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As promessas de Trump colocadas à prova

O republicano prometeu série de mudanças ao longo da campanha, mas o que ele deve conseguir de fato realizar?

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A vitória de Donald Trump nas eleições americanas foi recebida como um terremoto político. E isso muito por conta do temor de que suas promessas de campanha pudessem mexer com as relações econômicas e o balanço de poder global.

Mas, passado o choque inicial, o que de fato ele conseguirá pôr em prática?

México e imigração 

Na fronteira com o México, o futuro presidente quer construir um muro com 12 metros de altura. Os custos devem ser assumidos apenas pelo México. Só que esse projeto parece estar sendo relativizado. Ao futuro governo ainda resta esclarecer como os mexicanos vão pagar por essa conta. Para os contribuintes americanos isso quer dizer que os custos podem acabar saindo de seus bolsos.

A empresa de consultoria americana Bernstein Research estima que a construção custará entre 15 e 25 bilhões de dólares. Já os custos anuais de manutenção devem ser de 3,5 bilhões de dólares. De acordo com os analistas da Bernstein, nenhuma empresa americana é capaz de produzir os materiais necessários para os projetos. Uma companhia que pode ser capaz de atender essa demanda é a Cemex, uma grande produtora de materiais de construção – que é baseada no México.

Já a promessa de Trump de estabelecer uma proibição à entrada de muçulmanos parece fora de questão. Em vez disso, ele anunciou proibir a entrada de cidadãos de países que têm “inclinação para o terrorismo”. Ele não especificou, porém, que países são esses.

Economia e mercado de trabalho 

O bilionário quer também rejeitar acordos com Estados do Pacífico e o acordo Nafta entre os EUA, Canadá e México. Especialistas apontam, no entanto, que esses acordos não incluem apenas taxas alfandegárias, mas também proteção para a propriedade intelectual e para investimentos. Nas últimas décadas, empresas americanas investiram bilhões no México e no Canadá.

De acordo com declarações de Gabriel Felbermayr, diretor do Ifo Center em Münster, ao jornal Die Welt, essas propriedades e investimentos ficarão em perigo sem as proteções de um acordo supranacional, podendo mesmo ser expropriadas.

Até mesmo Trump pode sair pessoalmente prejudicado, já que sua empresa possui hotéis no México. Em vez de sair, os EUA provavelmente vão renegociar termos e condições a seu favor, opina o economista.

Protecionismo, impostos e China 

Os planos econômicos de Trump envolvem forçar, por meio de ameaças de imposição de taxas, empresas estrangeiras e americanas a produzir e criar mais empregos nos EUA.

As ameaças já tiveram efeito. A Ford interrompeu a construção de uma nova fábrica no México, e a Toyota e a General Motors anunciaram bilhões em investimentos nos EUA. A empresa alemã Bayer, que ainda busca aprovação governamental para a compra do grupo agroquímico americano Monsanto, anunciou que pretende investir em pesquisas oito bilhões de dólares nos EUA pelos próximos seis anos.

Também está previsto que a China pague mais taxas pela exportação de seus produtos. Contudo, a implementação de mais impostos ao país é incerta, e o fator que complica o cenário é a Coreia do Norte e seu programa nuclear. Os EUA dependem muito de Pequim nessa área. Além disso, companhias americanas temem serem penalizadas ao fazer negócios com a China.

Uma guerra comercial entre os EUA e a China não ajuda a proteger empregos, afirma William Zarit, presidente da Câmara de Comércio Americana em Pequim.

O imposto corporativo americano – que está em torno de 39% – é um dos mais altos do mundo. Enfatizando que quer fortalecer os negócios no país cortando impostos e aliviando a regulamentação, Trump afirmou que reduziria a alíquota para 15%.

Aqueles que vão se beneficiar mais estão principalmente nas classes mais altas da sociedade, justamente a parte do establishment que foi tão criticada por Trump ao longo da campanha. Segundo o jornal alemão Süddeutsche Zeitung, análises apontam que o Tesouro americano deve perder entre 4,4 e 5,9 trilhões de dólares em receitas.

Energia e política climática 

Ainda durante a campanha eleitoral, Trump rejeitou as mudanças climáticas como uma ficção. Agora ele mudou de posição e passou a admitir que o fenômeno pode existir. Em relação ao Acordo de Paris, Trump disse que vai analisar de perto se os EUA devem deixar o tratado. Ele disse estar de cabeça aberta para discutir. No Twitter, afirmou que, primeiro, quer ver qual vai ser o custo do acordo para os negócios americanos e o quanto isso afetar a competitividade.

O seu indicado para chefiar o Departamento de Estado, Rex Tillerson, ex-presidente da petrolífera Exxon Mobil, afirmou que os EUA devem manter um lugar na mesa de negociações.

Os EUA já ratificaram o acordo com base em uma decisão de Barack Obama. Uma eventual saída americana poderia se arrastar por até quatro anos por causa de barreiras administrativas.

Trump é um fã de velhas formas de produzir energia, como o carvão, o gás e o petróleo. Então ele quer tomar medidas para incentivar o fracking e dar continuidade à expansão do controverso oleoduto Keystone, entre os EUA e o Canadá, uma obra criticada por ambientalistas.

OTAN

As afirmações de Trump deixaram muitos assustados, como seu elogio ao presidente russo, Vladimir Putin – um dos primeiros a exaltar sua vitória – em meio ao período de maior tensão entre Rússia e Ocidente desde a Guerra Fria. Também chamaram a atenção suas declarações depreciativas sobre a Otan.

Há dúvidas agora se a obrigação de assistência mútua entre os países da Otan ainda vai persistir sob o governo do novo presidente, depois de Trump ter insinuado que os EUA somente vão defender membros da Aliança Atlântica, como os Países Bálticos, se estes “cumprirem as suas obrigações” em relação aos EUA.

Um sinal de que as coisas não devem sair do campo verbal é a posição do futuro secretário de Estado de Trump, James Mattis, que já destacou a alta importância da Otan, chamando-a de uma aliança militar bem-sucedida, talvez a mais exitosa de todos os tempos.

Saúde e o futuro do Obamacare 

A Câmara dos Representantes já aprovou, no início do ano, uma resolução que é considerada o primeiro passo para revogar e, posteriormente, substituir a reforma da saúde de Obama, conhecida popularmente como Obamacare, que beneficia cerca de 20 milhões de americanos.

O fim do Obamacare também foi uma das promessas da campanha do presidente eleito Donald Trump. Ele quer oferecer o seu próprio seguro saúde “para todos e com preços mais baratos”. Só que mais informações sobre seus planos na área não estão disponíveis.

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