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Pussy Riot: as ‘revolucionárias’ viraram símbolo da oposição na Rússia

Ao expor tudo de ruim de seu governo no julgamento das três cantoras, Putin cria mais três ‘mártires políticas’ para seus rivais

Yekaterina Samutsevich, Maria Alyokhina e Nadezhda Tolokonnikova, as integrantes do Pussy Riot, durante a audiência nesta sexta-feira, em Moscou. Foto: Natalia Kolesnikova / AFP
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Chegou ao fim nesta sexta-feira 17 o julgamento de três integrantes da banda punk russa Pussy Riot. Presas desde março por realizar um protesto dentro da Catedral de Cristo o Salvador, um famoso templo Ortodoxo em Moscou, Yekaterina Samutsevich, de 29 anos, Nadezhda Tolokonnikova, de 22 anos, e Maria Alyokhina, de 24 anos, foram condenadas a dois anos de prisão por vandalismo e incitação ao ódio religioso. A juíza do caso, Marina Syrova, notou, segundo a AFP, que as três “não expressaram arrependimento por seus atos, violaram a ordem pública e ofenderam os sentimentos dos crentes”. Para as cantoras, a frase deve ter soado como música. Era exatamente esta a intenção da banda em 21 de fevereiro, quando decidiram fazer uma “oração” pedindo para “Maria, mãe de Deus” tirar o presidente Vladimir “Putin do poder”. Com a condenação, o Pussy Riot conseguiu mais que isso. O grupo se tornou mais um nome na lista de símbolos para a cada vez mais corajosa oposição russa.

É provável que nos próximos dias e semanas, Putin tente conter a ascensão das integrantes do Pussy Riot ao patamar de “mártires políticas”. Ele pode, por exemplo, conceder a elas um perdão presidencial, ou elogiar a “curta” sentença que o tribunal proferiu dias depois de ele dizer que esperava um julgamento “não muito duro”. Se preferir deixar as três na cadeia, o presidente russo e seus aliados devem usar com o Pussy Riot a mesma estratégia de dezembro e março, quando classificaram os milhares de manifestantes que foram às ruas protestar contra as eleições fraudadas como agentes estrangeiros, influenciados pelo Ocidente.

No caso do Pussy Riot, eles terão munição para dizer que o Ocidente quer “destruir a Rússia”. A banda teve o apoio de alguns dos maiores nomes da música “ocidental”, como a cantora Madonna e as bandas Red Hot Chilli Pepers, Franz Ferdinand e Faith No More, além de inúmeras instituições de direitos humanos. Nesta sexta-feira, diversos protestos em solidariedade ao grupo foram realizados, majoritariamente em países da Europa Ocidental. Com cartazes e máscaras semelhantes às que o Pussy Riot costuma usar em suas apresentações-protesto relâmpago, pediam que as três fossem inocentadas.

O que não se sabe é se a estratégia de Putin e de seus aliados terá efeito. Os manifestantes que foram às ruas no começo do ano protestar contra as fraudes nas eleições tinham uma série de reivindicações. Em cartazes e gritos de guerra, pediam a democratização, a redução da burocracia e combate à corrupção. No julgamento da integrantes do Pussy Riot, tudo de ruim na Rússia veio à tona. Foram expostas a falta de liberdade de expressão, o autoritarismo do presidente, capaz de interferir no Judiciário, e a violência policial. Em Moscou, onde também houve manifestações pró-Pussy Riot, dezenas de pessoas foram presas e agredidas nesta sexta-feira. Entre elas, o enxadrista e ativista político Garry Kasparov. Também não vai soar bem para uma classe média que protesta pela modernização do país a união entre o Kremlin de Putin e a Igreja Ortodoxa, um vínculo que faz lembrar o czarismo. O próprio protesto do Pussy Riot levantou esta questão. As meninas entraram na catedral em fevereiro para protestar contra o amplo apoio dos líderes religiosos a Putin nas eleições de março.

Ao ouvir a sentença nesta sexta-feira, Yekaterina, Nadezhda e Maria sorriam. Nadezhda, a mais falante do grupo, afirmou ao repórter David M. Herszenhorn, do jornal The New York Times, que as três estavam “felizes”. “Porque deixamos a revolução mais perto”, disse ela. A conclusão da cantora talvez seja ingênua. Putin, um ex-oficial da KGB que mandou um de seus principais opositores para uma prisão na Sibéria, controla com mão de ferro todas as instituições importantes do Estado e exerce enorme controle sobre governos regionais e locais. A classe média russa, que começou a ir às ruas no ano passado, também não parece tão ansiosa por uma revolução, palavra que remete a memórias tétricas no país, mas sim por uma evolução das instituições. É certo, entretanto, que Putin comete inúmeros erros que ajudam a estimular apelos revolucionários. Alçar uma banda punk revolucionária ao posto de símbolo da luta política é o mais novo deles.

Chegou ao fim nesta sexta-feira 17 o julgamento de três integrantes da banda punk russa Pussy Riot. Presas desde março por realizar um protesto dentro da Catedral de Cristo o Salvador, um famoso templo Ortodoxo em Moscou, Yekaterina Samutsevich, de 29 anos, Nadezhda Tolokonnikova, de 22 anos, e Maria Alyokhina, de 24 anos, foram condenadas a dois anos de prisão por vandalismo e incitação ao ódio religioso. A juíza do caso, Marina Syrova, notou, segundo a AFP, que as três “não expressaram arrependimento por seus atos, violaram a ordem pública e ofenderam os sentimentos dos crentes”. Para as cantoras, a frase deve ter soado como música. Era exatamente esta a intenção da banda em 21 de fevereiro, quando decidiram fazer uma “oração” pedindo para “Maria, mãe de Deus” tirar o presidente Vladimir “Putin do poder”. Com a condenação, o Pussy Riot conseguiu mais que isso. O grupo se tornou mais um nome na lista de símbolos para a cada vez mais corajosa oposição russa.

É provável que nos próximos dias e semanas, Putin tente conter a ascensão das integrantes do Pussy Riot ao patamar de “mártires políticas”. Ele pode, por exemplo, conceder a elas um perdão presidencial, ou elogiar a “curta” sentença que o tribunal proferiu dias depois de ele dizer que esperava um julgamento “não muito duro”. Se preferir deixar as três na cadeia, o presidente russo e seus aliados devem usar com o Pussy Riot a mesma estratégia de dezembro e março, quando classificaram os milhares de manifestantes que foram às ruas protestar contra as eleições fraudadas como agentes estrangeiros, influenciados pelo Ocidente.

No caso do Pussy Riot, eles terão munição para dizer que o Ocidente quer “destruir a Rússia”. A banda teve o apoio de alguns dos maiores nomes da música “ocidental”, como a cantora Madonna e as bandas Red Hot Chilli Pepers, Franz Ferdinand e Faith No More, além de inúmeras instituições de direitos humanos. Nesta sexta-feira, diversos protestos em solidariedade ao grupo foram realizados, majoritariamente em países da Europa Ocidental. Com cartazes e máscaras semelhantes às que o Pussy Riot costuma usar em suas apresentações-protesto relâmpago, pediam que as três fossem inocentadas.

O que não se sabe é se a estratégia de Putin e de seus aliados terá efeito. Os manifestantes que foram às ruas no começo do ano protestar contra as fraudes nas eleições tinham uma série de reivindicações. Em cartazes e gritos de guerra, pediam a democratização, a redução da burocracia e combate à corrupção. No julgamento da integrantes do Pussy Riot, tudo de ruim na Rússia veio à tona. Foram expostas a falta de liberdade de expressão, o autoritarismo do presidente, capaz de interferir no Judiciário, e a violência policial. Em Moscou, onde também houve manifestações pró-Pussy Riot, dezenas de pessoas foram presas e agredidas nesta sexta-feira. Entre elas, o enxadrista e ativista político Garry Kasparov. Também não vai soar bem para uma classe média que protesta pela modernização do país a união entre o Kremlin de Putin e a Igreja Ortodoxa, um vínculo que faz lembrar o czarismo. O próprio protesto do Pussy Riot levantou esta questão. As meninas entraram na catedral em fevereiro para protestar contra o amplo apoio dos líderes religiosos a Putin nas eleições de março.

Ao ouvir a sentença nesta sexta-feira, Yekaterina, Nadezhda e Maria sorriam. Nadezhda, a mais falante do grupo, afirmou ao repórter David M. Herszenhorn, do jornal The New York Times, que as três estavam “felizes”. “Porque deixamos a revolução mais perto”, disse ela. A conclusão da cantora talvez seja ingênua. Putin, um ex-oficial da KGB que mandou um de seus principais opositores para uma prisão na Sibéria, controla com mão de ferro todas as instituições importantes do Estado e exerce enorme controle sobre governos regionais e locais. A classe média russa, que começou a ir às ruas no ano passado, também não parece tão ansiosa por uma revolução, palavra que remete a memórias tétricas no país, mas sim por uma evolução das instituições. É certo, entretanto, que Putin comete inúmeros erros que ajudam a estimular apelos revolucionários. Alçar uma banda punk revolucionária ao posto de símbolo da luta política é o mais novo deles.

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