Cultura

Robert De Niro: “O que me faz perder o sono? Meus filhos…”

O ator fala sobre interpretar um pai transtornado, o reencontro com Scorsese e ser pai aos 69 anos

Robert De Niro chega com sua mulher Grace Hightower De Niro no festival Doha Tribeca, em Doha, no dia 19 de novembro. Foto: Karim Sahib / AFP
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Por Killian Fox

The Observer: Seu desempenho no novo filme Silver Linings Playbook foi elogiado como um de seus melhores em muitos anos, e está provocando comentários sobre o Oscar. Como o senhor se envolveu?

Robert de Niro: Estive conversando com David [O. Russell, o diretor] durante muitos anos, mas não tínhamos trabalhado juntos. Então ele fez O Lutador, que eu achei ótimo. Ele tinha esse outro projeto e queria que eu fizesse o pai. Eu disse que faria. Isso foi antes que David o reescrevesse, e meu personagem mudou. Ele era mais calado no livro em que se baseou, e era mais bravo, mas não tinha muitos outros matizes. Eu gostei do que David fez: ele mais ou menos o inverteu, o virou do avesso. Ele é um sujeito que tem uma compulsão obsessiva. Seu filho [interpretado por Bradley Cooper] também tem isso, mas a dele é mais exagerada.

 Houve uma boa dinâmica entre pai e filho na filmagem?

RDN: Sim. Bradley e eu nos tornamos amigos. Mesmo que não fôssemos, ainda teria funcionado, mas um relacionamento mais forte definitivamente ajuda.

O senhor se sente pressionado para ser uma figura de padrinho sensato para todos os jovens atores que o admiram?

RDN: Não sinto pressão. Gosto quando alguém se interessa pelo que tenho a dizer, especialmente quando são mais jovens. Se eles gostam de mim e me respeitam, sinto-me honrado e dou minha opinião.

O senhor fez oito filmes com Martin Scorsese, começando por Caminhos Perigosos em 1973, mas não trabalharam juntos desde Cassino, em 1995. Há probabilidade de um reencontro?

RDN: Ah, sim, estamos trabalhando em algo neste momento. Chama-se I Heard You Paint Houses [Me contaram que você é pintor de paredes]. Tentamos tocar isso há alguns anos, e agora estamos tentando reservar um tempo. É sobre um sujeito chamado Frank Sheeran, que estava nos Teamsters [um sindicato dos EUA] e afirmou que havia matado Jimmy Hoffa [o polêmico líder sindical que desapareceu em 1975]. É baseado em um livro de Charles Brandt, que foi advogado de Sheeran. Eu faria Sheeran e Pacino interpretaria Joffa. Joe Pesci também estaria no filme.

É um reencontro e tanto! Está entusiasmado?

RDN: Sim, estou.

E vai acontecer nos próximos anos?

RDN: Tem de ser, ou não estarei mais por aqui.

Quando o senhor estava começando, em que atores se inspirava?

RDN: James Dean, Montgomery Clift, Marlon Brando, Geraldine Page, Kim Stanley, Greta Garbo.

E hoje? Que atores das gerações mais jovens o inspiram?

RDN: Os atores que eu respeito são Matt Damon, Leonardo DiCaprio… Daniel Day-Lewis é um ator maravilhoso. Jennifer Lawrence [co-estrela de De Niro em Silver Linings Playbook] é incrível. Ela tem uma grande energia.

É verdade que “não fazem mais filmes como antigamente”?

RDN: Não sei. Quando eu tinha 20 e poucos anos, não havia muitos filmes independentes. Hoje há muitos mais, e isso dá mais oportunidade aos atores e a todo mundo.

Então não é um momento muito ruim para fazer filmes?

RDN: Não, mas talvez eu não esteja vendo algo. Talvez os historiadores ou críticos de cinema tenham outra visão.

 O senhor assiste a seus filmes antigos?

RDN: Se eu os pegar por acaso na TV ou coisa parecida, mas…

Não os procura?

RDN: Não. Mas estava pensando em tentar ver todo o meu trabalho ao longo dos anos, minha vida, e ter uma ideia do que poderia fazer que fosse diferente.

Pode imaginar o que seria?

RDN: Não. Eu teria uma ideia melhor vendo tudo primeiro, e depois poderia dizer exatamente que direção eu deveria tomar.

O senhor é associado a alguns dos diálogos mais memoráveis do cinema. O senhor é incomodado quando caminha pela rua por pessoas que dizem “Está falando comigo?”?

RDN: Acontece raramente. Quando acontece, dou risada. As pessoas repetem uma fala sua e estão tentando ser engraçadas, por isso eu rio. Tudo bem.

Atuar ainda o entusiasma tanto quanto no começo?

RDN: É diferente, mas ainda tem muita excitação. Quando você fica mais velho tem uma atitude diferente sobre certas coisas. Existem certas coisas que poderiam me preocupar na época e que hoje me preocupam menos. Você percebe que não precisa gastar tanta energia para chegar aonde quer. Você relaxa e recua um pouco, e realmente poderia conseguir mais do que você deseja com menos esforço.

 O que o faz perder o sono?

RDN: [Risos] Meus filhos, às vezes.

Eu soube que o senhor teve recentemente um novo bebê [o sexto filho de De Niro, Helen Grace, nasceu em dezembro passado]. As exigências da paternidade lhe agradam?

RDN: Sim, mas tenho sorte de ter ajuda — há pessoas excelentes que ajudam com as crianças.

Consegue passar bastante tempo com a família?

RDN: Gosto de pensar que sim. Eu tento ir para casa o máximo possível nos fins de semana.

O senhor dormiu melhor na noite em que Obama foi reeleito?

RDN: Sim.

 Se Obama pudesse realizar apenas uma coisa nos próximos quatro anos, o que deveria ser?

RDN: Ele deveria fazer o que acha que tem de fazer. Evidentemente ele não precisa se preocupar em ser reeleito, por isso deve apenas fazer seu trabalho. Seja o que ele fizer, será no melhor interesse da população, porque ele é uma boa pessoa e tem o coração no lugar certo.

Já o encontrou pessoalmente?

RDN: Algumas vezes, sim. Ele é um bom sujeito — você pode saber isso, mesmo sem encontrá-lo.

 O senhor tem oito novos filmes em produção. O que o estimula mais?

RDN: Vamos ver… estou fazendo um filme com Stallone chamado Grudge Match, sobre velhos boxeadores que se reúnem para uma última luta. Acho que é uma espécie de comédia. Fiz um filme chamado Motel com John Cusack. E uma coisa com Travolta chamada Killing Season. Neste momento estou trabalhando em um filme chamado Las Vegas com Morgan Freeman, Kevin Kline e Michael Douglas.

Está feliz em continuar trabalhando nesse ritmo, ou tem planos de descansar em algum momento?

RDN: Puxa, não sei. Você vê alguns atores que dizem que vão se aposentar e voltam dois anos depois. Eu nunca diria isso porque… eu poderia não querer fazer alguma coisa durante algum tempo e depois surgisse alguma coisa que me entusiasmasse de novo.

Então não adianta tentar determinar o futuro?

RDN: É exatamente isso.

 

Silver Linings Playbook

Ano de produção: 2012

País: USA

Duração: 122 mins

Diretor: David O. Russell

Elenco: Anupam Kher, Bradley Cooper, Chris Tucker, Jacki Weaver, Jennifer Lawrence, Julia Stiles, Robert De Niro

Leia mais em guardian.co.uk

Por Killian Fox

The Observer: Seu desempenho no novo filme Silver Linings Playbook foi elogiado como um de seus melhores em muitos anos, e está provocando comentários sobre o Oscar. Como o senhor se envolveu?

Robert de Niro: Estive conversando com David [O. Russell, o diretor] durante muitos anos, mas não tínhamos trabalhado juntos. Então ele fez O Lutador, que eu achei ótimo. Ele tinha esse outro projeto e queria que eu fizesse o pai. Eu disse que faria. Isso foi antes que David o reescrevesse, e meu personagem mudou. Ele era mais calado no livro em que se baseou, e era mais bravo, mas não tinha muitos outros matizes. Eu gostei do que David fez: ele mais ou menos o inverteu, o virou do avesso. Ele é um sujeito que tem uma compulsão obsessiva. Seu filho [interpretado por Bradley Cooper] também tem isso, mas a dele é mais exagerada.

 Houve uma boa dinâmica entre pai e filho na filmagem?

RDN: Sim. Bradley e eu nos tornamos amigos. Mesmo que não fôssemos, ainda teria funcionado, mas um relacionamento mais forte definitivamente ajuda.

O senhor se sente pressionado para ser uma figura de padrinho sensato para todos os jovens atores que o admiram?

RDN: Não sinto pressão. Gosto quando alguém se interessa pelo que tenho a dizer, especialmente quando são mais jovens. Se eles gostam de mim e me respeitam, sinto-me honrado e dou minha opinião.

O senhor fez oito filmes com Martin Scorsese, começando por Caminhos Perigosos em 1973, mas não trabalharam juntos desde Cassino, em 1995. Há probabilidade de um reencontro?

RDN: Ah, sim, estamos trabalhando em algo neste momento. Chama-se I Heard You Paint Houses [Me contaram que você é pintor de paredes]. Tentamos tocar isso há alguns anos, e agora estamos tentando reservar um tempo. É sobre um sujeito chamado Frank Sheeran, que estava nos Teamsters [um sindicato dos EUA] e afirmou que havia matado Jimmy Hoffa [o polêmico líder sindical que desapareceu em 1975]. É baseado em um livro de Charles Brandt, que foi advogado de Sheeran. Eu faria Sheeran e Pacino interpretaria Joffa. Joe Pesci também estaria no filme.

É um reencontro e tanto! Está entusiasmado?

RDN: Sim, estou.

E vai acontecer nos próximos anos?

RDN: Tem de ser, ou não estarei mais por aqui.

Quando o senhor estava começando, em que atores se inspirava?

RDN: James Dean, Montgomery Clift, Marlon Brando, Geraldine Page, Kim Stanley, Greta Garbo.

E hoje? Que atores das gerações mais jovens o inspiram?

RDN: Os atores que eu respeito são Matt Damon, Leonardo DiCaprio… Daniel Day-Lewis é um ator maravilhoso. Jennifer Lawrence [co-estrela de De Niro em Silver Linings Playbook] é incrível. Ela tem uma grande energia.

É verdade que “não fazem mais filmes como antigamente”?

RDN: Não sei. Quando eu tinha 20 e poucos anos, não havia muitos filmes independentes. Hoje há muitos mais, e isso dá mais oportunidade aos atores e a todo mundo.

Então não é um momento muito ruim para fazer filmes?

RDN: Não, mas talvez eu não esteja vendo algo. Talvez os historiadores ou críticos de cinema tenham outra visão.

 O senhor assiste a seus filmes antigos?

RDN: Se eu os pegar por acaso na TV ou coisa parecida, mas…

Não os procura?

RDN: Não. Mas estava pensando em tentar ver todo o meu trabalho ao longo dos anos, minha vida, e ter uma ideia do que poderia fazer que fosse diferente.

Pode imaginar o que seria?

RDN: Não. Eu teria uma ideia melhor vendo tudo primeiro, e depois poderia dizer exatamente que direção eu deveria tomar.

O senhor é associado a alguns dos diálogos mais memoráveis do cinema. O senhor é incomodado quando caminha pela rua por pessoas que dizem “Está falando comigo?”?

RDN: Acontece raramente. Quando acontece, dou risada. As pessoas repetem uma fala sua e estão tentando ser engraçadas, por isso eu rio. Tudo bem.

Atuar ainda o entusiasma tanto quanto no começo?

RDN: É diferente, mas ainda tem muita excitação. Quando você fica mais velho tem uma atitude diferente sobre certas coisas. Existem certas coisas que poderiam me preocupar na época e que hoje me preocupam menos. Você percebe que não precisa gastar tanta energia para chegar aonde quer. Você relaxa e recua um pouco, e realmente poderia conseguir mais do que você deseja com menos esforço.

 O que o faz perder o sono?

RDN: [Risos] Meus filhos, às vezes.

Eu soube que o senhor teve recentemente um novo bebê [o sexto filho de De Niro, Helen Grace, nasceu em dezembro passado]. As exigências da paternidade lhe agradam?

RDN: Sim, mas tenho sorte de ter ajuda — há pessoas excelentes que ajudam com as crianças.

Consegue passar bastante tempo com a família?

RDN: Gosto de pensar que sim. Eu tento ir para casa o máximo possível nos fins de semana.

O senhor dormiu melhor na noite em que Obama foi reeleito?

RDN: Sim.

 Se Obama pudesse realizar apenas uma coisa nos próximos quatro anos, o que deveria ser?

RDN: Ele deveria fazer o que acha que tem de fazer. Evidentemente ele não precisa se preocupar em ser reeleito, por isso deve apenas fazer seu trabalho. Seja o que ele fizer, será no melhor interesse da população, porque ele é uma boa pessoa e tem o coração no lugar certo.

Já o encontrou pessoalmente?

RDN: Algumas vezes, sim. Ele é um bom sujeito — você pode saber isso, mesmo sem encontrá-lo.

 O senhor tem oito novos filmes em produção. O que o estimula mais?

RDN: Vamos ver… estou fazendo um filme com Stallone chamado Grudge Match, sobre velhos boxeadores que se reúnem para uma última luta. Acho que é uma espécie de comédia. Fiz um filme chamado Motel com John Cusack. E uma coisa com Travolta chamada Killing Season. Neste momento estou trabalhando em um filme chamado Las Vegas com Morgan Freeman, Kevin Kline e Michael Douglas.

Está feliz em continuar trabalhando nesse ritmo, ou tem planos de descansar em algum momento?

RDN: Puxa, não sei. Você vê alguns atores que dizem que vão se aposentar e voltam dois anos depois. Eu nunca diria isso porque… eu poderia não querer fazer alguma coisa durante algum tempo e depois surgisse alguma coisa que me entusiasmasse de novo.

Então não adianta tentar determinar o futuro?

RDN: É exatamente isso.

 

Silver Linings Playbook

Ano de produção: 2012

País: USA

Duração: 122 mins

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Elenco: Anupam Kher, Bradley Cooper, Chris Tucker, Jacki Weaver, Jennifer Lawrence, Julia Stiles, Robert De Niro

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