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A conspirata neoliberal

Contra o Euro, contra Obama, contra a democracia. Ocasião de ouro: a derrubada da moeda europeia

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Em toda parte estamos assistindo a uma epidemia de comportamentos criminosos e corruptos nos vértices do capitalismo. Os escândalos bancários não representam exceções nem erros, são fruto de fraudes sistêmicas, de uma avidez e arrogância sempre mais difundidas.”

A autor dessa declaração, poucas semanas atrás, não é um líder bolivariano ou um jovem contestador do movimento Occupy Wall Street. Trata-se do renomado professor americano Jeffrey Sachs, economista que outrora flertou com o neoliberalismo, consultor do BM, FMI e ONU, entre outros atributos. Por sorte, Sachs não está só na batalha de ideias que ocorre, finalmente, contra o modelo econômico dominante: numerosas vozes do mundo acadêmico e da intelligentzia internacional, protestos dos jovens, alguns governos do Hemisfério Sul e, mais recentemente, parte da Europa, fazem parte da minoritária tropa. Já é alguma coisa, mas é dramaticamente pouco para domar a fera do capitalismo selvagem.

Resulta particularmente perigoso é que, paralelamente, foi desencadeado um ataque sem precedentes à evolução democrática do chamado Ocidente. Nestas cruciais semanas de agosto, acho importante conferir uma leitura política, precisa e sem nuances, aos acontecimentos econômico-financeiros europeus, de sorte a aumentar a atenção sobre os riscos deste momento, inclusive nas nossas latitudes.

O epicentro da guerra em curso – que não utiliza armas de destruição física, mas visa igualmente a férrea submissão de homens a outros homens – encontra-se hoje na Europa, com ataques especulativos furiosos contra os países mais frágeis do Euro. O objetivo estratégico, evidentemente, não é a falência deste ou daquele país, mas o fracasso ruinoso da experiência da moeda única e do processo de integração europeia.

Uma vez superado o momento agudo da crise bancária em 2008, graças ao socorro providencial dos governos centrais, o sistema financeiro neoliberal conseguiu evitar qualquer satisfação à pressão da Administração Obama para o estabelecimento de novas regras e controles. Diante da aliança lobista entre Wall Street, a City londrina, Fundos Hedge e bancos de investimento americanos que administram, entre outros, os imensos tesouros dos paraísos fiscais, até mesmo o mais poderoso governo do planeta teve de baixar a crista. Ainda assim, foi dado o sinal de que a política quer enfrentar o problema. Juntamente com um novo clima geral, os donos dos mercados (vale lembrar: poucas dezenas de grupos de poder multinacional) perceberam recentemente outros sinais “subversivos”, como a vitória socialista na França e a onda de críticas teórico-ideológicas, inimaginável na fase precedente do pensamento único.

Qual ocasião melhor que a derrubada do Euro, para reverter a própria momentânea fraqueza em um sucesso histórico? A inadequada arquitetura do sistema político e financeiro da Europa tem se manifestado de forma patente, com lutas e contradições internas que podem provocar paralisia fatal. Resulta claro que a sobrevivência do Euro se liga de forma indissolúvel à aceleração da união política federal, fortalecimento que representaria ameaça gravíssima para os senhores das finanças. Por outro lado, se a zona da moeda europeia precipitar-se em uma depressão ainda mais aguda – comprometendo a fraca recuperação americana –os donos dos mercados alcançariam o primeiro objetivo de curto prazo: a derrota de Obama pelo reacionário integralista Romney, aliado político por definição. Uma vez eliminado o inimigo principal, seria mais fácil o ataque final à moeda antagônica e, com essa, a definitiva humilhação do quanto resta do modelo social europeu.

Enormes lucros especulativos, dizem os especialistas, escondem-se por trás da constante conspiração de Wall Street & cia. contra o Euro. A possível explosão da União Europeia e a volta às antigas moedas nacionais, ademais, abriria pradarias a novas incursões bárbaras, com compras de bens, territórios e almas do Velho Continente a preços de saldo.

Fantapolítica, como dizem os italianos? A realidade dos fatos nos diz que a bandidagem do capitalismo contemporâneo supera as piores fantasias.

A integração europeia, com todos os limites, representa um exemplo decisivo para similares processos como o Mercosul, uma experiência democrática e um modelo de pacificação acompanhados por crescimento econômico e políticas sociais sem paralelo. A desgraçada hipótese de sua derrota pode representar uma involução da civilização ocidental com consequências inimagináveis no mundo inteiro. A manutenção e possível evolução virtuosa de tal experiência enfrenta inimigos mortais e, hoje, necessita da aliança vitoriosa entre progressistas e federalistas europeus. Seria importante que os aliados destes, se existem, se manifestassem já.

Em toda parte estamos assistindo a uma epidemia de comportamentos criminosos e corruptos nos vértices do capitalismo. Os escândalos bancários não representam exceções nem erros, são fruto de fraudes sistêmicas, de uma avidez e arrogância sempre mais difundidas.”

A autor dessa declaração, poucas semanas atrás, não é um líder bolivariano ou um jovem contestador do movimento Occupy Wall Street. Trata-se do renomado professor americano Jeffrey Sachs, economista que outrora flertou com o neoliberalismo, consultor do BM, FMI e ONU, entre outros atributos. Por sorte, Sachs não está só na batalha de ideias que ocorre, finalmente, contra o modelo econômico dominante: numerosas vozes do mundo acadêmico e da intelligentzia internacional, protestos dos jovens, alguns governos do Hemisfério Sul e, mais recentemente, parte da Europa, fazem parte da minoritária tropa. Já é alguma coisa, mas é dramaticamente pouco para domar a fera do capitalismo selvagem.

Resulta particularmente perigoso é que, paralelamente, foi desencadeado um ataque sem precedentes à evolução democrática do chamado Ocidente. Nestas cruciais semanas de agosto, acho importante conferir uma leitura política, precisa e sem nuances, aos acontecimentos econômico-financeiros europeus, de sorte a aumentar a atenção sobre os riscos deste momento, inclusive nas nossas latitudes.

O epicentro da guerra em curso – que não utiliza armas de destruição física, mas visa igualmente a férrea submissão de homens a outros homens – encontra-se hoje na Europa, com ataques especulativos furiosos contra os países mais frágeis do Euro. O objetivo estratégico, evidentemente, não é a falência deste ou daquele país, mas o fracasso ruinoso da experiência da moeda única e do processo de integração europeia.

Uma vez superado o momento agudo da crise bancária em 2008, graças ao socorro providencial dos governos centrais, o sistema financeiro neoliberal conseguiu evitar qualquer satisfação à pressão da Administração Obama para o estabelecimento de novas regras e controles. Diante da aliança lobista entre Wall Street, a City londrina, Fundos Hedge e bancos de investimento americanos que administram, entre outros, os imensos tesouros dos paraísos fiscais, até mesmo o mais poderoso governo do planeta teve de baixar a crista. Ainda assim, foi dado o sinal de que a política quer enfrentar o problema. Juntamente com um novo clima geral, os donos dos mercados (vale lembrar: poucas dezenas de grupos de poder multinacional) perceberam recentemente outros sinais “subversivos”, como a vitória socialista na França e a onda de críticas teórico-ideológicas, inimaginável na fase precedente do pensamento único.

Qual ocasião melhor que a derrubada do Euro, para reverter a própria momentânea fraqueza em um sucesso histórico? A inadequada arquitetura do sistema político e financeiro da Europa tem se manifestado de forma patente, com lutas e contradições internas que podem provocar paralisia fatal. Resulta claro que a sobrevivência do Euro se liga de forma indissolúvel à aceleração da união política federal, fortalecimento que representaria ameaça gravíssima para os senhores das finanças. Por outro lado, se a zona da moeda europeia precipitar-se em uma depressão ainda mais aguda – comprometendo a fraca recuperação americana –os donos dos mercados alcançariam o primeiro objetivo de curto prazo: a derrota de Obama pelo reacionário integralista Romney, aliado político por definição. Uma vez eliminado o inimigo principal, seria mais fácil o ataque final à moeda antagônica e, com essa, a definitiva humilhação do quanto resta do modelo social europeu.

Enormes lucros especulativos, dizem os especialistas, escondem-se por trás da constante conspiração de Wall Street & cia. contra o Euro. A possível explosão da União Europeia e a volta às antigas moedas nacionais, ademais, abriria pradarias a novas incursões bárbaras, com compras de bens, territórios e almas do Velho Continente a preços de saldo.

Fantapolítica, como dizem os italianos? A realidade dos fatos nos diz que a bandidagem do capitalismo contemporâneo supera as piores fantasias.

A integração europeia, com todos os limites, representa um exemplo decisivo para similares processos como o Mercosul, uma experiência democrática e um modelo de pacificação acompanhados por crescimento econômico e políticas sociais sem paralelo. A desgraçada hipótese de sua derrota pode representar uma involução da civilização ocidental com consequências inimagináveis no mundo inteiro. A manutenção e possível evolução virtuosa de tal experiência enfrenta inimigos mortais e, hoje, necessita da aliança vitoriosa entre progressistas e federalistas europeus. Seria importante que os aliados destes, se existem, se manifestassem já.

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