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O que você precisa saber sobre as eleições nos EUA?

The Guardian elenca oito pontos para entender a disputa entre Hillary e Trump, uma das mais acaloradas da história recente norteamericana

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Por Ed Pilkington, em Nova York

Para uma eleição que está gerando mais paixão em todos os lados do que qualquer outra na memória recente, os pesquisadores e analistas oferecem pouco reconforto aos que buscam clareza sobre os resultados desta terça-feira. A maioria dos canais de comunicação continua prevendo a vitória de Hillary Clinton, mas os diferentes modelos variam muito na certeza que conferem a esse resultado, e diversas pesquisas discordam quanto à diferença no número de votos.

A dois dias das eleições, o modelo FiveThirtyEight, de Nate Silver, dava a Clinton uma probabilidade de 65% de derrotar Donald Trump, enquanto “The New York Times” se destacava ao indicar Clinton com 86% de chance. A média da pesquisa da RealClearPolitics colocava Clinton na frente, com 1,7 ponto percentual, enquanto a HuffPost Pollster dava à democrata 5,5 pontos de diferença.

Como esses indicadores mudaram desde que James Comey anunciou que o FBI estava examinando novamente os e-mails de Clinton?
Em meio a esse denso nevoeiro eleitoral, o que está claro é que a bomba de Comey no início de novembro – de que o FBI está de certa forma revendo seu exame do uso por Hillary Clinton de um servidor de e-mail privado quando era secretária de Estado – teve um profundo impacto na disputa.

Permitiu que Trump, até então mergulhado em sua própria controvérsia sobre suas atitudes em relação às mulheres, voltasse os refletores novamente para sua rival, por sua suposta inconfiabilidade. Provavelmente em consequência disso, os resultados em queda franca do candidato republicano nas pesquisas se recuperaram, situando-se na margem de erro tanto em nível nacional como em Estados chaves como a Flórida, e até projetando-o na liderança no importante Estado de Ohio.

O que está acontecendo agora sobre a investigação do FBI? Há um prazo de conclusão?
Agentes do FBI estão vasculhando 650 mil e-mails que teriam sido encontrados em um laptop compartilhado por Huma Abedin, vice-presidente da campanha de Clinton, e seu marido (separado) Anthony Weiner, envolvido em escândalos sexuais.

Não se sabe quantos desses e-mails vieram de ou foram para Abedin, nem quantos poderiam se relacionar a Clinton ou podem já ter sido examinados pelo FBI. Se houver algum e-mail de Clinton, levará tempo para decidir se contém material sigiloso. Portanto, é improvável que a busca termine até terça-feira, deixando essa espada de Dâmocles pendente sobre a candidata presidencial democrata quando os americanos forem às urnas.

 

Como se desenrola a votação antecipada?
Mais de 34 milhões de americanos já votaram, ultrapassando os 32 milhões que votaram mais cedo quatro anos atrás. Isso beneficiará Clinton ou Trump? Não há uma resposta fácil para essa pergunta, diante das variações conforme os grupos estaduais e eleitorais. Mas há indícios.

A boa notícia para Clinton é que o comparecimento dos latinos entre os eleitores antecipados aumentou drasticamente em relação a 2012, sugerindo que o “gigante adormecido” do voto hispânico pode ter sido despertado neste ano pela retórica anti-imigrantes de Trump.

A má notícia é que a presença dos afro-americanos, um elemento vital na coalizão construída por Barack Obama em seus dois bem sucedidos mandatos presidenciais, está relativamente lenta desta vez, assim como os eleitores jovens. A queda no comparecimento dos eleitores negros pode ser especialmente perigosa para Clinton em Estados indecisos como Carolina do Norte, que foi identificado pelos dois candidatos como um alvo chave.

Os eleitores antecipados podem mudar de ideia, como pediu Trump?
Trump está tentando usar o furor quanto ao interesse renovado do FBI sobre os e-mails de Clinton para convencer os eleitores antecipados a mudar de preferência. “Agora que vocês veem que Hillary foi um grande erro, mudem seu voto”, disse ele no Twitter, fazendo o mesmo apelo em uma escala da campanha nesta semana em Wisconsin, um dos seis Estados que realmente permitem que os eleitores antecipados mudem de ideia (três vezes, no caso de Wisconsin). Os outros são Connecticut, Michigan, Minnesota, Mississípi, Nova York e Pensilvânia. Alguns eleitores antecipados usaram essa disponibilidade, mas não em número suficiente para fazer diferença.

Qual é a última tendência da Flórida, e por que esse Estado é tão crucial?
A Flórida possui 29 dos 270 votos do colégio eleitoral necessários para vencer, o que a coloca no mesmo plano de Nova York e significa que só tem menos que a Califórnia e o Texas. Somando isso à história do Estado de eleições presidenciais muito apertadas – Obama venceu lá em 2012 por apenas 74 mil dos mais de 8 milhões de votos –, e você terá a mãe de todos os Estados chaves.

Todos os modelos estatísticos sugerem que Trump tem de vencer na Flórida ou dar adeus à Casa Branca, embora para Clinton talvez não seja tão crucial. Na verdade, a disputa na Flórida está parecendo apertada demais. Clinton conta com um grande comparecimento de porto-riquenhos, de tendência democrata, no centro da Flórida, enquanto Trump usa o tema da investigação do FBI na esperança de atrair os moradores da Flórida em seu apoio.

Como os eleitores estão reagindo à não divulgação do IR por Trump?
Trump é o primeiro candidato presidencial de qualquer partido desde Watergate, em 1972, que não divulga sua declaração de imposto de renda. Sua única declaração divulgada, pelo “New York Times”, sugere que ele evitou pagar o imposto de renda federal durante duas décadas. Sua relutância é profundamente impopular, e as pesquisas mostram que a grande maioria dos eleitores pensa que ele deveria divulgar os registros, como fazem dois terços dos eleitores republicanos e quase a metade dos próprios seguidores de Trump. Mas se isso se traduz em votos reais continua sendo uma incógnita.

E o outro problema de Trump, com as mulheres eleitoras?
Parece que os comentários grosseiros de Trump gravados sobre fazer avanços sexuais indesejáveis a mulheres não dissuadiram muitas eleitoras conservadoras de votar nele. Mas isso o prejudicou entre as eleitoras brancas de modo geral, que terão um papel importante para determinar o resultado da eleição. Dez pesquisas recentes mostram Clinton com uma vantagem histórica de 17 pontos entre as mulheres eleitoras.

Depois da votação, Trump e Clinton irão a alguma praia para repor o sono?
Infelizmente para eles, não. Para o feliz vencedor, o trabalho duro terá apenas começado. Eles devem se preparar para viver na Casa Branca, a começar pela posse em 20 de janeiro. Clinton confiou o trabalho de cuidar de sua transição para o cargo mais importante do mundo ao ex-secretário do Interior de Obama, Ken Salazar, enquanto a equipe de Trump é liderada pelo governador de Nova Jersey, Chris Christie.

E o perdedor? Se for Clinton, não espere que essa workaholic fique muito tempo ociosa. Depois de lamber as feridas, haverá trabalho a fazer para reconstruir a Fundação Clinton, uma entidade filantrópica que sofreu abalos durante a campanha, assim como dinheiro a ser ganho no circuito de palestras. Um Trump derrotado poderá ficar ainda mais ocupado, implementando uma rede de TV Trump, que muitos acreditam que será de extrema-direita e que já está sendo testada no Facebook.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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