Economia

A queda da Selic acelera: o crescimento se aproxima?

A demanda deprimida dos setores público e privado continuará a ser um problema

Apoie Siga-nos no

Na última reunião do Copom do Banco Central a taxa Selic, até então em 13,75%, sofreu sua maior redução em anos e caiu 0,75%. A decisão surpreendeu parte dos analistas e, segundo o presidente Temer, respalda sua convicção “de que estão dados os elementos para o crescimento econômico e a criação de novos empregos ao longo do ano”.

Há mesmo base para tal otimismo?

Inicialmente, é preciso saber que, a despeito das quedas recentes, a taxa Selic continua muito elevada.

De fato, a taxa básica real de juros, que desconta da Selic a previsão de inflação, ainda hoje é superior às taxas que se verificaram no Brasil em praticamente todo o período transcorrido desde o auge da crise internacional, há mais de oito anos.

Além disso, mesmo que a queda da Selic seja repassada integralmente às taxas das operações com recursos livres aplicadas às pessoas físicas e jurídicas, estas ainda continuarão extremamente elevadas, e superiores às registradas em todo o período desde que os dados começaram a ser compilados pelo Banco Central há seis anos.

Ou seja, mesmo após dois anos de recessão profunda, a taxa básica real de juro e as taxas de juro aplicadas no mercado permanecem em níveis superiores àqueles já muito altos que vigoravam quando a economia do País crescia. Para ter algum papel na retomada, a redução das taxas ainda deve percorrer um longo caminho.

Por outro lado, dificilmente uma redução mesmo que importante dessas taxas poderia ser tomada como claro indicativo de que o crescimento econômico estaria próximo. Isto porque com a queda dos salários e o aumento do desemprego, ainda que os juros sejam menores, há menos consumidores habilitados (com renda mínima exigida) a contrair empréstimos e, mesmo entre os habilitados, há menos deles dispostos a fazê-lo e se endividar em um momento de grande incerteza sobre sua renda futura.

As empresas, por sua vez, ou enfrentam problemas financeiros em razão da forte queda na demanda nos últimos dois anos e não conseguem acessar os créditos disponíveis ou, quando conseguem, é duvidoso que invistam, mesmo com juros menores, para elevar uma produção que provavelmente encalharia gerando prejuízos. 

Certamente, a queda da Selic é correta e deve se acelerar. Contudo, sem medidas específicas para recuperar a demanda deprimida dos setores público e privado, a superação da recessão e a retomada da criação de empregos tardarão muito mais que o ano em curso.

*Emilio Chernavsky é doutor em economia pela USP e especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental

ENTENDA MAIS SOBRE: , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo