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O que Israel deve fazer diante do novo governo egípcio?

O governo Netanyahu deu um passo inicial positivo nas novas relações com o Egito, mas ainda tem muito espaço para avançar

Jornais israelenses noticiam a vitória de Morsi no Egito. No centro, em hebraic, a manchete diz: "Escuridão no Egito". Foto: Menahem Kahana / AFP
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Há 16 meses, quando milhares de egípcios tomaram as ruas do país para pedir o fim da ditadura comandada por Hosni Mubarak, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, não teve pudores ao lamentar o desfecho da Primavera Árabe no Egito. Netanyahu lembrou que Mubarak era um aliado crucial de Israel e se disse preocupado com o que viria pela frente, especialmente a possibilidade de um governo religioso. No domingo passado, após Mohammed Morsi, membro da Irmandade Muçulmana, ser confirmado como novo presidente do Egito, Netanyahu teve uma postura completamente diferente. Disse que seu governo “apreciava” o processo democrático e “respeitava” o resultado. Foram palavras recebidas com alívio pela comunidade internacional. A mudança de postura de Netanyahu é boa para o Egito, para Israel e para o Oriente Médio.

Israel tem motivos de sobra para temer o que ocorre no Egito. O acordo de paz entre os dois países, Camp David, assinado em 1979, é a pedra angular que evita uma instabilidade ainda maior no Oriente Médio. Sem esse acordo, Israel ficaria exposto ao maior Exército (porém não o mais poderoso) da região. Em segundo lugar, o grupo fundamentalista palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza e é um dos maiores inimigos do Estado judeu, é uma ramificação da Irmandade Muçulmana. Os dois grupos trilharam caminhos diferentes (a Irmandade Muçulmana abandonou a violência há 40 anos e o Hamas tem um braço armado poderoso), mas ainda têm laços significativos. Líderes da Irmandade repetem sem remorso seu ódio a Israel. Em terceiro lugar, Israel se preocupa com a instabilidade na Península do Sinai, parte do Egito que faz fronteira com Israel. A região é porta de entrada para imigrantes ilegais, traficantes de drogas, criminosos comuns e terroristas. Uma vez descontrolada, a península pode levar a instabilidade a Israel.

Ao dizer que respeita o resultado das eleições do Egito, Netanyahu está fazendo um aceno de boa vontade ao país vizinho. É uma mensagem importante. O ódio a Israel no Egito é latente, praticamente generalizado, abarcando desde os religiosos mais fundamentalistas aos liberais mais seculares. Em setembro, isso ficou claro durante um ataque de manifestantes à embaixada de Israel no Cairo que deixou mais de 800 feridos. Isso significa que qualquer governo eleito democraticamente no Egito, e portanto influenciável pelas vontades populares, pode se provar um desafio grande a Israel. No contexto pós-Primavera Árabe, Israel precisa aprender a lidar com governos mais abertos, e respeitar as decisões das urnas é passo importante. Em entrevista ao jornal The Washington Post, o parlamentar israelense Binyamin Ben-Eliezer, ex-ministro da Defesa e amigo de Mubarak, defendeu ajustes no comportamento de seu governo. “É um Oriente Médio diferente, mais religioso, mais islâmico, e o primeiro-ministro terá que encontrar uma forma para dialogar com o campo islamita”, disse.

A boa notícia para Israel é que os militares egípcios continuam como aliados e defensores da paz. Com a eleição de Morsi, a junta militar que comanda o Egito, na prática a grande força dentro do país, deve ceder alguns poderes ao irmão muçulmano, especialmente o controle da economia e de questões internas. Os problemas são tantos que a Irmandade, mesmo odiando Israel, deve se concentrar em lidar com eles e adotar um tom pragmático com relação a Israel. Soma-se a isso o fato de que comando da Defesa e das Relações Exteriores continuará sob comando dos militares. Para os generais, a paz é interessante pois graças à manutenção de Camp David os Estados Unidos enviam uma ajuda anual de mais de 1 bilhão de dólares ao Egito, e a maior parte dela cai no bolso e nas empresas dos militares. Assim, Israel pode ter espaço para tentar uma aproximação com o povo egípcio, e por extensão com os povos árabes, enquanto a paz com o Egito fica segura nas mãos dos militares.

Em editorial publicado nesta terça-feira 26, o jornal Haaretz destoou da maioria das publicações israelenses (que demonstram medo de Morsi) e sugeriu que o governo Netanyahu demonstrasse boa vontade e desse apoio e ajuda financeira ao Egito, que precisará de muito auxílio para reerguer sua economia. O aceno principal que Israel poderia fazer ao Egito e ao mundo árabe, entretanto, parece hoje distante. A paz com os palestinos tornaria inócuas praticamente todas as críticas a Israel na região e neutralizaria muitas das hostilidades. Assim, retomar com seriedade as negociações com os palestinos enquanto o Egito e quase todo o mundo árabe se reorganizam politicamente, poderia ser a estratégia perfeita para garantir a segurança de Israel a longo prazo. Resta saber se o governo Netanyahu terá a capacidade de buscar isso.

Há 16 meses, quando milhares de egípcios tomaram as ruas do país para pedir o fim da ditadura comandada por Hosni Mubarak, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, não teve pudores ao lamentar o desfecho da Primavera Árabe no Egito. Netanyahu lembrou que Mubarak era um aliado crucial de Israel e se disse preocupado com o que viria pela frente, especialmente a possibilidade de um governo religioso. No domingo passado, após Mohammed Morsi, membro da Irmandade Muçulmana, ser confirmado como novo presidente do Egito, Netanyahu teve uma postura completamente diferente. Disse que seu governo “apreciava” o processo democrático e “respeitava” o resultado. Foram palavras recebidas com alívio pela comunidade internacional. A mudança de postura de Netanyahu é boa para o Egito, para Israel e para o Oriente Médio.

Israel tem motivos de sobra para temer o que ocorre no Egito. O acordo de paz entre os dois países, Camp David, assinado em 1979, é a pedra angular que evita uma instabilidade ainda maior no Oriente Médio. Sem esse acordo, Israel ficaria exposto ao maior Exército (porém não o mais poderoso) da região. Em segundo lugar, o grupo fundamentalista palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza e é um dos maiores inimigos do Estado judeu, é uma ramificação da Irmandade Muçulmana. Os dois grupos trilharam caminhos diferentes (a Irmandade Muçulmana abandonou a violência há 40 anos e o Hamas tem um braço armado poderoso), mas ainda têm laços significativos. Líderes da Irmandade repetem sem remorso seu ódio a Israel. Em terceiro lugar, Israel se preocupa com a instabilidade na Península do Sinai, parte do Egito que faz fronteira com Israel. A região é porta de entrada para imigrantes ilegais, traficantes de drogas, criminosos comuns e terroristas. Uma vez descontrolada, a península pode levar a instabilidade a Israel.

Ao dizer que respeita o resultado das eleições do Egito, Netanyahu está fazendo um aceno de boa vontade ao país vizinho. É uma mensagem importante. O ódio a Israel no Egito é latente, praticamente generalizado, abarcando desde os religiosos mais fundamentalistas aos liberais mais seculares. Em setembro, isso ficou claro durante um ataque de manifestantes à embaixada de Israel no Cairo que deixou mais de 800 feridos. Isso significa que qualquer governo eleito democraticamente no Egito, e portanto influenciável pelas vontades populares, pode se provar um desafio grande a Israel. No contexto pós-Primavera Árabe, Israel precisa aprender a lidar com governos mais abertos, e respeitar as decisões das urnas é passo importante. Em entrevista ao jornal The Washington Post, o parlamentar israelense Binyamin Ben-Eliezer, ex-ministro da Defesa e amigo de Mubarak, defendeu ajustes no comportamento de seu governo. “É um Oriente Médio diferente, mais religioso, mais islâmico, e o primeiro-ministro terá que encontrar uma forma para dialogar com o campo islamita”, disse.

A boa notícia para Israel é que os militares egípcios continuam como aliados e defensores da paz. Com a eleição de Morsi, a junta militar que comanda o Egito, na prática a grande força dentro do país, deve ceder alguns poderes ao irmão muçulmano, especialmente o controle da economia e de questões internas. Os problemas são tantos que a Irmandade, mesmo odiando Israel, deve se concentrar em lidar com eles e adotar um tom pragmático com relação a Israel. Soma-se a isso o fato de que comando da Defesa e das Relações Exteriores continuará sob comando dos militares. Para os generais, a paz é interessante pois graças à manutenção de Camp David os Estados Unidos enviam uma ajuda anual de mais de 1 bilhão de dólares ao Egito, e a maior parte dela cai no bolso e nas empresas dos militares. Assim, Israel pode ter espaço para tentar uma aproximação com o povo egípcio, e por extensão com os povos árabes, enquanto a paz com o Egito fica segura nas mãos dos militares.

Em editorial publicado nesta terça-feira 26, o jornal Haaretz destoou da maioria das publicações israelenses (que demonstram medo de Morsi) e sugeriu que o governo Netanyahu demonstrasse boa vontade e desse apoio e ajuda financeira ao Egito, que precisará de muito auxílio para reerguer sua economia. O aceno principal que Israel poderia fazer ao Egito e ao mundo árabe, entretanto, parece hoje distante. A paz com os palestinos tornaria inócuas praticamente todas as críticas a Israel na região e neutralizaria muitas das hostilidades. Assim, retomar com seriedade as negociações com os palestinos enquanto o Egito e quase todo o mundo árabe se reorganizam politicamente, poderia ser a estratégia perfeita para garantir a segurança de Israel a longo prazo. Resta saber se o governo Netanyahu terá a capacidade de buscar isso.

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