Cultura

Os amantes do vulcão

Como Ingrid Bergman separou Rossellini de Anna Magnani

A diva e a intrusa. Anna Magnani mergulha nas águas próximas de onde Roberto Rossellini e Ingrid Bergman vivem sua paixão
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Em 1949, a Itália se dividiu entre a diva sísmica e a intrusa escandinava. Era assim que os jornais locais da época estampavam na primeira página a referência a duas mulheres que não se enfrentavam cara a cara, mas sabiam protagonizar uma disputa acalorada, digna de “uma erupção”. A primeira era um dos grandes amores do público italiano, estrela que crescia com o sofrimento na mesma medida em que a outra angariava antipatia. No centro do conflito entre Anna Magnani e Ingrid Bergman ninguém menos que Roberto Rossellini, um dos grandes diretores do neorrealismo, alheio ao escândalo e mais preocupado em terminar seu novo filme, Stromboli. Casado com Magnani, decidiu mantê-la longe da produção e chamou Ingrid para ser a estrela. Passaram a viver um estrepitoso caso de amor, ela ainda casada com um dentista.

A passagem é um dos momentos mais controversos dos bastidores do cinema e ganhou em 2000 um livro para detalhá-lo. La Guerra dei Vulcani (Le Mani, 320 páginas), A Guerra dos Vulcões, foi reeditado há dois anos e serve de base para um documentário de mesmo título lançado no recente Festival de Veneza. O nome diz respeito não só ao projeto de Rossellini numa das ilhas vulcânicas das Eólias, mas  ao filme protagonizado por Magnani, no mesmo período, na vizinha Lipari.

Vulcano, dirigido pelo alemão William Dieterle e escrito por Renzo Avanzo, primo de Rossellini, foi a resposta da atriz à traição do marido e suas atitudes. Ele não só a destituiu do posto de protagonista de Stromboli, como teria utilizado a ideia de uma trama na ilha sem dar crédito ao grupo de novatos que lá registrava imagens subaquáticas. Entre eles, estava um sobrinho do diretor que submeteu seus feitos ao tio famoso e lhe sugeriu um filme.

Tanto o livro dos jornalistas Alberto Anile e Maria Gabriella Giannice como o documentário de Francesco Patierno começam neste ponto. Não afirmam, no entanto, que teria partido de Magnani a iniciativa de uma revanche com Vulcano, e sim dos rapazes por outro tipo de traição. Mas era inevitável que o projeto agregasse a diva traída, que filmou na vizinhança do novo casal. Apesar de uma dramaticidade desnecessária e recursos como associar os fatos a cenas de filmes de ambas, o documentário dá conta de refletir para que serviram as manchetes estrondosas.

O cineasta e sua protagonista tiveram dois filhos, entre eles, a atriz Isabella Rossellini. Quando lançado um ano depois, Vulcano decepcionou e foi esquecido com a chegada de Stromboli. Este recebeu críticas mornas e sucumbiu na bilheteria. Hoje é um clássico, malgrado as cinzas que por vezes relembram um sismo amoroso.

Em 1949, a Itália se dividiu entre a diva sísmica e a intrusa escandinava. Era assim que os jornais locais da época estampavam na primeira página a referência a duas mulheres que não se enfrentavam cara a cara, mas sabiam protagonizar uma disputa acalorada, digna de “uma erupção”. A primeira era um dos grandes amores do público italiano, estrela que crescia com o sofrimento na mesma medida em que a outra angariava antipatia. No centro do conflito entre Anna Magnani e Ingrid Bergman ninguém menos que Roberto Rossellini, um dos grandes diretores do neorrealismo, alheio ao escândalo e mais preocupado em terminar seu novo filme, Stromboli. Casado com Magnani, decidiu mantê-la longe da produção e chamou Ingrid para ser a estrela. Passaram a viver um estrepitoso caso de amor, ela ainda casada com um dentista.

A passagem é um dos momentos mais controversos dos bastidores do cinema e ganhou em 2000 um livro para detalhá-lo. La Guerra dei Vulcani (Le Mani, 320 páginas), A Guerra dos Vulcões, foi reeditado há dois anos e serve de base para um documentário de mesmo título lançado no recente Festival de Veneza. O nome diz respeito não só ao projeto de Rossellini numa das ilhas vulcânicas das Eólias, mas  ao filme protagonizado por Magnani, no mesmo período, na vizinha Lipari.

Vulcano, dirigido pelo alemão William Dieterle e escrito por Renzo Avanzo, primo de Rossellini, foi a resposta da atriz à traição do marido e suas atitudes. Ele não só a destituiu do posto de protagonista de Stromboli, como teria utilizado a ideia de uma trama na ilha sem dar crédito ao grupo de novatos que lá registrava imagens subaquáticas. Entre eles, estava um sobrinho do diretor que submeteu seus feitos ao tio famoso e lhe sugeriu um filme.

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