salvação Nacional, órgão criado recentemente para congregar setores seculares, liberais e esquerdistas, rejeitou o diálogo. “O povo percebeu um evidente abandono do dever de proteger indivíduos e bens públicos por parte das autoridades, que perderam sua legitimidade”, diz um comunicado da frente. “O presidente está ignorando as tentativas da frente para salvar a nação e está ignorando as demandas do povo e seus protestos, fechando as portas para qualquer esforço de diálogo”, afirma o grupo. O líder da frente é Mohamed El-Baradei, ex-chefe da Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA), vencedor do Nobel da Paz. Seus principais apoiadores são Hamdeen Sabbahi, esquerdista terceiro colocado nas eleições presidenciais, e Amr Moussa, ex-secretário-geral da Liga Árabe.

Ainda antes de a Frente de Salvação Nacional rejeitar formalmente o diálogo, manifestantes atacavam os escritórios da Irmandade Muçulmana em diversas cidades, entre elas o Cairo, o que já havia ocorrido em outros dias de violência recente. Segundo um levantamento da própria Irmandade Muçulmana, 36 escritórios de sua propriedade no país foram atacados nos últimos dias.

A sociedade egípcia está fraturada e, em grande medida, a principal linha de divisão é a religião. De um lado está a Irmandade Muçulmana, com seus aliados salafitas, ainda mais fundamentalistas que ela própria. A Irmandade tem o presidente do Egito, eleito democraticamente, é verdade, mas que dá sinais de autoritarismo crescente. Do outro lado está a oposição secular, intransigente e, cada dia mais adotando um discurso golpista. Entre eles estão os 85 milhões de egípcios que, como sempre, não passam de massa de manobra e bucha de canhão para seus líderes. O caminho do Egito é difícil. O país passa por uma transição em busca de democracia, mas há pouquíssimos democratas à disposição.

Em meio à mais grave crise política de seus cinco meses como presidente do Egito, Mohamed Morsi fez nesta quinta-feira 5 um esperado discurso em rede nacional. Depois de um dia no qual a entre seus apoiadores islamitas e a oposição secular e liberal deixou seis mortos e mais de 700 feridos, esperava-se de Morsi um discurso conciliador, que pudesse estabilizar o Egito. O que se viu não chegou perto disso. Morsi convidou a oposição para um diálogo no próximo sábado, mas se recusou a aceitar as duas exigências feitas por seus adversários: adiar o referendo constitucional convocado para o próximo dia 15 e revogar o decreto constitucional pelo qual se concedeu superpoderes.

O discurso de Morsi lembrou muito a fase aguda das manifestações que derrubaram o ditador Hosni Mubarak, em janeiro e fevereiro de 2011. O teor de sua fala estava cercada de mistério e ele demorou horas para aparecer na televisão. Quando surgiu na tevê, Morsi atribuiu a violência a agentes estrangeiros e a egípcios da “quinta coluna”, disse que o governo iria encontrar as pessoas que estão financiando a violência e que muitos desses estavam ligados à oposição. Exatamente como fazia Mubarak. Pior, Morsi recusou a reconhecer o que vídeos e relatos mostraram: partidários da Irmandade Muçulmana, grupo religioso que o apoia firmemente, também participaram da violência. Ao tentar defender sua legitimidade, Morsi mostrou uma característica autoritária. “A minoria deve ouvir à maioria. Não é assim que funciona a democracia?”, questionou.

As boas notícias do discurso de Morsi vieram na segunda parte de sua fala. O presidente egípcio disse que aceita a oposição de quem se manifesta de forma pacífica e confirmou que o polêmico decreto constitucional emitido no fim de novembro perderá a validade após o referendo do dia 15, mesmo em caso de a Constituição ser rejeitada pela população. Por fim, Morsi convocou a oposição para um diálogo no próximo sábado 8.

O pequeno aceno feito por Morsi caiu em ouvidos moucos. Pouco depois de seu discurso, a Frente de Salvação Nacional, órgão criado recentemente para congregar setores seculares, liberais e esquerdistas, rejeitou o diálogo. “O povo percebeu um evidente abandono do dever de proteger indivíduos e bens públicos por parte das autoridades, que perderam sua legitimidade”, diz um comunicado da frente. “O presidente está ignorando as tentativas da frente para salvar a nação e está ignorando as demandas do povo e seus protestos, fechando as portas para qualquer esforço de diálogo”, afirma o grupo. O líder da frente é Mohamed El-Baradei, ex-chefe da Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA), vencedor do Nobel da Paz. Seus principais apoiadores são Hamdeen Sabbahi, esquerdista terceiro colocado nas eleições presidenciais, e Amr Moussa, ex-secretário-geral da Liga Árabe.

Ainda antes de a Frente de Salvação Nacional rejeitar formalmente o diálogo, manifestantes atacavam os escritórios da Irmandade Muçulmana em diversas cidades, entre elas o Cairo, o que já havia ocorrido em outros dias de violência recente. Segundo um levantamento da própria Irmandade Muçulmana, 36 escritórios de sua propriedade no país foram atacados nos últimos dias.

A sociedade egípcia está fraturada e, em grande medida, a principal linha de divisão é a religião. De um lado está a Irmandade Muçulmana, com seus aliados salafitas, ainda mais fundamentalistas que ela própria. A Irmandade tem o presidente do Egito, eleito democraticamente, é verdade, mas que dá sinais de autoritarismo crescente. Do outro lado está a oposição secular, intransigente e, cada dia mais adotando um discurso golpista. Entre eles estão os 85 milhões de egípcios que, como sempre, não passam de massa de manobra e bucha de canhão para seus líderes. O caminho do Egito é difícil. O país passa por uma transição em busca de democracia, mas há pouquíssimos democratas à disposição.

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