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Morte de prisioneiros por jihadistas aumenta a divisão entre combatentes rebeldes na Síria

Um vídeo mostrando a execução de soldados do regime que haviam sido feitos prisioneiros enfureceu os rebeldes, que dizem que islâmicos estrangeiros estão sendo beneficiados com armas e dinheiro

Rebeldes em Alepo, cidade no norte da Síria, no sábado 3. As divisões internas estão impedindo o avanço contra Assad. Foto: Philippe Desmazes / AFP
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Por Martin Chulov

Grupos rebeldes estão acusando o conselho militar da Síria de dissidência interna, nepotismo e falha de liderança, depois que um vídeo mostrou uma unidade de oposição matando mais de 20 soldados do regime que haviam sido capturados.

Unidades da oposição armada em toda a região de Alepo dizem que o conselho, apoiado pelo Ocidente, está fracassando em sua proposta de criar um exército de oposição coordenado, parcialmente por sua recusa a lidar com grupos sírios de tendência islâmica radical.

Os grupos dizem que o favoritismo do conselho militar para com certas unidades significa que outras milícias não se dispõem a agir com disciplina ou se responsabilizar por seus atos. As cenas perturbadoras de soldados do regime capturados sendo mortos pouco depois que sua posição perto de Damasco foi dominada enfureceram os rebeldes no norte. “Temos de mostrar que somos diferentes do regime”, disse o xeque Omar Othman, da unidade de tendência islâmica Liwat al-Tawheed em Alepo. “Como eles fazem isso, nós não devemos fazer.”

Os grupos islâmicos sírios estiveram na vanguarda dos combates em Alepo nos últimos três meses, mas não conseguem se equiparar às unidades jihadistas globais, com mais armas e dinheiro, que cada vez mais ocupam a posição central na guerra pelo norte do país.


“Isto em breve significará que o Jabhat al-Nusraf [grupo aliado à Al-Qaeda] será o único capaz de montar operações letais contra bases e centros de segurança”, disse um líder da Liwat al-Tawheed, que tem sido um importante ator nas lutas em Alepo. “Já significa que não podemos vencer sem eles.”

Grupos islâmicos em Alepo dizem que pretendem apenas derrubar o regime Assad. A maioria de seus religiosos e líderes rejeita a ideologia dos jihadistas, que consideram a batalha na Síria uma fase vital de uma guerra sectária e global.

Com Alepo efetivamente travada em um impasse desde meados de agosto, comandantes da Liwat al-Tawheed e outras unidades na região da segunda cidade da Síria têm viajado até a fronteira turca para se encontrar com líderes do conselho militar. “Eles dizem ‘unam-se a nós ou não lhes daremos nada'”, disse Othman. “Não somos contrários a fazer isso se significar que teremos uma parte das armas que eles estão distribuindo. Mas seu objetivo é manter tudo longe de nós. Esse é um problema quando somos nós que estamos lutando.”

O conselho militar é composto de oficiais graduados que desertaram e até recentemente permaneceram no exílio em um campo de refugiados no sul da Turquia. Eles têm acesso a armas, vindas principalmente do Catar, e a verbas de todo o mundo árabe sunita.

Sob pressão do governo Obama, alguns oficiais do conselho militar desde então estabeleceram uma pequena base do outro lado da fronteira turca e estão tentando formar uma estrutura central de comando e controle para unir os grupos rebeldes, profundamente fragmentados. Um dos oficiais graduados do conselho, o brigadeiro Mustafa Sheikh, viaja frequentemente para a província de Idlib, advertindo as comunidades para que não apoiem os islâmicos. Outro oficial regularmente oferece a mesma advertência perto de Azaz, na província de Alepo. A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, também reiterou na semana passada uma advertência aos grupos rebeldes para que tomem cuidado de quem aceitam ajuda. Os pedidos parecem estar caindo em ouvidos moucos. “Agradeça aos americanos pelos binóculos”, disse um líder rebelde de Alepo, Haji Tal-Rifat.

Líderes rebeldes islâmicos e não islâmicos aqui dizem que estão sendo obrigados a aceitar a ajuda de grupos jihadistas altamente motivados, o Jabhat al-Nusraf, predominantemente sírio, e o grupo mais estrangeiro conhecido como al-Muhajirin, porque nenhuma outra ajuda está chegando a eles.

Combatentes estrangeiros que abraçam a visão de mundo da Al-Qaeda cada vez mais viajam para a província de Alepo, onde estão formando campos de treinamento e grupos de liderança e estão prontamente se unindo às linhas de frente. Os estrangeiros também assumem posições de combate cada vez mais proeminentes em unidades não jihadistas, que alegam estar em constante falta de armas e munição.

Oficiais rebeldes entrevistados pelo Observer na última semana dizem que poucos grandes ataques recentes contra os militares sírios ou alvos do regime ocorreram sem a presença de vários membros da al-Muhajirin. “Eles estão lutando aqui e estão morrendo aqui”, disse um oficial rebelde. “Às vezes nem sabemos seus nomes quando os enterramos, porque eles nos dão um apelido quando chegam. Sei que estamos brincando com fogo”, ele disse. “Mas, diga-me, o que você faria se estivesse em minha posição?”

Outro comandante da Liwat al-Tawheed disse que muita munição está chegando da Turquia para manter a batalha em andamento, mas não o suficiente para vencê-la. “Compare o que nós temos com o que o al-Nusraf está recebendo. Eles não estão recebendo armas de fora, mas as estão comprando na Síria com grandes quantias de dinheiro. Eles estão muito bem abastecidos, e não dizem de onde estão recebendo o dinheiro.”

Leia mais em Guardian.co.uk

Por Martin Chulov

Grupos rebeldes estão acusando o conselho militar da Síria de dissidência interna, nepotismo e falha de liderança, depois que um vídeo mostrou uma unidade de oposição matando mais de 20 soldados do regime que haviam sido capturados.

Unidades da oposição armada em toda a região de Alepo dizem que o conselho, apoiado pelo Ocidente, está fracassando em sua proposta de criar um exército de oposição coordenado, parcialmente por sua recusa a lidar com grupos sírios de tendência islâmica radical.

Os grupos dizem que o favoritismo do conselho militar para com certas unidades significa que outras milícias não se dispõem a agir com disciplina ou se responsabilizar por seus atos. As cenas perturbadoras de soldados do regime capturados sendo mortos pouco depois que sua posição perto de Damasco foi dominada enfureceram os rebeldes no norte. “Temos de mostrar que somos diferentes do regime”, disse o xeque Omar Othman, da unidade de tendência islâmica Liwat al-Tawheed em Alepo. “Como eles fazem isso, nós não devemos fazer.”

Os grupos islâmicos sírios estiveram na vanguarda dos combates em Alepo nos últimos três meses, mas não conseguem se equiparar às unidades jihadistas globais, com mais armas e dinheiro, que cada vez mais ocupam a posição central na guerra pelo norte do país.


“Isto em breve significará que o Jabhat al-Nusraf [grupo aliado à Al-Qaeda] será o único capaz de montar operações letais contra bases e centros de segurança”, disse um líder da Liwat al-Tawheed, que tem sido um importante ator nas lutas em Alepo. “Já significa que não podemos vencer sem eles.”

Grupos islâmicos em Alepo dizem que pretendem apenas derrubar o regime Assad. A maioria de seus religiosos e líderes rejeita a ideologia dos jihadistas, que consideram a batalha na Síria uma fase vital de uma guerra sectária e global.

Com Alepo efetivamente travada em um impasse desde meados de agosto, comandantes da Liwat al-Tawheed e outras unidades na região da segunda cidade da Síria têm viajado até a fronteira turca para se encontrar com líderes do conselho militar. “Eles dizem ‘unam-se a nós ou não lhes daremos nada'”, disse Othman. “Não somos contrários a fazer isso se significar que teremos uma parte das armas que eles estão distribuindo. Mas seu objetivo é manter tudo longe de nós. Esse é um problema quando somos nós que estamos lutando.”

O conselho militar é composto de oficiais graduados que desertaram e até recentemente permaneceram no exílio em um campo de refugiados no sul da Turquia. Eles têm acesso a armas, vindas principalmente do Catar, e a verbas de todo o mundo árabe sunita.

Sob pressão do governo Obama, alguns oficiais do conselho militar desde então estabeleceram uma pequena base do outro lado da fronteira turca e estão tentando formar uma estrutura central de comando e controle para unir os grupos rebeldes, profundamente fragmentados. Um dos oficiais graduados do conselho, o brigadeiro Mustafa Sheikh, viaja frequentemente para a província de Idlib, advertindo as comunidades para que não apoiem os islâmicos. Outro oficial regularmente oferece a mesma advertência perto de Azaz, na província de Alepo. A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, também reiterou na semana passada uma advertência aos grupos rebeldes para que tomem cuidado de quem aceitam ajuda. Os pedidos parecem estar caindo em ouvidos moucos. “Agradeça aos americanos pelos binóculos”, disse um líder rebelde de Alepo, Haji Tal-Rifat.

Líderes rebeldes islâmicos e não islâmicos aqui dizem que estão sendo obrigados a aceitar a ajuda de grupos jihadistas altamente motivados, o Jabhat al-Nusraf, predominantemente sírio, e o grupo mais estrangeiro conhecido como al-Muhajirin, porque nenhuma outra ajuda está chegando a eles.

Combatentes estrangeiros que abraçam a visão de mundo da Al-Qaeda cada vez mais viajam para a província de Alepo, onde estão formando campos de treinamento e grupos de liderança e estão prontamente se unindo às linhas de frente. Os estrangeiros também assumem posições de combate cada vez mais proeminentes em unidades não jihadistas, que alegam estar em constante falta de armas e munição.

Oficiais rebeldes entrevistados pelo Observer na última semana dizem que poucos grandes ataques recentes contra os militares sírios ou alvos do regime ocorreram sem a presença de vários membros da al-Muhajirin. “Eles estão lutando aqui e estão morrendo aqui”, disse um oficial rebelde. “Às vezes nem sabemos seus nomes quando os enterramos, porque eles nos dão um apelido quando chegam. Sei que estamos brincando com fogo”, ele disse. “Mas, diga-me, o que você faria se estivesse em minha posição?”

Outro comandante da Liwat al-Tawheed disse que muita munição está chegando da Turquia para manter a batalha em andamento, mas não o suficiente para vencê-la. “Compare o que nós temos com o que o al-Nusraf está recebendo. Eles não estão recebendo armas de fora, mas as estão comprando na Síria com grandes quantias de dinheiro. Eles estão muito bem abastecidos, e não dizem de onde estão recebendo o dinheiro.”

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