Cultura

Valorizar o que é simples

Comida benfeita é fácil de ser identificada. Se foi produzida com talento, aí já é outro departamento

É gratificante ver uma bonita alface, um quiabo bem tratado, uma couve na cor certa, um feijão bem cozido. Foto: Istockphoto
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Fui almoçar com um amigo em um restaurante simples, que vende por quilo a sua comida vegetariana não radical. A casa é antiga. Chama-se Casa Prema e tem inspiração indiana, mas também não se abraça a essa cozinha somente.

Não estive lá profissionalmente. Foi mais um almoço de trabalho. Mas é óbvio que, no meu caso, a distração absoluta não ocorre. Um olho no peixe e outro no gato.

Ainda que você não seja do ramo, profissional no assunto, aposto que és capaz de, estando em um bufê, com um olhar, afirmar que a salada está fresca. Você consegue dizer se os legumes foram bem cozidos. É certamente capaz de afirmar que o quiabo que se uniu à abóbora naquele estranho prato é um belo quiabo.

Comida benfeita é fácil de ser identificada. Se foi feita com talento e melhorou o sabor das matérias-primas, já é outro departamento. Mas o que foi visto e bem avaliado pelos olhos já é um passo que nem todos conseguem dar. E menos ainda quando se trata da categoria “quilo”.

Um dia depois da Casa Prema, fui em uma churrascaria em Moema e fiquei chocado quando a “salada completa” que -custa 30 reais chegou à mesa. Uma salada ordinária com ingredientes ordinários. E tudo muito mal apresentado. Uma vergonha, uma tristeza, uma lástima imaginar que um profissional montou aquele prato e que outro profissional o levou até a mesa.

Alguém se lembra das saladas mistas que eram ou talvez ainda sejam servidas em restaurantes vagabundos de beira de estrada? Igual. Uma vergonha, uma tristeza, uma lástima imaginar que alguém pretenda se estabelecer no ramo praticando esse tipo de crime contra seus eventuais clientes. Na verdade, poucas eram as vítimas presentes no local.

Juro que minha intenção não era falar de nenhuma churrascaria e muito menos dessa ridícula salada que foi servida por esse ridículo valor nesse -ridículo -restaurante em Moema. Que me desculpem as boas casas do bairro, mas o local costuma atrair esse tipo de vigarice. Casas bonitinhas e realmente ordinárias. Mas serviu a bom propósito: falava eu no início sobre o honesto Prema. Pulando páginas, paguei 25 reais no Prema. Paguei 80 na parrilla de Moema.

O que me interessa deixar claro neste Refô: devemos sair à procura de Premas. Devemos valorizar esses encontros porque não são comuns.

Quando o dono de um restaurante, seja ele chef ou não, faz questão de escolher -boas matérias-primas, isso deve ser louvável. E essa matéria não precisa ser a estrela do cardápio. Como eu disse: é gratificante ver uma bonita alface, um quiabo bem tratado, uma couve na cor certa, um feijão bem cozido, com muitos grãos inteiros, de bom tamanho em um caldo grosso. Pode acreditar que essa singela descrição que acabei de fazer é coisa rara de se encontrar.

Por força do trabalho, não esse de cronista gastronômico, me vejo muitas vezes em refeitórios de empresas. A sensação é que as pessoas que trabalham na confecção daquela comida poderiam estar trabalhando na linha de montagem de uma betoneira. As pessoas que colocam a comida nas bandejas poderiam estar colocando cimento na betoneira que foi montada por colegas. E por mais triste que a cena possa ser, a turba faminta não se incomoda em ver que as cozinhas, por exemplo, ficaram todas amontoadas. O que importa é poder pegar logo umas três ou quatro colheradas e prestar atenção para o crachá não mergulhar no pântano de feijão. Mas, se acontecer, uma boa lambida resolve a parada.

Mas, quando encontramos a tal matéria-prima selecionada com atenção, -carinho e respeito ao próximo, em locais de pouca divulgação, em locais fora dos quadriláteros áureos, não damos o merecido valor.

É tempo de mudar. Promessa de Páscoa: vou procurar mais opções como a Casa Prema, que fica na Diogo Moreira, 312, em Pinheiros, São Paulo.

Fui almoçar com um amigo em um restaurante simples, que vende por quilo a sua comida vegetariana não radical. A casa é antiga. Chama-se Casa Prema e tem inspiração indiana, mas também não se abraça a essa cozinha somente.

Não estive lá profissionalmente. Foi mais um almoço de trabalho. Mas é óbvio que, no meu caso, a distração absoluta não ocorre. Um olho no peixe e outro no gato.

Ainda que você não seja do ramo, profissional no assunto, aposto que és capaz de, estando em um bufê, com um olhar, afirmar que a salada está fresca. Você consegue dizer se os legumes foram bem cozidos. É certamente capaz de afirmar que o quiabo que se uniu à abóbora naquele estranho prato é um belo quiabo.

Comida benfeita é fácil de ser identificada. Se foi feita com talento e melhorou o sabor das matérias-primas, já é outro departamento. Mas o que foi visto e bem avaliado pelos olhos já é um passo que nem todos conseguem dar. E menos ainda quando se trata da categoria “quilo”.

Um dia depois da Casa Prema, fui em uma churrascaria em Moema e fiquei chocado quando a “salada completa” que -custa 30 reais chegou à mesa. Uma salada ordinária com ingredientes ordinários. E tudo muito mal apresentado. Uma vergonha, uma tristeza, uma lástima imaginar que um profissional montou aquele prato e que outro profissional o levou até a mesa.

Alguém se lembra das saladas mistas que eram ou talvez ainda sejam servidas em restaurantes vagabundos de beira de estrada? Igual. Uma vergonha, uma tristeza, uma lástima imaginar que alguém pretenda se estabelecer no ramo praticando esse tipo de crime contra seus eventuais clientes. Na verdade, poucas eram as vítimas presentes no local.

Juro que minha intenção não era falar de nenhuma churrascaria e muito menos dessa ridícula salada que foi servida por esse ridículo valor nesse -ridículo -restaurante em Moema. Que me desculpem as boas casas do bairro, mas o local costuma atrair esse tipo de vigarice. Casas bonitinhas e realmente ordinárias. Mas serviu a bom propósito: falava eu no início sobre o honesto Prema. Pulando páginas, paguei 25 reais no Prema. Paguei 80 na parrilla de Moema.

O que me interessa deixar claro neste Refô: devemos sair à procura de Premas. Devemos valorizar esses encontros porque não são comuns.

Quando o dono de um restaurante, seja ele chef ou não, faz questão de escolher -boas matérias-primas, isso deve ser louvável. E essa matéria não precisa ser a estrela do cardápio. Como eu disse: é gratificante ver uma bonita alface, um quiabo bem tratado, uma couve na cor certa, um feijão bem cozido, com muitos grãos inteiros, de bom tamanho em um caldo grosso. Pode acreditar que essa singela descrição que acabei de fazer é coisa rara de se encontrar.

Por força do trabalho, não esse de cronista gastronômico, me vejo muitas vezes em refeitórios de empresas. A sensação é que as pessoas que trabalham na confecção daquela comida poderiam estar trabalhando na linha de montagem de uma betoneira. As pessoas que colocam a comida nas bandejas poderiam estar colocando cimento na betoneira que foi montada por colegas. E por mais triste que a cena possa ser, a turba faminta não se incomoda em ver que as cozinhas, por exemplo, ficaram todas amontoadas. O que importa é poder pegar logo umas três ou quatro colheradas e prestar atenção para o crachá não mergulhar no pântano de feijão. Mas, se acontecer, uma boa lambida resolve a parada.

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