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Extrema-direita ganha espaço com “recrutas atuantes” no Facebook

Estudos britânicos mostram que a falta de confiança em instituições por parte de apoiadores de partidos populistas na rede social pode criar indivíduos violentos

Foto: Håkan Dahlström/Flickr
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Na eleição de 2010, o partido Democratas Suecos (DS), de origem neonazista, conseguiu mais de 340 mil votos e pela primeira vez em sua história emplacou 20 deputados no parlamento da Suécia. Na Hungria, o Jobbik tornou-se a legenda de extrema-direita mais bem sucedida das últimas duas décadas, com apenas nove anos de criação e defesa do nacionalismo extremo e visões antissemitas e anti-Roma (ciganos).

Os cenários acima descritos têm ganhado força na Europa, principalmente com o uso do Facebook para atrair participantes (jovens, se possível) a grupos populistas. “A internet e as redes sociais são ferramentas incríveis de recrutamento, mas as legendas tradicionais sentem que não precisam se esforçar neste sentido”, explica Jonathan Birdwell, pesquisador sênior do think tank britânico Demos e um dos autores de dois estudos a analisar as posições de apoiadores no Facebook de partidos de extrema-direita na Suécia e Hungria.

“Os partidos tradicionais estão errados e precisam perceber o quão importante essa e outras mídias sociais são. Não podem confiar apenas nas formas comuns de apoio”, completa, em entrevista a CartaCapital.

 

 

 

Na Suécia, onde 567 pessoas participaram do estudo, os seguidores do partido no Facebook somam 16,6 mil indivíduos, contra 4,6 mil membros oficiais da legenda. Proporção semelhante também pode ser vista na Hungria, que contou com 2,2 mil respondentes. Os números são apenas um indicativo do poder das redes sociais na divulgação da retórica populista.

Um exemplo, aponta o estudo, são os mais de 23 mil ”curtir” da página pessoal de Jimmie Åkesson, líder do DS, contra os 2,8 mil de Fredrik Reinfeldt, atual primeiro ministro do país escandinavo. “Os novos movimentos políticos são mais astutos em tentar atrair público e ao venderem a imagem de partidos legítimos e jovens, dispostos a dizer o que os políticos tradicionais sequer ousam, sem se importar com as consequências disto.”

O resultado da pesquisa indica que os seguidores online do partido sueco – dois terços deles entre 16 e 20 anos, quase o dobro da média europeia – atuam também no mundo real: 46% são membros formais do DS e 20% estiveram em manifestações da legenda nos últimos seis meses, quatro vezes mais que o normal na Suécia.

Além disso,  os analisados acreditam na política como forma efetiva de responder a suas preocupações (63% votaram no partido em 2010), um cenário a gerar especulações sobre uma ampliação considerável da base atual do partido de 5,7% para 9% na próxima eleição. “Essa porcentagem deve subir, pois há uma grande parcela de jovens que ainda não podiam votar no último ciclo, mas já expressavam sua posição pelo partido.”

Violência

Em meio à eficiente difusão via Facebook da retórica de extrema-direita destes partidos, o estudo identificou que apenas 14% dos apoiadores da legenda sueca consideram a violência aceitável para se chegar a um objetivo, contra 26% na Europa. Por outro lado, na Hungria, 39% dos seguidores do Jobbik acreditam no uso justificável da força.

Birdwell exemplifica essa visão com base no comportamento da Guarda hungára, que manteve relações com o Jobbik. “Ela usa a intimidação ao colocar uniformes e agir como uma organização paramilitar, marchando em bairros de minorias.”

Seguidores de DS e Jobbik na rede social também mostraram baixos níveis de confiança pessoal e institucional, o que indicaria um caminho para o surgimento de indivíduos violentos. O estudo da Demos cita evidências da Pesquisa de Cidadania do Reino Unido a sugerir que esse tipo de comportamento está relacionado à probabilidade de extremismo.

“Pessoas que sentem a ausência de uma forma de expressar suas preocupações pacífica e democraticamente, passarão a crer no uso justificável da violência, principalmente se acreditarem nas visões e propagandas de grupos populistas.”

Um dado interessante, destaca o pesquisador, é que cerca de 22% dos apoiadores do Jobbik no Facebook possuem diploma de curso superior e estão menos propensos a ficar sem emprego que a média nacional: 25% dos húngaros abaixo de 25 anos estão desempregados, contra apenas 10% dos fãs do partido. Ainda assim, eles defendem lemas antissemitas e anticiganos.

Um comportamento pouco usual, mas evidente em momentos de dificuldades para se encontrar postos de trabalho. “Esses indivíduos não parecem ser os perdedores da globalização, o que indica a presença de visões de extrema-direita na classe média húngara e entre jovens educados.”

Os seguidores de ambos os partidos também demostraram preocupação em proteger sua cultura e identidade e, por isso, enxergam a União Europeia como uma ameaça. “Esses grupos não acham que as culturas devem se misturar, uma das premissas do bloco e da globalização. Querem manter na Europa, Estados heterogêneos.”

Na eleição de 2010, o partido Democratas Suecos (DS), de origem neonazista, conseguiu mais de 340 mil votos e pela primeira vez em sua história emplacou 20 deputados no parlamento da Suécia. Na Hungria, o Jobbik tornou-se a legenda de extrema-direita mais bem sucedida das últimas duas décadas, com apenas nove anos de criação e defesa do nacionalismo extremo e visões antissemitas e anti-Roma (ciganos).

Os cenários acima descritos têm ganhado força na Europa, principalmente com o uso do Facebook para atrair participantes (jovens, se possível) a grupos populistas. “A internet e as redes sociais são ferramentas incríveis de recrutamento, mas as legendas tradicionais sentem que não precisam se esforçar neste sentido”, explica Jonathan Birdwell, pesquisador sênior do think tank britânico Demos e um dos autores de dois estudos a analisar as posições de apoiadores no Facebook de partidos de extrema-direita na Suécia e Hungria.

“Os partidos tradicionais estão errados e precisam perceber o quão importante essa e outras mídias sociais são. Não podem confiar apenas nas formas comuns de apoio”, completa, em entrevista a CartaCapital.

 

 

 

Na Suécia, onde 567 pessoas participaram do estudo, os seguidores do partido no Facebook somam 16,6 mil indivíduos, contra 4,6 mil membros oficiais da legenda. Proporção semelhante também pode ser vista na Hungria, que contou com 2,2 mil respondentes. Os números são apenas um indicativo do poder das redes sociais na divulgação da retórica populista.

Um exemplo, aponta o estudo, são os mais de 23 mil ”curtir” da página pessoal de Jimmie Åkesson, líder do DS, contra os 2,8 mil de Fredrik Reinfeldt, atual primeiro ministro do país escandinavo. “Os novos movimentos políticos são mais astutos em tentar atrair público e ao venderem a imagem de partidos legítimos e jovens, dispostos a dizer o que os políticos tradicionais sequer ousam, sem se importar com as consequências disto.”

O resultado da pesquisa indica que os seguidores online do partido sueco – dois terços deles entre 16 e 20 anos, quase o dobro da média europeia – atuam também no mundo real: 46% são membros formais do DS e 20% estiveram em manifestações da legenda nos últimos seis meses, quatro vezes mais que o normal na Suécia.

Além disso,  os analisados acreditam na política como forma efetiva de responder a suas preocupações (63% votaram no partido em 2010), um cenário a gerar especulações sobre uma ampliação considerável da base atual do partido de 5,7% para 9% na próxima eleição. “Essa porcentagem deve subir, pois há uma grande parcela de jovens que ainda não podiam votar no último ciclo, mas já expressavam sua posição pelo partido.”

Violência

Em meio à eficiente difusão via Facebook da retórica de extrema-direita destes partidos, o estudo identificou que apenas 14% dos apoiadores da legenda sueca consideram a violência aceitável para se chegar a um objetivo, contra 26% na Europa. Por outro lado, na Hungria, 39% dos seguidores do Jobbik acreditam no uso justificável da força.

Birdwell exemplifica essa visão com base no comportamento da Guarda hungára, que manteve relações com o Jobbik. “Ela usa a intimidação ao colocar uniformes e agir como uma organização paramilitar, marchando em bairros de minorias.”

Seguidores de DS e Jobbik na rede social também mostraram baixos níveis de confiança pessoal e institucional, o que indicaria um caminho para o surgimento de indivíduos violentos. O estudo da Demos cita evidências da Pesquisa de Cidadania do Reino Unido a sugerir que esse tipo de comportamento está relacionado à probabilidade de extremismo.

“Pessoas que sentem a ausência de uma forma de expressar suas preocupações pacífica e democraticamente, passarão a crer no uso justificável da violência, principalmente se acreditarem nas visões e propagandas de grupos populistas.”

Um dado interessante, destaca o pesquisador, é que cerca de 22% dos apoiadores do Jobbik no Facebook possuem diploma de curso superior e estão menos propensos a ficar sem emprego que a média nacional: 25% dos húngaros abaixo de 25 anos estão desempregados, contra apenas 10% dos fãs do partido. Ainda assim, eles defendem lemas antissemitas e anticiganos.

Um comportamento pouco usual, mas evidente em momentos de dificuldades para se encontrar postos de trabalho. “Esses indivíduos não parecem ser os perdedores da globalização, o que indica a presença de visões de extrema-direita na classe média húngara e entre jovens educados.”

Os seguidores de ambos os partidos também demostraram preocupação em proteger sua cultura e identidade e, por isso, enxergam a União Europeia como uma ameaça. “Esses grupos não acham que as culturas devem se misturar, uma das premissas do bloco e da globalização. Querem manter na Europa, Estados heterogêneos.”

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