Economia

Um país improvável

Na Espanha, as coisas vão mal e o governo paga insustentáveis 6,3% de juros ao ano. No Brasil, onde as coisas bem, paga-se 9%

Protestos de espanhóis em Madri: a crise segue plena no país, mas a taxa de juros ainda é bem mais baixa que a brasileira. Fotos: Marta Maeso
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Na terça-feira 3 de abril, o governo de Dilma Rousseff lançou seu mais ousado programa de incentivos à indústria. O pacote, calculou então o Ministério da Fazenda, incluía desonerações fiscais que chegavam a 60,4 bilhões de reais, valor a ser “liberado” em doses mensais, a partir de junho, quando as medidas entrarão de fato em vigor, e as indústrias beneficiadas passarão a economizar em impostos.

Àquela altura, o jurômetro online da Fiesp informava: o governo havia pago desde janeiro 59,4 bilhões de reais em juros aos detentores de títulos da dívida pública federal, bancos, hedge funds e fundos de pensão em particular.

Passados 42 dias desde o anúncio presidencial, como andam esses números? O jurômetro da indústria segue bombando em ritmo de acelerado. Na manhã desta terça-feira 15, passava feito um foguete pela marca dos 82,5 bilhões de reais transferidos aos mesmos possuidores de títulos públicos. Daria para construir 82 mil escolas. Ou 62 mil quilômetros de rodovias. Ou 1,4 milhão de casas populares.

Em pleno olho do furacão da crise do euro, os espanhóis estão em apuros diante da pressão do mercado financeiro. Na mesma manhã da terça-feira 15, os investidores de lá exigem que o governo pague 6,3% de rendimento ao ano, patamar considerado insustentável. Na outra ponta, lembre-se, o Banco Central Europeu empresta a esses mesmos investidores a taxa muita próxima de zero, em uma política ostensiva de subsídio ao sistema financeiro.

Enquanto isso no Brasil do pré-sal e da economia pujante, festeja-se a queda a conta-gotas da Selic e do absurdo custo do crédito. Não estamos no olho do furacão. A construção civil está em alta. O apetite dos chineses pelas commodities, para o bem e para o mal, segue com força. Os mesmos investidores não se cansam de entoar loas à economia brasileira, sua resistência à crise e capacidade de gerar empregos em meio a um cenário inóspito.

A despeito de tudo, os analistas do mercado financeiro assopram à boca miúda que o governo brasileiro anda generoso demais, ao manter a Selic a 9% e indicar que os juros básicos deverão cair mais. Apostam, sorriso cínico nos lábios, que ao fim do ano estará próxima de 8%. Off-the-records, acrescentam que é uma opção tresloucada pelo crescimento a qualquer custo, que mais adiante terá de ser revisto, diante dos riscos embutidos. Enquanto os espanhóis, vale frisar, pagam por ora 6,3% ao ano.

Conclusão: vivemos em um País improvável.

P.S. Quando se leva em conta os juros reais, descontada a inflação projetada para o ano, o Brasil melhora na foto. Estamos com juros reais de 3,3%, ante 4,7% na Espanha em crise. Em ambos os casos, contudo, muito além dos juros reais próximos de zero ou negativos dos EUA, Japão e outros países da Zona do Euro.

Na terça-feira 3 de abril, o governo de Dilma Rousseff lançou seu mais ousado programa de incentivos à indústria. O pacote, calculou então o Ministério da Fazenda, incluía desonerações fiscais que chegavam a 60,4 bilhões de reais, valor a ser “liberado” em doses mensais, a partir de junho, quando as medidas entrarão de fato em vigor, e as indústrias beneficiadas passarão a economizar em impostos.

Àquela altura, o jurômetro online da Fiesp informava: o governo havia pago desde janeiro 59,4 bilhões de reais em juros aos detentores de títulos da dívida pública federal, bancos, hedge funds e fundos de pensão em particular.

Passados 42 dias desde o anúncio presidencial, como andam esses números? O jurômetro da indústria segue bombando em ritmo de acelerado. Na manhã desta terça-feira 15, passava feito um foguete pela marca dos 82,5 bilhões de reais transferidos aos mesmos possuidores de títulos públicos. Daria para construir 82 mil escolas. Ou 62 mil quilômetros de rodovias. Ou 1,4 milhão de casas populares.

Em pleno olho do furacão da crise do euro, os espanhóis estão em apuros diante da pressão do mercado financeiro. Na mesma manhã da terça-feira 15, os investidores de lá exigem que o governo pague 6,3% de rendimento ao ano, patamar considerado insustentável. Na outra ponta, lembre-se, o Banco Central Europeu empresta a esses mesmos investidores a taxa muita próxima de zero, em uma política ostensiva de subsídio ao sistema financeiro.

Enquanto isso no Brasil do pré-sal e da economia pujante, festeja-se a queda a conta-gotas da Selic e do absurdo custo do crédito. Não estamos no olho do furacão. A construção civil está em alta. O apetite dos chineses pelas commodities, para o bem e para o mal, segue com força. Os mesmos investidores não se cansam de entoar loas à economia brasileira, sua resistência à crise e capacidade de gerar empregos em meio a um cenário inóspito.

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