Mundo

Espírito natalino para valer

O ambiente em Cracóvia é mais propício para festejar o nascimento de Jesus do que shopping centers

O ambiente em Cracóvia é, de fato, mais propício para essa época festiva do que shopping centers. Por Tomek Kostecka
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De Cracóvia

Um espesso tapete de neve cobre Cracóvia, o que ajuda a instilar no cidadão o clima natalino.

Até Tomek Skodzinski, um artista gráfico ateu de 31 anos, aprecia as tradições dessa época em que se comemora o nascimento de Jesus de Nazaré. “Aprecio esse clima festivo que traz à tona o folclore de Cracóvia e da Polônia”, observa.

Aqui, a maior praça medieval da Europa, a Rynek Glówny, aglutina as pessoas e as faz, queiram ou não, sentir o espírito natalino.

O ambiente em Cracóvia é, de fato, mais propício para essa época festiva do que shopping centers.

Grupos uniformizados entoam canções natalinas. Abundam shows de danças folclóricas. Barracas de madeira espalhadas pela majestosa praça cercada por palácios medievais multicoloridos e igrejas góticas vendem cerâmicas, velas, roupas…

Algumas delas servem pratos de salsichas, repolho, cogumelos, batatas cozidas ou fritas, sopas, etc. A fumaça das grelhas serve como calefação. E, animados por um copo de vinho quente, numerosos são aqueles a sentar-se ao redor de mesas rústicas para almoçar ou jantar… ao ar livre.

Ainda na segunda-feira 24 vejo pessoas atravessando a praça com suas árvores de Natal. Segundo a tradição polonesa, a árvore deve ser montada e devidamente ornada no dia 24.

Não há crianças, como no Brasil e mundo afora, no colo do Papai Noel. De fato, o senhor vestido de vermelho caminha pela majestosa praça sem atrair grande atenção. Em Cracóvia não se sabe se foi um tio ou a mãe quem deu presentes: “Foram entregues pelos anjos”.

Nada mais democrático, visto que não se distingue quem deu o presentão daquele a oferecer o presentinho.

Antes da ceia do dia 24, durante a qual são servidos 12 pratos (entre outros, sopas, peixes, especialmente carpa, pratos com cogumelos – a carne é proibida), são distribuídos os Oplateks, hóstias em forma retangular.

Essa parte, devo confessar, é meio chata – embora a respeite porque o ato revive a partilha do pão, como na Eucaristia Bíblica. As pessoas então quebram um pequeno pedaço da hóstia e a trocam pelo pedaço das hóstias de cada um dos presentes. Enquanto fazem isso trocam também votos de um futuro ainda melhor.

Para mim, o ponto alto da comemoração são os presépios, uma invenção de São Francisco de Assis no século XIII. Embora tenham também aqueles que conhecemos mundo afora, os cracovianos chamam esses outros presépios de Szopki Krakowskie (presépios de Cracóvia).

Aqueles Szopki expostos no Museu Histórico de Cracóvia, na praça Rynek, são instalações, ou palacetes inspirados nas torres de igrejas de Cracóvia. Remontam ao final do século XVIII. São reluzentes, podem ser minimalistas ou chegar a três metros. No início, eram feitos de papel de alumínio colorido, papel, cartão e madeira. Hoje usam materiais mais sofisticados e eletricidade.

 

A figura central nessas instalações é o menino Jesus. Mas os artistas, adultos amadores e profissionais e crianças, mesclam religião com símbolos da cidade. Uma das figuras mais simbólicas é o dragão do Castelo Wawel, onde viviam os reis da Polônia até o século XVI, quando Cracóvia deixou de ser capital.

O dragão, diz a lenda, vivia em uma gruta no sopé da colina do castelo e comia os animais dos pastores. Um jovem sapateiro teve uma grande ideia: deixou um carneiro repleto de enxofre e alcatrão diante da gruta. Após ter ingerido o carneiro na manhã seguinte , o sedento dragão tomou tanta água do rio Vístula, diante do Wawel, que a explosão de sua barriga despertou a cidade. Os cidadãos encontraram pedaços do dragão espalhados por Cracóvia.

Essa mescla de lendas, tradições e religião inspiram não somente crianças diante dos Szopki, mas faz com que até agnósticos curtam o espírito natalino de Cracóvia.

De Cracóvia

Um espesso tapete de neve cobre Cracóvia, o que ajuda a instilar no cidadão o clima natalino.

Até Tomek Skodzinski, um artista gráfico ateu de 31 anos, aprecia as tradições dessa época em que se comemora o nascimento de Jesus de Nazaré. “Aprecio esse clima festivo que traz à tona o folclore de Cracóvia e da Polônia”, observa.

Aqui, a maior praça medieval da Europa, a Rynek Glówny, aglutina as pessoas e as faz, queiram ou não, sentir o espírito natalino.

O ambiente em Cracóvia é, de fato, mais propício para essa época festiva do que shopping centers.

Grupos uniformizados entoam canções natalinas. Abundam shows de danças folclóricas. Barracas de madeira espalhadas pela majestosa praça cercada por palácios medievais multicoloridos e igrejas góticas vendem cerâmicas, velas, roupas…

Algumas delas servem pratos de salsichas, repolho, cogumelos, batatas cozidas ou fritas, sopas, etc. A fumaça das grelhas serve como calefação. E, animados por um copo de vinho quente, numerosos são aqueles a sentar-se ao redor de mesas rústicas para almoçar ou jantar… ao ar livre.

Ainda na segunda-feira 24 vejo pessoas atravessando a praça com suas árvores de Natal. Segundo a tradição polonesa, a árvore deve ser montada e devidamente ornada no dia 24.

Não há crianças, como no Brasil e mundo afora, no colo do Papai Noel. De fato, o senhor vestido de vermelho caminha pela majestosa praça sem atrair grande atenção. Em Cracóvia não se sabe se foi um tio ou a mãe quem deu presentes: “Foram entregues pelos anjos”.

Nada mais democrático, visto que não se distingue quem deu o presentão daquele a oferecer o presentinho.

Antes da ceia do dia 24, durante a qual são servidos 12 pratos (entre outros, sopas, peixes, especialmente carpa, pratos com cogumelos – a carne é proibida), são distribuídos os Oplateks, hóstias em forma retangular.

Essa parte, devo confessar, é meio chata – embora a respeite porque o ato revive a partilha do pão, como na Eucaristia Bíblica. As pessoas então quebram um pequeno pedaço da hóstia e a trocam pelo pedaço das hóstias de cada um dos presentes. Enquanto fazem isso trocam também votos de um futuro ainda melhor.

Para mim, o ponto alto da comemoração são os presépios, uma invenção de São Francisco de Assis no século XIII. Embora tenham também aqueles que conhecemos mundo afora, os cracovianos chamam esses outros presépios de Szopki Krakowskie (presépios de Cracóvia).

Aqueles Szopki expostos no Museu Histórico de Cracóvia, na praça Rynek, são instalações, ou palacetes inspirados nas torres de igrejas de Cracóvia. Remontam ao final do século XVIII. São reluzentes, podem ser minimalistas ou chegar a três metros. No início, eram feitos de papel de alumínio colorido, papel, cartão e madeira. Hoje usam materiais mais sofisticados e eletricidade.

 

A figura central nessas instalações é o menino Jesus. Mas os artistas, adultos amadores e profissionais e crianças, mesclam religião com símbolos da cidade. Uma das figuras mais simbólicas é o dragão do Castelo Wawel, onde viviam os reis da Polônia até o século XVI, quando Cracóvia deixou de ser capital.

O dragão, diz a lenda, vivia em uma gruta no sopé da colina do castelo e comia os animais dos pastores. Um jovem sapateiro teve uma grande ideia: deixou um carneiro repleto de enxofre e alcatrão diante da gruta. Após ter ingerido o carneiro na manhã seguinte , o sedento dragão tomou tanta água do rio Vístula, diante do Wawel, que a explosão de sua barriga despertou a cidade. Os cidadãos encontraram pedaços do dragão espalhados por Cracóvia.

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