Mundo

Os tormentos de Sarko

DSK entra em cena enquanto aparecem os dólares de Kaddafi

O debate na tevê não foi decisivo, mas Hollande falou como se a vitória na eleição presidencial fosse favas contadas
Apoie Siga-nos no

Os últimos dias a anteceder o segundo turno no domingo 6 da presidencial francesa estão bastante conturbados. Pesquisas de intenções de votos que davam 10 pontos porcentuais a favor do candidato socialista François Hollande sobre o presidente Nicolas Sarkozy passaram a apontar uma vantagem de apenas 6 ou 5 pontos porcentuais para o socialista.

Nem por isso, nesse contexto eleitoral fluido, Sarkozy deixa de ter motivos para estar mais agitado que de costume, e a prova disso são tiques nervosos cada vez mais presentes. Tornaram-se, os tiques, mais visíveis no debate televisivo ao vivo na quarta-feira 2 entre o presidente e seu rival Hollande. Deste político, diga-se, exalava um clima de tranquilidade e, nos momentos certos, a necessária agressividade. Contraste que lhe concedeu uma melhor imagem àquela de Sarko.

Para piorar o quadro para o incumbente conservador, ele é acusado por um website francês, o Mediapart, de ter recebido 5 milhões de dólares de Muammar Kaddafi. Objetivo: financiar a campanha eleitoral do político francês em 2007. A acusação foi comprovada pelo ex-premier líbio Al-Baghdadi al-Mahmoudi, conforme informou na quinta o diário francês de centro-esquerda Libération.

De fato, Saif al-Islam, filho de Kad-dafi, atualmente preso na Líbia, havia dito no início da intervenção ocidental que seu país financiou a primeira campanha de Sarko. “Sarkozy tem de dar de volta o dinheiro que pegou da Líbia para financiar sua campanha eleitoral. Nós a financiamos e temos todos os detalhes para provar”, disse então.

Edwy Plenel, jornalista veterano e atual editor do Mediapart, postou o documento que confirma o apoio financeiro de Kaddafi. O presidente está processando o Mediapart, mas Plenel se diz pronto para o duelo. “Nossa investigação levou dez meses e é séria e confiável”, declarou o editor do site.

Vale recapitular que, logo após a eleição de Sarko em 2007, Kaddafi recebeu um convite para ir a Paris, onde armou sua tenda beduína numa residência de luxo próxima ao Palácio do Élysée. Sarkozy disse à mídia nesta semana que à época estava considerando a possibilidade de cooperação nuclear com a Líbia. Semanas atrás, ele dissera o contrário.

As dores de cabeça de Sarkozy não terminam por aqui. Dominique Strauss-Kahn, ex-patrão do Fundo Monetário Internacional (FMI) e ex-candidato a candidato socialista mais cotado para derrotar Sarkozy, agora põe culpa nos asseclas do presidente francês pelo extraordinário fim de sua carreira política em maio do ano passado, quando teria abusado sexualmente de uma camareira de hotel em Nova York.

DSK, como o ex-patrão do FMI é conhecido na França, não sustenta que os homens de Sarko teriam preparado a armadilha, isto é, colocado a camareira africana Nafissatou Diallo no quarto de seu hotel nova-iorquino. E, como é sabido, DSK não resiste a um rabo de saia, mesmo que sua portadora esteja longe de ser desejável.

Numa recente entrevista, publicada no Guardian, concedida ao jornalista investigativo britânico Edward Jay Epstein, DSK afirmou, porém, que os aliados de Sarko foram os responsáveis por uma escalada de eventos habilitados a gerar uma investigação criminosa contra ele. Em suma, houve, sempre segundo DSK, uma agenda política organizada por Sarko para derrubá-lo antes do pleito. Isso sem contar o fato de que o FMI o colocou na rua.

De todo modo, a surtida de DSK não empolga a opinião pública. Sarkozy, não sem razão, o convida a se explicar no Judiciá-rio. Embora ainda crie confusão, ele foi marginalizado pelo próprio Partido Socialista. Hollande é claro: “DSK não tem mais nenhum papel na vida política”.

Agora envolvido em um caso de proxenetismo internacional quando era do FMI, o ex-patrão parece confuso. Negou, por exemplo, que tenha dado a entrevista ao Guardian, o qual revida com informações circunstanciadas: a 13 de abril, DSK concedeu uma longa entrevista para o repórter Jay Epstein, o jornalista publicará um livro, Three Days in May: Sex, Surveillance and DSK (Melville House), ainda neste maio.

A rigor, o caso não altera basicamente a perspectiva de Sarko, enquanto Hollande já se porta como chefe de Estado. O debate televisivo na quarta 2 não foi decisivo, mas a presença incisiva de Hollande fez a diferença. Ao iniciar seu discurso sobre o que fará no próximo quinquênio, o candidato socialista disse com a devida autoridade: “Eu, presidente da República…”

Tratou-se, é certo, de um debate tenso. Sarkozy, que na ponta dos pés chega a menos de 1,66 metro, chamou -Hollande de “pequeno caluniador”. Com o objetivo de demonstrar que Hollande não tem pedigree para ser presidente, visto que jamais ocupou um cargo ministerial, Sarko disse que o candidato socialista não passa de um “mentiroso” porque faz promessas que não poderá cumprir. Retrucou Hollande: “Mas eu defendo os pobres da República e o senhor os ricos”.

Os representantes partidários dos candidatos logo passaram a deitar as possíveis loas de ofício. Significativa a declaração do ex-premier socialista Laurente Fabius, segundo quem o debate marcou “um presidente que chega ao fim” e “um presidente que inicia seu mandato”.

Já o direitista Le Figaro, ligado a Sar-kozy, ainda acredita na reeleição. Hollande é de esquerda e usa um discurso antigo “díspar”, argumentou o editorialista do jornal.

Independentemente das pesquisas de intenções de voto, a vitória para Sarkozy “seria missão quase impossível”, disse a CartaCapital o filósofo Robert Redeker. Editorialista da revista Les Temps Modernes e pesquisador do Centre Nationale de Recherche Scientifique (CNRS), Redeker explica: para vencer, Sarko precisaria de mais de 80% dos votos da Frente Nacional da líder de extrema-direita Marine Le Pen, e mais 75% dos eleitores do centrista François Bayrou. Detalhe: Le Pen disse que votará em branco e Bayrou apoia Hollande. E, segundo as próprias pesquisas, 60% dos lepenistas e apenas 30% dos centristas cogitam apoiar Sarkozy. Hollande está praticamente eleito. E por isso já se porta como presidente.

Os últimos dias a anteceder o segundo turno no domingo 6 da presidencial francesa estão bastante conturbados. Pesquisas de intenções de votos que davam 10 pontos porcentuais a favor do candidato socialista François Hollande sobre o presidente Nicolas Sarkozy passaram a apontar uma vantagem de apenas 6 ou 5 pontos porcentuais para o socialista.

Nem por isso, nesse contexto eleitoral fluido, Sarkozy deixa de ter motivos para estar mais agitado que de costume, e a prova disso são tiques nervosos cada vez mais presentes. Tornaram-se, os tiques, mais visíveis no debate televisivo ao vivo na quarta-feira 2 entre o presidente e seu rival Hollande. Deste político, diga-se, exalava um clima de tranquilidade e, nos momentos certos, a necessária agressividade. Contraste que lhe concedeu uma melhor imagem àquela de Sarko.

Para piorar o quadro para o incumbente conservador, ele é acusado por um website francês, o Mediapart, de ter recebido 5 milhões de dólares de Muammar Kaddafi. Objetivo: financiar a campanha eleitoral do político francês em 2007. A acusação foi comprovada pelo ex-premier líbio Al-Baghdadi al-Mahmoudi, conforme informou na quinta o diário francês de centro-esquerda Libération.

De fato, Saif al-Islam, filho de Kad-dafi, atualmente preso na Líbia, havia dito no início da intervenção ocidental que seu país financiou a primeira campanha de Sarko. “Sarkozy tem de dar de volta o dinheiro que pegou da Líbia para financiar sua campanha eleitoral. Nós a financiamos e temos todos os detalhes para provar”, disse então.

Edwy Plenel, jornalista veterano e atual editor do Mediapart, postou o documento que confirma o apoio financeiro de Kaddafi. O presidente está processando o Mediapart, mas Plenel se diz pronto para o duelo. “Nossa investigação levou dez meses e é séria e confiável”, declarou o editor do site.

Vale recapitular que, logo após a eleição de Sarko em 2007, Kaddafi recebeu um convite para ir a Paris, onde armou sua tenda beduína numa residência de luxo próxima ao Palácio do Élysée. Sarkozy disse à mídia nesta semana que à época estava considerando a possibilidade de cooperação nuclear com a Líbia. Semanas atrás, ele dissera o contrário.

As dores de cabeça de Sarkozy não terminam por aqui. Dominique Strauss-Kahn, ex-patrão do Fundo Monetário Internacional (FMI) e ex-candidato a candidato socialista mais cotado para derrotar Sarkozy, agora põe culpa nos asseclas do presidente francês pelo extraordinário fim de sua carreira política em maio do ano passado, quando teria abusado sexualmente de uma camareira de hotel em Nova York.

DSK, como o ex-patrão do FMI é conhecido na França, não sustenta que os homens de Sarko teriam preparado a armadilha, isto é, colocado a camareira africana Nafissatou Diallo no quarto de seu hotel nova-iorquino. E, como é sabido, DSK não resiste a um rabo de saia, mesmo que sua portadora esteja longe de ser desejável.

Numa recente entrevista, publicada no Guardian, concedida ao jornalista investigativo britânico Edward Jay Epstein, DSK afirmou, porém, que os aliados de Sarko foram os responsáveis por uma escalada de eventos habilitados a gerar uma investigação criminosa contra ele. Em suma, houve, sempre segundo DSK, uma agenda política organizada por Sarko para derrubá-lo antes do pleito. Isso sem contar o fato de que o FMI o colocou na rua.

De todo modo, a surtida de DSK não empolga a opinião pública. Sarkozy, não sem razão, o convida a se explicar no Judiciá-rio. Embora ainda crie confusão, ele foi marginalizado pelo próprio Partido Socialista. Hollande é claro: “DSK não tem mais nenhum papel na vida política”.

Agora envolvido em um caso de proxenetismo internacional quando era do FMI, o ex-patrão parece confuso. Negou, por exemplo, que tenha dado a entrevista ao Guardian, o qual revida com informações circunstanciadas: a 13 de abril, DSK concedeu uma longa entrevista para o repórter Jay Epstein, o jornalista publicará um livro, Three Days in May: Sex, Surveillance and DSK (Melville House), ainda neste maio.

A rigor, o caso não altera basicamente a perspectiva de Sarko, enquanto Hollande já se porta como chefe de Estado. O debate televisivo na quarta 2 não foi decisivo, mas a presença incisiva de Hollande fez a diferença. Ao iniciar seu discurso sobre o que fará no próximo quinquênio, o candidato socialista disse com a devida autoridade: “Eu, presidente da República…”

Tratou-se, é certo, de um debate tenso. Sarkozy, que na ponta dos pés chega a menos de 1,66 metro, chamou -Hollande de “pequeno caluniador”. Com o objetivo de demonstrar que Hollande não tem pedigree para ser presidente, visto que jamais ocupou um cargo ministerial, Sarko disse que o candidato socialista não passa de um “mentiroso” porque faz promessas que não poderá cumprir. Retrucou Hollande: “Mas eu defendo os pobres da República e o senhor os ricos”.

Os representantes partidários dos candidatos logo passaram a deitar as possíveis loas de ofício. Significativa a declaração do ex-premier socialista Laurente Fabius, segundo quem o debate marcou “um presidente que chega ao fim” e “um presidente que inicia seu mandato”.

Já o direitista Le Figaro, ligado a Sar-kozy, ainda acredita na reeleição. Hollande é de esquerda e usa um discurso antigo “díspar”, argumentou o editorialista do jornal.

Independentemente das pesquisas de intenções de voto, a vitória para Sarkozy “seria missão quase impossível”, disse a CartaCapital o filósofo Robert Redeker. Editorialista da revista Les Temps Modernes e pesquisador do Centre Nationale de Recherche Scientifique (CNRS), Redeker explica: para vencer, Sarko precisaria de mais de 80% dos votos da Frente Nacional da líder de extrema-direita Marine Le Pen, e mais 75% dos eleitores do centrista François Bayrou. Detalhe: Le Pen disse que votará em branco e Bayrou apoia Hollande. E, segundo as próprias pesquisas, 60% dos lepenistas e apenas 30% dos centristas cogitam apoiar Sarkozy. Hollande está praticamente eleito. E por isso já se porta como presidente.

ENTENDA MAIS SOBRE: , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo