Cultura

‘Viva’ mostra sonho e preconceito em uma Cuba em transição

Filme expõe a ilha emparedada entre os resquícios de um sistema repressivo e um turismo predatório nascente

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Dizemos às crianças que o olhar é a janela da alma, é por meio desta janela, o olhar, que somos conduzidos na trama emotiva do filme “Viva” (2015), dirigido por Paddy Breathnach.

Da janela de Jesús (Hector Medina), protagonista do filme, enxergamos uma Havana periférica, cuja paisagem degradada nos transmite um ar de nostalgia e miséria.

Temos a dúvida se outrora aquilo lá já fora belo, e a angústia de que poderia ter sido outra coisa.

É neste terreno inóspito da cidade desconhecida que se inicia o drama, que da janela da alma invade o mundo da natureza humana – os sentimentos e a moral.  Um reencontro familiar é o palco.

Amor, preconceito, sonhos e paixão se encontram conduzidos pelo olhar de Angel (Jorge Perugorria), pai de Jesús. Nesse contexto, cidade e drama se fundem em um diálogo angustiante entre o que esperam de nós, o que poderíamos ter sido e o que pode ser – é nesse turbilhão de sentimentos que esta história se torna universal. A esta altura o filme poderia se passar em qualquer lugar, não fosse o dramático bolero cubano ao fundo.  

Este intenso drama humano, sem adornos, de alguma forma nos revela uma Cuba com uma maturidade inesperada para debater seus tabus, com altivez e qualidade. O olhar do pai (Angel), que certamente arrancaria lágrimas do expressivo Ricardo Darin, é um olhar que não pode ser construído na ausência de um contexto e de uma sociedade que permita a seus atores desenvolverem a arte dramática. Arte esta que não existiria sem educação e liberdade de experimentação. 

Um indício de que a Cuba real, aquela das periferias de sua capital, talvez já seja um tanto distinta do relato caricato ofertado pela imprensa nativa. A pobreza do país nos é apresentada em paralelo a um sistema de saúde digno e às contradições de uma sociedade com pesadas limitações de oportunidades produtivas e emparedada entre os resquícios de um sistema repressivo e um turismo predatório nascente. 

Se a arte é capaz de refletir a sociedade em que se insere, Viva é capaz de nos contar sobre o rico momento pelo qual passa este país em transição, que uma vez liberto de seus preconceitos, poderá imitar a opção de seu protagonista.

 

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