Economia

O mais fechado governo do Brasil moderno

O governo Dilma Rousseff trata-se do governo mais fechado para informações que já acompanhei, reduzindo o lobby mas acabando com a discussão no processo de gestão

O governo Dilma Rousseff trata-se do governo mais fechado para informações que já acompanhei, reduzindo o lobby mas acabando com a discussão no processo de gestão . Foto: Cássio Abreu/Flickr
Apoie Siga-nos no

Em administração, um dos riscos da gestores auto-suficientes é o da “entropia” na empresa. Não sei se o termo, emprestado da física, é o mais adequado. Mas descreve aquelas situações em que a empresa se fecha em si mesma, não se abrindo para as informações do mundo exterior.

De certo modo é o que ocorre no governo Dilma Rousseff. Trata-se do governo mais fechado para informações que já acompanhei, mesmo comparando com o governo Geisel.

Há vantagens e desvantagens nesse modelo.

O governo Serra, em São Paulo, foi tão fechado quanto. Mas era um governo sem gestão, sem objetivos e sem metas.

Já o governo Dilma é obcecado com gestão, pretende o controle de todas as pontas dos processo decisórios internos.

Leia outros textos de Luis Nassif: 

 

Além disso, definiu um conjunto de objetivos de governo: erradicação da miséria absoluta, ampliação dos investimentos públicos, melhoria de gestão em todos os níveis.

Há que se pesar prós e contras dessa política de fechamento.

A favor, o fato de reduzir os curtos circuitos na mídia. Há muito as informações se transformaram em arma de guerra; e, em sendo guerra, o governo decidiu restringi-las durante o processo decisório.

Reduz-se o potencial de intriga e de atuação de lobbies econômicos e políticos, defende-se a lógica intrínseca de cada programa contra concessões políticas de todos os níveis. Ele sai limpo, asséptico, objetivo como pensou o gestor. E, provavelmente, com inúmeras falhas.

Isso porque, ao colocar o gestor em uma bolha de plástico, ele passa a ser o único responsável – com o olhos de Deus da presidência sobre ele – por todo o processo de tomada de decisão. À sociedade é divulgado, depois, apenas o resultado final, irrecorrível.

É aí que começam a aparecer as contraindicações do isolamento.

Qualquer projeto embute um conjunto de decisões, cada qual com desdobramentos sobre seu entorno. É impossível, a um gestor, captar a priori todos os desdobramentos. Em medidas que mexem com estruturas sociais, econômicas, políticas, muitas vezes a solução ótima (menor custo, melhor qualidade) pode não ser a melhor solução.

Havia uma ONG que reunia um número considerável de pessoas humildes, que se especializaram em abrir poços com uma tecnologia própria. Decidiu-se que seria mais barato e eficaz utilizar matéria plástica, poços mais econômicos, mais rápidos de serem construídos. Ocorre que esse modelo simplesmente significaria a desarticulação de toda uma comunidade produtiva.

Qual seria a melhor decisão? Mais que isso: quem deveria arbitrar a solução? Sem discussão, o gestor não terá inputs suficientes para analisar prós e contras de sua decisão.

Não que Dilma seja impermeável aos bons argumentos.

Alguns dos mais relevantes projetos dos últimos anos – como Minha Casa, Minha Vida e o crédito consignado – foram construídos em colaboração estreita com o setor privado.

O próprio modelo do setor elétrico, que salvou o país após o apagão, foi aprimorado com a então Ministra das Minas e Energia Dilma Rousseff se abrindo para as críticas pertinentes ao seu modelo inicial.

Só que, ao tornar o processo fechado, participa da discussão quem o gestor decidir que deve participar. O processo continua viciado da mesma maneira.

Em administração, um dos riscos da gestores auto-suficientes é o da “entropia” na empresa. Não sei se o termo, emprestado da física, é o mais adequado. Mas descreve aquelas situações em que a empresa se fecha em si mesma, não se abrindo para as informações do mundo exterior.

De certo modo é o que ocorre no governo Dilma Rousseff. Trata-se do governo mais fechado para informações que já acompanhei, mesmo comparando com o governo Geisel.

Há vantagens e desvantagens nesse modelo.

O governo Serra, em São Paulo, foi tão fechado quanto. Mas era um governo sem gestão, sem objetivos e sem metas.

Já o governo Dilma é obcecado com gestão, pretende o controle de todas as pontas dos processo decisórios internos.

Leia outros textos de Luis Nassif: 

 

Além disso, definiu um conjunto de objetivos de governo: erradicação da miséria absoluta, ampliação dos investimentos públicos, melhoria de gestão em todos os níveis.

Há que se pesar prós e contras dessa política de fechamento.

A favor, o fato de reduzir os curtos circuitos na mídia. Há muito as informações se transformaram em arma de guerra; e, em sendo guerra, o governo decidiu restringi-las durante o processo decisório.

Reduz-se o potencial de intriga e de atuação de lobbies econômicos e políticos, defende-se a lógica intrínseca de cada programa contra concessões políticas de todos os níveis. Ele sai limpo, asséptico, objetivo como pensou o gestor. E, provavelmente, com inúmeras falhas.

Isso porque, ao colocar o gestor em uma bolha de plástico, ele passa a ser o único responsável – com o olhos de Deus da presidência sobre ele – por todo o processo de tomada de decisão. À sociedade é divulgado, depois, apenas o resultado final, irrecorrível.

É aí que começam a aparecer as contraindicações do isolamento.

Qualquer projeto embute um conjunto de decisões, cada qual com desdobramentos sobre seu entorno. É impossível, a um gestor, captar a priori todos os desdobramentos. Em medidas que mexem com estruturas sociais, econômicas, políticas, muitas vezes a solução ótima (menor custo, melhor qualidade) pode não ser a melhor solução.

Havia uma ONG que reunia um número considerável de pessoas humildes, que se especializaram em abrir poços com uma tecnologia própria. Decidiu-se que seria mais barato e eficaz utilizar matéria plástica, poços mais econômicos, mais rápidos de serem construídos. Ocorre que esse modelo simplesmente significaria a desarticulação de toda uma comunidade produtiva.

Qual seria a melhor decisão? Mais que isso: quem deveria arbitrar a solução? Sem discussão, o gestor não terá inputs suficientes para analisar prós e contras de sua decisão.

Não que Dilma seja impermeável aos bons argumentos.

Alguns dos mais relevantes projetos dos últimos anos – como Minha Casa, Minha Vida e o crédito consignado – foram construídos em colaboração estreita com o setor privado.

O próprio modelo do setor elétrico, que salvou o país após o apagão, foi aprimorado com a então Ministra das Minas e Energia Dilma Rousseff se abrindo para as críticas pertinentes ao seu modelo inicial.

Só que, ao tornar o processo fechado, participa da discussão quem o gestor decidir que deve participar. O processo continua viciado da mesma maneira.

ENTENDA MAIS SOBRE: ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo