Economia

As conclusões da Ata do Copom

Haverá parcimônia nas reduções de juros para o BC não rever remuneração na poupança em período eleitoral

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Um dos grandes avanços da política monetária brasileira foi o aparelhamento técnico do Banco Central, a partir de 2002, para se contrapor aos departamentos técnicos de instituições financeiras e às consultorias econômicas.

Dentro do modelo desenvolvido a partir dos anos 70, radicalizado nos anos 90, as consultorias tornaram-se centros de lobbies relevantes, tentando conduzir as expectativas do mercado através de um suposto conhecimento técnico superior.

Desde a gestão Armínio Fraga, o BC passou a incorporar as teorias de ponta na elaboração dos cenários, a prospectar vários indicadores, desde físicos até de expectativas empresariais.

Mesmo assim, as conclusões das sucessivas atas ainda embutem um grau de arbitrariedade inescapável.

Inicialmente, as atas descrevem toda a parafernália de indicadores, com um grau de detalhamento louvável. Na hora das conclusões, torna-se sintética, muitas vezes hermética.

No pior período de Henrique Meirelles, com o Copom dominado por falcões do mercado, muitas vezes havia completa dissintonia entre os fatos descritos e as conclusões apresentadas.

Nos últimos tempos, as atas passaram a ser mais lógicas e consistentes, embora algumas conclusões – como a redução da taxa de juros de equilíbrio (a taxa que supostamente permitiria o máximo de crescimento com estabilidade de preços) – continuem aparentando mero achismo.

Em geral, as Atas juntam um conjunto de indicadores visando monitorar dois pontos específicos: o nível de atividades (e seus reflexos futuros sobre os preços) e a análise dos próprios indicadores de preços.

Da extensa relação de análises da Ata da 166a reunião do Copom, sobressaem as seguintes conclusões:

1. O nível de atividade econômica continua retraído, com leves sinais de recuperação em alguns setores e, principalmente, nas expectativas dos agentes econômicos. Mas o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) continua desacelerando desde novembro de 2009, chegando a meros 1,9% anual em fevereiro

2. Em relação ao cenário internacional, a ata continua refletindo a esquizofrenia dos mercados. Na penúltima, previa tempos de calmaria. Na última, tempos de incerteza, “devido à exposição de bancos internacionais às dívidas soberanas de países com desequilíbrios fiscais”. Mesmo assim, estima que a atual crise terá um impacto de cerca de um quarto daquele registrado na crise de 2008/2009.

3. Aposta em uma redução nos preços das commodities internacionais – que já caíram 17,5% (agrícolas) e 20% (metálicas) em relação ao pico de abril de 2011. Toda a ciência do BC não resiste à evidência de que tanto o aumento da inflação no ano passado quanto sua queda agora se devem aos movimentos das cotações de commodities.

Depois dessa ampla exposição, a Ata revela que o Copom tenderá a ser mais parcimonioso nas novas reduções de juros.

Mas não abre o motivo principal dessa parcimônia. Simplesmente o fato de que, para baixar mais os juros, o BC terá que rever a remuneração da poupança.

E não se mexe na poupança em período eleitoral.

Leia outros artigos de Luis Nassif:

Um dos grandes avanços da política monetária brasileira foi o aparelhamento técnico do Banco Central, a partir de 2002, para se contrapor aos departamentos técnicos de instituições financeiras e às consultorias econômicas.

Dentro do modelo desenvolvido a partir dos anos 70, radicalizado nos anos 90, as consultorias tornaram-se centros de lobbies relevantes, tentando conduzir as expectativas do mercado através de um suposto conhecimento técnico superior.

Desde a gestão Armínio Fraga, o BC passou a incorporar as teorias de ponta na elaboração dos cenários, a prospectar vários indicadores, desde físicos até de expectativas empresariais.

Mesmo assim, as conclusões das sucessivas atas ainda embutem um grau de arbitrariedade inescapável.

Inicialmente, as atas descrevem toda a parafernália de indicadores, com um grau de detalhamento louvável. Na hora das conclusões, torna-se sintética, muitas vezes hermética.

No pior período de Henrique Meirelles, com o Copom dominado por falcões do mercado, muitas vezes havia completa dissintonia entre os fatos descritos e as conclusões apresentadas.

Nos últimos tempos, as atas passaram a ser mais lógicas e consistentes, embora algumas conclusões – como a redução da taxa de juros de equilíbrio (a taxa que supostamente permitiria o máximo de crescimento com estabilidade de preços) – continuem aparentando mero achismo.

Em geral, as Atas juntam um conjunto de indicadores visando monitorar dois pontos específicos: o nível de atividades (e seus reflexos futuros sobre os preços) e a análise dos próprios indicadores de preços.

Da extensa relação de análises da Ata da 166a reunião do Copom, sobressaem as seguintes conclusões:

1. O nível de atividade econômica continua retraído, com leves sinais de recuperação em alguns setores e, principalmente, nas expectativas dos agentes econômicos. Mas o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) continua desacelerando desde novembro de 2009, chegando a meros 1,9% anual em fevereiro

2. Em relação ao cenário internacional, a ata continua refletindo a esquizofrenia dos mercados. Na penúltima, previa tempos de calmaria. Na última, tempos de incerteza, “devido à exposição de bancos internacionais às dívidas soberanas de países com desequilíbrios fiscais”. Mesmo assim, estima que a atual crise terá um impacto de cerca de um quarto daquele registrado na crise de 2008/2009.

3. Aposta em uma redução nos preços das commodities internacionais – que já caíram 17,5% (agrícolas) e 20% (metálicas) em relação ao pico de abril de 2011. Toda a ciência do BC não resiste à evidência de que tanto o aumento da inflação no ano passado quanto sua queda agora se devem aos movimentos das cotações de commodities.

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Mas não abre o motivo principal dessa parcimônia. Simplesmente o fato de que, para baixar mais os juros, o BC terá que rever a remuneração da poupança.

E não se mexe na poupança em período eleitoral.

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