Economia

Benfeitos e malfeitos da energia

O Sistema Energético Brasileiro, dez anos após o racionamento devastador, continua em crise permanente

Fonte: D’Araújo, Roberto, ILUMINA. 2012.
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O sistema energético brasileiro vive aos sobressaltos. Debate-se superficialmente a destinação de royalties, uma fração de menos de 15%, da riqueza gerada. A falta de coordenação e as arbitrariedades e improvisos levam à desestruturação do mercado de derivados de petróleo e biocombustíveis.

Em 7 de setembro a presidenta reconheceu o fracasso das reformas do setor elétrico, concluídas em 2004, sob a égide de acordo entre os agentes, medidas negociadas e arbitragem do governo onde não havia acordo. Nem a população nem os formuladores públicos participaram das negociações.

As tarifas não param de aumentar e a qualidade, de deteriorar. Como solução para a explosão tarifária, o governo propõe a entrega de patrimônio público, usinas e redes de transmissão e distribuição, construídas nas últimas décadas, pertencentes a todos os brasileiros, inclusive os sem acesso à saúde, educação e energia, como forma de aplacar ganância dos grupos de pressão da base econômica e política.

 

Além da entrega direta da energia pelo custo operacional, nem sequer garantindo a manutenção do sistema, estão sendo destruídos os patrimônios institucionais do povo brasileiro, como Furnas, Chesf e empresas estaduais, que deveriam ser reordenadas para cumprir função estratégica para o País.

Mesmo com o crescimento da economia e do consumo de energia abaixo do previsto, desde meados de setembro, todas as usinas termoelétricas foram acionadas e estão em operação a plena capacidade, fora da ordem de mérito.

Isso reflete a deterioração do planejamento e gestão do sistema, resultando em custos que serão transferidos aos consumidores nas tarifas de 2013. O custo adicional supera 1 bilhão de reais por mês e, a depender da evolução da meteorologia, e do consumo total de combustíveis, poderá chegar a 4 bilhões de reais. E, pior, uma hidrologia muito abaixo da média, improvável, mas possível, não autoriza a afastar o risco do racionamento (vide gráfico, de D’Araújo, acima).

A frequente operação fora da ordem de mérito demonstra a dissintonia entre o planejado e o exequível, com prejuízos. Indica que projetos de geração e transmissão que deveriam estar operativos não estão disponíveis, por erro de planejamento ou por atraso na execução das obras. Projetos eólicos, prontos, não foram conectados ao sistema por falta de obras de transmissão. Nos leilões de aquisição de nova capacidade, o índice de mérito, da EPE, para as alternativas de geração elétrica, previa que as usinas térmicas contratadas, com elevado custo de combustível, seriam raramente acionadas, somente em períodos hidrologicamente críticos.

Todavia, nos últimos anos a operação tem sido frequente, comprovando grave dissidência entre planejamento e operação otimizados.

O Sistema Energético Brasileiro, dez anos após o racionamento devastador, continua em crise permanente. Faltam mecanismos coerentes de coordenação entre planejamento, execução de projetos e operação. O planejamento deveria se pautar por escolha dos melhores projetos, ambiental, técnica, econômica e socialmente.

A gestão e implantação dos projetos escolhidos deveria se dar nos prazos e custos planejados. E a operação dos recursos disponíveis deveria seguir os padrões de otimização.  Muito do que o governo anuncia como benfeito, à medida que o âmago e conteúdo são revelados, aparece como malfeito e a conta, repassada à população.

 

*Ildo Sauer é engenheiro, professor titular do IEE-USP e foi diretor do ILUMINA.

O sistema energético brasileiro vive aos sobressaltos. Debate-se superficialmente a destinação de royalties, uma fração de menos de 15%, da riqueza gerada. A falta de coordenação e as arbitrariedades e improvisos levam à desestruturação do mercado de derivados de petróleo e biocombustíveis.

Em 7 de setembro a presidenta reconheceu o fracasso das reformas do setor elétrico, concluídas em 2004, sob a égide de acordo entre os agentes, medidas negociadas e arbitragem do governo onde não havia acordo. Nem a população nem os formuladores públicos participaram das negociações.

As tarifas não param de aumentar e a qualidade, de deteriorar. Como solução para a explosão tarifária, o governo propõe a entrega de patrimônio público, usinas e redes de transmissão e distribuição, construídas nas últimas décadas, pertencentes a todos os brasileiros, inclusive os sem acesso à saúde, educação e energia, como forma de aplacar ganância dos grupos de pressão da base econômica e política.

 

Além da entrega direta da energia pelo custo operacional, nem sequer garantindo a manutenção do sistema, estão sendo destruídos os patrimônios institucionais do povo brasileiro, como Furnas, Chesf e empresas estaduais, que deveriam ser reordenadas para cumprir função estratégica para o País.

Mesmo com o crescimento da economia e do consumo de energia abaixo do previsto, desde meados de setembro, todas as usinas termoelétricas foram acionadas e estão em operação a plena capacidade, fora da ordem de mérito.

Isso reflete a deterioração do planejamento e gestão do sistema, resultando em custos que serão transferidos aos consumidores nas tarifas de 2013. O custo adicional supera 1 bilhão de reais por mês e, a depender da evolução da meteorologia, e do consumo total de combustíveis, poderá chegar a 4 bilhões de reais. E, pior, uma hidrologia muito abaixo da média, improvável, mas possível, não autoriza a afastar o risco do racionamento (vide gráfico, de D’Araújo, acima).

A frequente operação fora da ordem de mérito demonstra a dissintonia entre o planejado e o exequível, com prejuízos. Indica que projetos de geração e transmissão que deveriam estar operativos não estão disponíveis, por erro de planejamento ou por atraso na execução das obras. Projetos eólicos, prontos, não foram conectados ao sistema por falta de obras de transmissão. Nos leilões de aquisição de nova capacidade, o índice de mérito, da EPE, para as alternativas de geração elétrica, previa que as usinas térmicas contratadas, com elevado custo de combustível, seriam raramente acionadas, somente em períodos hidrologicamente críticos.

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*Ildo Sauer é engenheiro, professor titular do IEE-USP e foi diretor do ILUMINA.

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