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Banco de dados online cataloga atrocidades de conflito na Síria

Em Berlim, dois jovens desenvolveram um arquivo de vídeos da guerra. Plataforma é usada como fonte pela ONU e pela Anistia Internacional

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Por Ben Knight

Trabalhando de suas casas em Berlim com um financiamento de apenas 3 mil euros, dois jovens criaram o Arquivo Sírio, um banco de dados das atrocidades ocorridas na Síria durante a guerra civil no país.

O portal de internet (syrianarchive.org), apresentado no Chaos Computer Club de Hamburgo na semana passada, documentou até o momento mais de 2,2 mil ações ilegais no conflito, que já dura cinco anos e meio. O trabalho é feito com a ajuda de uma rede de voluntários em todo o mundo, especialmente na Síria, que verificam o material.

A plataforma é utilizada como fonte pela ONU e pelas ONGs Anistia Internacional e Human Rights Watch, além de juristas e ativistas em todo o mundo.

O banco de dados coleta filmagens amadoras, muitas disponibilizadas no Youtube, que mostram as consequências de bombardeios a hospitais ou ataques com bombas de fragmentação, gás cloro e outras armas ilegais. Os arquivos trazem informações sobre local, data de gravação e fonte.

Os dados podem ser filtrados de acordo com vários critérios, como o tipo de armamento utilizado, além de categorias sugeridas pela Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre a Síria, estabelecida pelo Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos.

Entre as categorias estão “deslocamentos forçados e arbitrários”, “saques e roubos”, “tomadas de reféns”, “tortura e maus tratos” e “massacres”. Há também um filtro especial para “supostas perdas civis resultantes de ataques russos”.

Tentativa de comprovar atrocidades
Os criadores do arquivo – Hadi al Khatib, que chegou a Berlim da Síria em 2011, e Jeff Deutch – dizem que o objetivo principal é fazer com que as atrocidades sejam comprováveis em futuras investigações legais. Eles também esperam que o banco de dados seja utilizado por veículos de imprensa. Eles explicam que apesar de haver uma enorme proliferação de vídeos da Síria nas redes sociais, há uma falta de padronização e catalogação. Muitas dessas filmagens e os metadados que comprovam onde elas foram feitas se perdem com facilidade.

Al Khatib e Deutch tiveram a ideia do arquivo quando trabalhavam com advogados dos direitos humanos no sul da Turquia, em 2014. Al Khatib, que assegura não pertencer a nenhum dos grupos de oposição na Síria, ajudou os juristas a coletar evidências em vídeo sobre violações de direitos humanos que poderiam ser utilizadas nos tribunais. “Desde então, trabalho com a sociedade civil síria – jornalistas, advogados e outros – em treinamentos sobre com manter a comunicação mais segura”, afirmou.                                                                                      

A dupla tem relações de longa data com algumas das fontes. “Seguimos os perfis nas redes sociais de pessoas que verificamos anteriormente e baixamos vídeos desses canais diariamente”, afirma Deutch. Eles, porém, estão sempre à procura de pessoas na Síria, como ativistas dos direitos humanos, jornalistas, repórteres cidadãos e outros, para, como consta na seção “Junte-se a nós” do portal, reunir um número maior de provas.

Há, porém, o inevitável problema de verificar as fontes numa zona de guerra. Por essa razão, eles estabeleceram procedimentos de verificação, no qual observam há quanto tempo e de onde as fontes relatam os acontecimentos.

“Temos uma lista de perguntas que temos de fazer, além de ver se eles estão familiarizados com a nossa rede de ativistas e se os relatos que fizeram no passado eram confiáveis”, explica Deutch. Ele e Al Khatib verificam se as novas fontes fornecem de fato materiais originais ou apenas reúnem filmagens de outras origens.

Neutralidade
O Arquivo Sírio faz questão de ressaltar que relata atrocidades cometidas por todas as partes envolvidas no conflito, apesar de Al Khatib admitir que algumas fontes podem ser afiliadas a determinados grupos.

“Eles podem ser parte de grupos específicos, ou defender certos interesses, mas isso não é o que observamos”, afirma. “Analisamos as provas de vídeo que eles publicam para entender o que está acontecendo em determinados momentos e se está relacionado a outros incidentes.” 

“Recebemos vídeos de todos os lados do conflito para tentarmos ser o mais imparciais possível”, acrescenta Deutch.

O Arquivo Sírio compartilha as evidências que coleta com o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos, em Genebra. Também estabeleceu uma parceria com a Corporação de Verificação Digital da Anistia Internacional, um programa no qual estudantes de Direito de todo o mundo selecionam evidências em meio à enorme quantidade de filmagens que proliferam de zonas de guerra.

Ao longo de 2017, o Arquivo Sírio planeja colaborar mais estreitamente com advogados que trabalham em casos na Síria.

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