Economia

A fissura é com o golpe

Nem mesmo são percebidos os sinais ascendentes de reversão na economia, apesar do Congresso que blinda qualquer medida econômica do governo

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Estou sentado em frente ao diretor de uma das maiores cooperativas agropecuárias do país. Sorridente e esperançoso, pergunta: “E domingo, hein”? Sei lá, respondo.

Mais tarde, grande produtor de grãos: “E domingo, hein”? Acaba a corrupção, ironizo.

A eles pouco importa o Wall Street Journal: “A agricultura ainda é caso raro de sucesso na economia do Brasil”. Sabíamos há dez anos.

Por que ligar ao New York Times que reconhece estranho uma presidente sem fato corruptivo ou ato de governo não previsto na Constituição ser afastada por um Congresso que carrega centenas de processos nas costas. Muitos por roubo. Finge-se não saber.

Nesse recente período de insanidade e ódio a fissura é com o golpe. Nem mesmo são percebidos os pauzinhos da economia mostrando sinais ascendentes de reversão, apesar de um Congresso que blinda qualquer medida econômica do governo.

Tal continuidade precisaria de racionalidade e boa-fé políticas. Sabemos, mas William e Renata escondem. Afinal, patos amarelos não fazem pactos.

O que melhor, então? Simples e irresponsável: rasga-se mais uma vez a Constituição e fere-se a democracia estabelecida por eleições livres e votos majoritários dados a uma mulher de conduta heroica e ilibada.

Se não for “garantia dos meus anéis“, burrice não será. Afinal, eles são os espertos agenciadores do acordo secular que garante ouros, iguarias, preciosidades e conluios não desenvolvimentistas.

Nas paróquias em que vivem, instaladas em Avenidas FIESP espalhadas pelo país, os rapazes do mercado financeiro acreditam piamente na eternidade dos patos amarelos. Não entenderam como fábula suas bobeiras. Ágeis, enviaram economistas-chefes dos bancos para incharem suas moelas e fígados com modelos econômicos neoliberais.

Nem mesmo se aperceberam que não existe realidade em patos com tal coloração. Brancos, pretos, acinzentados, mouros e rajados, estes caíram fora antes do extermínio.

Caso é, e cada vez mais caso será, que a atual etapa do capitalismo, inaugurada entre as décadas de 1970 e 1980, borra-se ao usar especulação financeira para concentrar renda e patrimônio em detrimento de investimentos produtivos seguidos de demanda e lucro.

Claro que a Federação de Corporações, aos brados de “antes tarde do que nunca”, demorou para surfar a onda. Só não morreu na praia, quebrada, endividada, desemprego a 13%, reservas em baixa, balança comercial negativa, porque um projeto voltado para a inserção social e o consumo das famílias foi instalado.

O mesmo que depois de chegar ao ponto mais alto, em 2013, não foi bem reformado pelos alfaiates incumbentes, declinou, e agora é, malandramente, comparado com o alcançado pelo mesmo partido.

Para “não pagarem o pato”, acreditam em domingo outonal para o golpe. Foi gasto o que não tínhamos, dizem. Gasto com quem? Com o salário mínimo improdutivo? O Bolsa Família “criador de vagabundos”? Ou com os lucros estrondosos decenais que persistem, reduzidos apenas nos dois últimos anos?

Balanços não teriam sido engordados pelos emprego e renda conquistados com o vigor de um período recente de crescimento inédito? Clara e feliz retroalimentação, através de mercado interno, contraposta à crise da economia do planeta, que somente agora atinge com mais força os países emergentes.

Ohhhhh, lamuriam-se, olha o buraco em que puseram o País. Gastaram o que não tinham. Por acaso, o dinheiro que conta foi dado apenas às classes menos favorecidas? Com a palavra o BPF,

Bloco dos Paraísos Fiscais.

Discurso dos parlamentares que se pronunciaram a favor do impeachment, focados em imperícia na gestão econômica de que eram aliados e partícipes. E não é golpe? Se não, é indigência mental.

Prestem atenção. Em todos os ciclos capitalistas e ainda hoje o desenvolvimento econômico do Brasil se sustentou pela produção e exportação de bens primários.

São ativos impulsionados pelos recursos naturais e o posicionamento do território nacional que permite benesses edafoclimáticas. Ponto.

O melhor requerido, agregação de valor, não foi realizado. Caminha conosco há séculos. O trem passou, não o pegamos, sem volta. Dos espasmos em tardios processos de industrialização e avanços tecnológicos pouco foi destinado ao progresso social. A nossas instâncias políticas e elites econômicas deve-se dar o mérito de construírem um país famélico, de péssimos aparelhos educacionais, sanitários, médicos, e de segurança pública. Daí sermos a nação onde mais se assassina no planeta.

A herança do novo golpe está em sucessivos períodos de Estado forte, mas historicamente sem rumo para o desenvolvimento social e de iniciativa privada gorda, barriguda, protegida e incapaz de enxergar um palmo adiante de seu nariz ou do falo que a faz se reproduzir.

Caras e caros, excluam o ódio político e seus preconceitos. Verão que o pretendido feito no Brasil com um dedo a menos, vocês terão que fazer sem mãos, amputadas em brigas de cegos em quartos escuros.

Para clareá-los será preciso voltar os olhos para o mundo e fazer Brasília construir o povo que não está em vocês.

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