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Brasil e Irã se distanciaram sob Dilma, diz analista

Prova do distanciamento, iniciado desde a posse da presidenta, é que o Brasil ficou de fora da visita de Ahmadinejad à América Latina

Mahmoud Ahmadinejad veio à América Latina e não passou pelo Brasil, um indício de distanciamento político. Foto: Ruzbeh Jadidoleslam/AP
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O ano de 2011 evidenciou, apesar das negativas do Itamaraty, um afastamento entre Brasil e Irã. A distância pôde ser percebida antes mesmo das duras declarações de Ali Akbar Javanfekr, porta-voz pessoal do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, contra a política externa de Dilma Rousseff para a República Islâmica, de acordo com Reginaldo Mattar Nasser, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e especialista em relações internacionais.

Em meio às afirmações do Itamaraty de que ambos os países mantêm os mesmo laços do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Nasser, doutor em ciências sociais, aponta que o primeiro sinal de mudança na relação com o Irã aconteceu após a crítica de Dilma ao tratamento dado pela nação persa a Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada à morte por supostamente ter sido cúmplice na morte do marido.

“Desde esse episódio, houve um conjunto de pequenas ações que remontam a um quadro diferente da política de Lula”, diz.

Na visão do Itamaraty, contudo, as declarações de Javanfekr, chefe da agência de notícias estatal iraniana Irna, ao jornal Folha de S.Paulo, são “pessoais e não refletem a realidade”.

O porta-voz afirmou, em tom incomum na diplomacia internacional, que desde a posse de Dilma, Brasil e Irã se afastaram, pois a presidenta “golpeou tudo que Lula havia feito” na relação com o país e “destruiu anos de bom relacionamento.”

Questionado por CartaCapital, o Ministério das Relações Internacionais informou que não havia motivos para se pronunciar a respeito das críticas porque “a relação dos países continua correta e não compartilhamos essa óptica.”

Mas um ponto simbólico, aponta o analista, contradiz o pronunciamento do Itamaraty e indica uma clara mudança na relação entre os países: a passagem de Ahmadinejad pela América Latina sem incluir o Brasil no roteiro. “Mesmo que o Irã tenha optado por não pedir ao Itamaraty uma visita oficial, isso mostra o receio do país em ter sua solicitação negada ou ver o presidente ser recebido por membros do segundo escalão.”

De acordo com Nasser, a política do governo Dilma em relação ao Irã também traz diferenciais na questão nuclear. Em 2010, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayip Erdogan, trabalharam para concluir um acordo que enviaria ao Irã urânio enriquecido fora do país, evitando o processamento do material na República Islâmica. A negociação, porém, não foi considerada válida pelas potências mundiais.

“Atualmente, há um silêncio do Brasil e não houve manifestação clara a respeito da questão nuclear desde a publicação do relatório da Agência Internacional de Energia Atómica (Aiea) no final do último ano”, destaca, em referência ao documento do órgão da ONU que apontou indícios de intenção armamentista no programa nuclear iraniano.

O analista afirma que outros países se manifestaram a respeito e discutiram inclusive sanções econômicas contra o Irã, como o embargo dos 27 países da União Europeia ao petróleo iraniano aprovado nesta segunda-feira 23. “O governo está em silêncio, o que é significativo se comparado ao arrojo de Lula naquele momento.”

Nasser acredita ainda que o comportamento brasileiro pode indicar uma alteração de postura em um cenário mais amplo. “A abordagem de Lula em relação ao Irã visava se contrapor às grandes potências, mostrar voz própria para inserir o Brasil e outros emergentes no cenário internacional”, diz. E completa: “Se o País está se abstendo de se manifestar sobre o assunto, precisamos ficar atentos em relação a outros temas políticos e econômicos que poderiam vir pela frente.”

O ano de 2011 evidenciou, apesar das negativas do Itamaraty, um afastamento entre Brasil e Irã. A distância pôde ser percebida antes mesmo das duras declarações de Ali Akbar Javanfekr, porta-voz pessoal do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, contra a política externa de Dilma Rousseff para a República Islâmica, de acordo com Reginaldo Mattar Nasser, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e especialista em relações internacionais.

Em meio às afirmações do Itamaraty de que ambos os países mantêm os mesmo laços do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Nasser, doutor em ciências sociais, aponta que o primeiro sinal de mudança na relação com o Irã aconteceu após a crítica de Dilma ao tratamento dado pela nação persa a Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada à morte por supostamente ter sido cúmplice na morte do marido.

“Desde esse episódio, houve um conjunto de pequenas ações que remontam a um quadro diferente da política de Lula”, diz.

Na visão do Itamaraty, contudo, as declarações de Javanfekr, chefe da agência de notícias estatal iraniana Irna, ao jornal Folha de S.Paulo, são “pessoais e não refletem a realidade”.

O porta-voz afirmou, em tom incomum na diplomacia internacional, que desde a posse de Dilma, Brasil e Irã se afastaram, pois a presidenta “golpeou tudo que Lula havia feito” na relação com o país e “destruiu anos de bom relacionamento.”

Questionado por CartaCapital, o Ministério das Relações Internacionais informou que não havia motivos para se pronunciar a respeito das críticas porque “a relação dos países continua correta e não compartilhamos essa óptica.”

Mas um ponto simbólico, aponta o analista, contradiz o pronunciamento do Itamaraty e indica uma clara mudança na relação entre os países: a passagem de Ahmadinejad pela América Latina sem incluir o Brasil no roteiro. “Mesmo que o Irã tenha optado por não pedir ao Itamaraty uma visita oficial, isso mostra o receio do país em ter sua solicitação negada ou ver o presidente ser recebido por membros do segundo escalão.”

De acordo com Nasser, a política do governo Dilma em relação ao Irã também traz diferenciais na questão nuclear. Em 2010, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayip Erdogan, trabalharam para concluir um acordo que enviaria ao Irã urânio enriquecido fora do país, evitando o processamento do material na República Islâmica. A negociação, porém, não foi considerada válida pelas potências mundiais.

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