Cultura

Os eleitos não eleitos

Blog do Platão, filósofo grego dado a paixões que não se concretizam

Blog do Platão
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Em época de eleições, adoro frequentar as redes sociais. Delicio-me lendo comentários do tipo “político só fica em cadeia nacional durante a propaganda eleitoral gratuita”, “faça um político trabalhar. Não vote nele”. É uma alegria, 2300 anos depois, ver algumas das ideias contidas em República de Platão amplamente disseminadas.

Eu sei, a última vez que você estudou filosofia grega foi no colegial. Sem problema, eu relembro você que tão gentilmente veio visitar o meu blog, em meio a tantos endereços disponíveis. Em a República de Platão, através de diálogos socráticos, a democracia é esculachada. Demonstra-se como é um absurdo que os homens mais votados possam assumir os postos de comando mais altos de um Estado. Por uma razão muito simples: nem sempre o mais votado é o melhor preparado. O “nem sempre” é uma maneira polida de dizer quase nunca.

Sambamos em cima do processo democrático, mas também apontamos a solução. A obra apresenta um método idealizado para evitar que a corrupção e a incompetência se apoderem da coisa pública. Vejam, para governar é preciso muito equilíbrio e sabedoria. Portanto, o filósofo seria o governante ideal. Para formá-lo, nada melhor do que um roteiro de intensa preparação que já constituía em si um rigoroso processo seletivo. Mais difícil do que a peneira da Vila Belmiro.

Resumidamente, aos 20 anos acontece o primeiro grande vestibular, com provas práticas e teóricas. Os aprovados recebem 10 anos de educação e treinamento para enfrentar um novo teste. Os poucos que restarem são introduzidos aos estudos filosóficos. Depois de ficarem craques do mundo das ideias, o pequeno grupo é submetido aos problemas práticos a vida. Terão de ganhar a comida com o suor do rosto. E assim, aos cinquenta anos, chegam ao corte final. Os que sobreviveram a esse longo e penoso processo tornam-se os governantes do Estado.

Este método eugênico de preparar gestores públicos tem como objetivo a construção de um Estado ideal. Onde filósofos sábios, corajosos, equilibrados e justos jamais se desviariam de suas principais ocupações. Mais ou menos como é todo mundo no Twitter e no Facebook.

Um pouco pela falta do que fazer, outro tanto por querer conciliar o inconciliável (democracia e a escolha dos melhores) dediquei-me a imaginar slogans de campanha para alguns dos grandes pensadores da humanidade. Isso pode ser um refresco pra você que anda perturbado com a falta de opções para o próximo pleito municipal. Veja quais seriam os seus eleitos.

Pitágoras. O seu número regente.

Aristóteles. Por mais verdades a partir das evidências do mundo a sua volta.

Santo Agostinho. Deus não é a origem do mal. Já a oposição…

Maquiavel. Os fins justificam o seu voto.

Descartes. Quem pensa, logo vota Descartes.

Voltaire.  Se a certeza é absurda, vote com dúvida.

Nietzsche. Deus está morto. Vote Nietzsche.

Wittgenstein. Os limites da linguagem significam os limites do mundo. Esse é do povo.

 

Leia mais em Blogs do Além.

Em época de eleições, adoro frequentar as redes sociais. Delicio-me lendo comentários do tipo “político só fica em cadeia nacional durante a propaganda eleitoral gratuita”, “faça um político trabalhar. Não vote nele”. É uma alegria, 2300 anos depois, ver algumas das ideias contidas em República de Platão amplamente disseminadas.

Eu sei, a última vez que você estudou filosofia grega foi no colegial. Sem problema, eu relembro você que tão gentilmente veio visitar o meu blog, em meio a tantos endereços disponíveis. Em a República de Platão, através de diálogos socráticos, a democracia é esculachada. Demonstra-se como é um absurdo que os homens mais votados possam assumir os postos de comando mais altos de um Estado. Por uma razão muito simples: nem sempre o mais votado é o melhor preparado. O “nem sempre” é uma maneira polida de dizer quase nunca.

Sambamos em cima do processo democrático, mas também apontamos a solução. A obra apresenta um método idealizado para evitar que a corrupção e a incompetência se apoderem da coisa pública. Vejam, para governar é preciso muito equilíbrio e sabedoria. Portanto, o filósofo seria o governante ideal. Para formá-lo, nada melhor do que um roteiro de intensa preparação que já constituía em si um rigoroso processo seletivo. Mais difícil do que a peneira da Vila Belmiro.

Resumidamente, aos 20 anos acontece o primeiro grande vestibular, com provas práticas e teóricas. Os aprovados recebem 10 anos de educação e treinamento para enfrentar um novo teste. Os poucos que restarem são introduzidos aos estudos filosóficos. Depois de ficarem craques do mundo das ideias, o pequeno grupo é submetido aos problemas práticos a vida. Terão de ganhar a comida com o suor do rosto. E assim, aos cinquenta anos, chegam ao corte final. Os que sobreviveram a esse longo e penoso processo tornam-se os governantes do Estado.

Este método eugênico de preparar gestores públicos tem como objetivo a construção de um Estado ideal. Onde filósofos sábios, corajosos, equilibrados e justos jamais se desviariam de suas principais ocupações. Mais ou menos como é todo mundo no Twitter e no Facebook.

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