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Beppe Grillo, o comediante que bagunçou a política italiana

O ‘enfant terrible’ da campanha eleitoral produziu manchetes com declarações contra os políticos. Agora poderá ter papel decisivo na formação do próximo governo

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Seus seguidores são chamados na Itália de grillini, ou seja, grilhinhos. E, de fato, Beppe Grillo, de 64 anos, parece representar uma espécie de figura paterna para eles. Em praça pública, ele escancara a raiva e o desdém pelo sistema político italiano – uma postura compartilhada por muita gente depois da série de escândalos dos últimos anos no país. Para manter uma comunicação direta com seus eleitores, ele usa, com sucesso, a internet.

Grillo, que se tornou conhecido no país como ator e comediante, entrou tarde para a vida política. Em 2009, fundou seu partido, o Movimento Cinco Estrelas. Já em 2007 organizava dias de protesto no país, levando milhares de pessoas às ruas em manifestações contra os políticos. Além disso, Grillo é responsável por um dos mais bem sucedidos blogs da Itália e tem quase um milhão de seguidores no Twitter.

O Movimento Cinco Estrelas saiu das eleições como a terceira maior força política do país. A formação de um governo que não seja ao menos tolerado pelo Cinco Estrelas parece impossível de ser concretizada, já que nenhuma das alianças (seja a de centro-esquerda, seja a de centro-direita) dispõe de maioria na Câmara e no Senado. E uma cooperação entre essas duas forças políticas, lideradas por Pier Luigi Bersani e Silvio Berlusconi, respectivamente, parece também impossível.

No momento, começa a existir uma aproximação ainda tímida entre Bersani e Grillo. “Não existe nenhuma estratégia. Iremos apoiar ideias que estejam de acordo com a nossa linha de pensamento, projeto a projeto”, afirmou Grillo depois da divulgação das primeiras estimativas de resultado do pleito.

            

Aliança difícil

De fato, há algumas interseções entre o Partido Democrático de Bersani e o Movimento Cinco Estrelas. “Beppe Grillo entrou para a política inspirado em seu conflito pessoal com Berlusconi. Essa foi sua motivação principal, com a qual o Partido Democrático pode de certa forma concordar. Há aí um interesse comum”, diz Roman Maruhn, do Instituto Goethe de Palermo.

Mesmo assim, Grillo e Bersani não seguem de forma alguma o mesmo curso político, sobretudo do ponto de vista pessoal. Para Grillo, Bersani faz parte da elite política italiana, sendo, por isso, corresponsável pela situação do país nos últimos anos. O cientista político Luca Verzichelli, da Universidade de Siena, afirma em entrevista à Deutsche Welle que uma aliança entre os dois é, na verdade, “uma missão impossível”.

Mas caso os dois políticos abdiquem de fato de suas respectivas resistências e iniciem um diálogo sério, seria pelo menos possível desenvolver estratégias comuns em alguns pontos. “Introduzir um novo sistema eleitoral, estabilizar a economia, combater os cartéis e reduzir os gastos públicos, sobretudo os benefícios para os políticos – tudo isso poderia fazer parte de um projeto comum. Mas mais do que isso também não”, analisa Verzichelli.

Um segundo Berlusconi?

O arqui-inimigo de Grillo continua sendo Berlusconi. Mas apesar de toda a adversidade, há também pontos em comum entre os dois. As alianças que eles conduzem mantêm-se profundamente focadas em uma única pessoa. Ambos utilizam uma liguagem tosca e são considerados populistas, capazes de arrebatar as massas. E os dois conseguiram levar movimentos políticos recém-criados ao Parlamento.

Mas a comparação para por aí, observa Maruhn. “Pelo que se sabe, Grillo comporta-se de maneira correta em relação às mulheres. E leva, pelo que consta, uma vida privada normal.” Além disso, do ponto de vista político, Grillo é uma reação a Berlusconi, responsável por angariar votos de um eleitorado de centro-esquerda.

Grillo tem ainda um outro ponto em comum com Berlusconi: ambos já enfrentaram conflitos jurídicos pesados. Berlusconi foi condenado por sonegação fiscal e enfrenta vários outros processos. Grillo tem antecedentes criminais em função de um acidente de trânsito nos anos 1980, em consequência do qual muitas pessoas morreram. Ele foi condenado por homicídio culposo.

 

Autor: Marcus Lütticke (sv)


Revisão: Alexandre Schossler


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