Economia

O pibinho foi fruto de erros de metodologia

Cálculo equivocado do resultado dos bancos pode ter influenciado o resultado do terceiro trimestre de 2012

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Os investimentos ainda não deslancharam e a redução das importações (fruto da demanda fraca) pode ter melhorado o PIB. Mas a divulgação dos dados do terceiro trimestre do ano acabou pegando todos os economistas de calças curtas.

Em artigo no jornal Valor Econômico, o economista Chico Lopes (ex-presidente do Banco Central) levantou uma hipótese a ser considerada: o crescimento de 0,6% no último quadrimestre, contra previsão geral de 1% de todo o mercado e do governo, foi fruto de um erro de metodologia de IBGE, ao não entender adequadamente os efeitos da redução do spread bancário no cálculo do índice.

O PIB é uma medida de valor agregado. Isto é, mede quanto foi o aumento da riqueza em cada setor em determinado período.

No Brasil, os serviços representam 60% do PIB; e os serviços de intermediação financeira 10% dos serviços, ou 6% do PIB. No período, houve um aumento de 17,56% nos empréstimos bancários.

***

O IBGE mede o PIB a preços correntes (sem descontar a inflação) e, depois, em termos reais (descontada a inflação). Para calcular os dados reais, utiliza um índice de preços calculado em cima das contas nacionais, denominado de deflator implícito do PIB.

Nos últimos quatro trimestres – explica Lopes – a preços correntes o PIB aumentou 4,93%; o PIB dos serviços aumentou 7,1%. O deflator implícito do PIB total foi de 4,03%; o dos serviços foi maior, de 1,36%. Descontada a inflação, portanto, o PIB total aumentou 0,87% e o de serviços 1,36%. Até aí, tudo certo.

***

As dúvidas do economista surgiram na hora de analisar a contribuição do setor financeiro ao PIB. Nesse período, houve uma notável redução da taxa Selic, derrubando os spreads bancários. E houve um aumento substancial dos empréstimos bancários em 17,56% a preços correntes. Mas houve uma redução na renda bancária devido à redução do spread.

Outros textos de Luis Nassif:

Na hora de medir os dados, o IBGE constatou que o setor financeiro respondeu por -1,02% no cálculo do PIB real, e -4,95% no cálculo a preços correntes.

Indaga Chico Lopes: “Como é possível que a redução das taxas de juros na economia tenha produzido uma redução do volume de serviços financeiros à disposição da população? Como é possível explicar que a queda da Selic tenha tornado o país mais pobre?”.

***

Tudo decorre da dificuldade em deflacionar os serviços financeiros, especialmente em períodos de mudança nas taxas de juros e nos spreads bancários.

O IBGE utiliza uma metodologia sugerida em 1993 pelo Sistema de Contas Nacionais da ONU.

A renda do setor financeiro é constituída de tarifas (pela prestação de serviços) e do spread (a diferença entre o custo do empréstimo menos o da captação nas operações de crédito). Para esse segundo caso, a metodologia empregada simplesmente multiplica o spread pelo volume total de crédito. Esse conceito é denominado de FISIM, isto é, financial intermediation services indirectly measured.

O problema surge quando se aplica automaticamente o critério em períodos em que há a confluência de três fatores: uma grande remonetização (isto é, aumento da emissão de moeda), expansão do crédito como percentual do PIB e queda importante nas taxas de juros e nos spreads bancários. Esses fatores acabam provocando enorme volatilidade e distorcendo o cálculo do SIFIM.

As distorções do deflator – 1

No Reino Unido, explica Lopes, foram adotadas metodologias justamente para evitar distorções no cálculo do SIFIM, que costuma ser influenciado por alterações dos spreads de juros. Nas notas metodológicas, o IBGE informa que calculou o PIB do setor financeiro a preços constantes, descontando do aumento dos empréstimos o chamado deflator do PIB. É aí que vem a contestação de Chico Lopes.

As distorções do deflator – 2

Nos últimos quatro trimestres, o valor total dos empréstimos do setor financeiro aumentou 17,57%. O deflator implícito do PIB foi de 4,03%. Descontando a inflação dos preços correntes, a variação real do SIFIM deveria ser de 13,02%. Mas, nas contas do IBGE foi de -1,02%. Para chegar a uma variação real de menos -4,95%, o IBGE teria utilizado um deflator de -15,90% e não o deflator implícito do PIB.

As distorções do deflator – 3

Se o IBGE medisse a variação do PIB do setor financeiro pela sua “produção”, descontado o deflator implícito do PIB, haveria um crescimento real de 13,02% do PIB financeiro, em lugar de -1,02%. O PIB do último quadrimestre teria subido 1,19% em vez de 0,6%. Segundo Lopes, esse ajuste fortalece a convicção de que a economia está se recuperando, afastando a paranoia com o “pibinho”.

As distorções do deflator – 4

No dia seguinte ao artigo de Chico Lopes, o jornal repercutiu a fala junto a dois economistas, Armando Castellar e Claudio Considera. Ambos não conseguiram avançar em análises mais aprofundadas sobre os estudos de Lopes. O IBGE respondeu que manteve a mesma metodologia – justamente a base da crítica de Chico Lopes. E o ministro Guido Mantega limitou-se a reclamar dos dados sobre gastos com saúde e educação.

Os investimentos ainda não deslancharam e a redução das importações (fruto da demanda fraca) pode ter melhorado o PIB. Mas a divulgação dos dados do terceiro trimestre do ano acabou pegando todos os economistas de calças curtas.

Em artigo no jornal Valor Econômico, o economista Chico Lopes (ex-presidente do Banco Central) levantou uma hipótese a ser considerada: o crescimento de 0,6% no último quadrimestre, contra previsão geral de 1% de todo o mercado e do governo, foi fruto de um erro de metodologia de IBGE, ao não entender adequadamente os efeitos da redução do spread bancário no cálculo do índice.

O PIB é uma medida de valor agregado. Isto é, mede quanto foi o aumento da riqueza em cada setor em determinado período.

No Brasil, os serviços representam 60% do PIB; e os serviços de intermediação financeira 10% dos serviços, ou 6% do PIB. No período, houve um aumento de 17,56% nos empréstimos bancários.

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O IBGE mede o PIB a preços correntes (sem descontar a inflação) e, depois, em termos reais (descontada a inflação). Para calcular os dados reais, utiliza um índice de preços calculado em cima das contas nacionais, denominado de deflator implícito do PIB.

Nos últimos quatro trimestres – explica Lopes – a preços correntes o PIB aumentou 4,93%; o PIB dos serviços aumentou 7,1%. O deflator implícito do PIB total foi de 4,03%; o dos serviços foi maior, de 1,36%. Descontada a inflação, portanto, o PIB total aumentou 0,87% e o de serviços 1,36%. Até aí, tudo certo.

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As dúvidas do economista surgiram na hora de analisar a contribuição do setor financeiro ao PIB. Nesse período, houve uma notável redução da taxa Selic, derrubando os spreads bancários. E houve um aumento substancial dos empréstimos bancários em 17,56% a preços correntes. Mas houve uma redução na renda bancária devido à redução do spread.

Outros textos de Luis Nassif:

Na hora de medir os dados, o IBGE constatou que o setor financeiro respondeu por -1,02% no cálculo do PIB real, e -4,95% no cálculo a preços correntes.

Indaga Chico Lopes: “Como é possível que a redução das taxas de juros na economia tenha produzido uma redução do volume de serviços financeiros à disposição da população? Como é possível explicar que a queda da Selic tenha tornado o país mais pobre?”.

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Tudo decorre da dificuldade em deflacionar os serviços financeiros, especialmente em períodos de mudança nas taxas de juros e nos spreads bancários.

O IBGE utiliza uma metodologia sugerida em 1993 pelo Sistema de Contas Nacionais da ONU.

A renda do setor financeiro é constituída de tarifas (pela prestação de serviços) e do spread (a diferença entre o custo do empréstimo menos o da captação nas operações de crédito). Para esse segundo caso, a metodologia empregada simplesmente multiplica o spread pelo volume total de crédito. Esse conceito é denominado de FISIM, isto é, financial intermediation services indirectly measured.

O problema surge quando se aplica automaticamente o critério em períodos em que há a confluência de três fatores: uma grande remonetização (isto é, aumento da emissão de moeda), expansão do crédito como percentual do PIB e queda importante nas taxas de juros e nos spreads bancários. Esses fatores acabam provocando enorme volatilidade e distorcendo o cálculo do SIFIM.

As distorções do deflator – 1

No Reino Unido, explica Lopes, foram adotadas metodologias justamente para evitar distorções no cálculo do SIFIM, que costuma ser influenciado por alterações dos spreads de juros. Nas notas metodológicas, o IBGE informa que calculou o PIB do setor financeiro a preços constantes, descontando do aumento dos empréstimos o chamado deflator do PIB. É aí que vem a contestação de Chico Lopes.

As distorções do deflator – 2

Nos últimos quatro trimestres, o valor total dos empréstimos do setor financeiro aumentou 17,57%. O deflator implícito do PIB foi de 4,03%. Descontando a inflação dos preços correntes, a variação real do SIFIM deveria ser de 13,02%. Mas, nas contas do IBGE foi de -1,02%. Para chegar a uma variação real de menos -4,95%, o IBGE teria utilizado um deflator de -15,90% e não o deflator implícito do PIB.

As distorções do deflator – 3

Se o IBGE medisse a variação do PIB do setor financeiro pela sua “produção”, descontado o deflator implícito do PIB, haveria um crescimento real de 13,02% do PIB financeiro, em lugar de -1,02%. O PIB do último quadrimestre teria subido 1,19% em vez de 0,6%. Segundo Lopes, esse ajuste fortalece a convicção de que a economia está se recuperando, afastando a paranoia com o “pibinho”.

As distorções do deflator – 4

No dia seguinte ao artigo de Chico Lopes, o jornal repercutiu a fala junto a dois economistas, Armando Castellar e Claudio Considera. Ambos não conseguiram avançar em análises mais aprofundadas sobre os estudos de Lopes. O IBGE respondeu que manteve a mesma metodologia – justamente a base da crítica de Chico Lopes. E o ministro Guido Mantega limitou-se a reclamar dos dados sobre gastos com saúde e educação.

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