Cultura
O poeta da luz
Horacio Coppola, o fotógrafo que fazia falar a matéria
Luz, Cedro e Pedra
Instituto Moreira Salles, Rua Piauí, 844, Higienópolis, São Paulo
Até 11 de novembro
Faltavam apenas 13 dias para que Horacio Coppola completasse 106 anos. Em 18 de junho, o fotógrafo que nos anos 1930 retratou sua Buenos Aires como nenhum outro morreu na mesma cidade em que nasceu e primeiro treinou o olhar. Na infância, ao acompanhar o pai a fechar o portão da rua, seus olhos mergulhavam no que ocorria no bar em frente. Encantavam-lhe a simetria dos copos transparentes sobre a mesa, o rendado da toalha, as silhuetas negras recortadas. Um mundo a ser desvendado.
Figura central na fotografia latino-americana do século XX, Coppola chega ao público brasileiro por meio de 81 imagens feitas em 1945 nas cidades mineiras de Congonhas do Campo, Sabará e Ouro Preto. A exposição Luz, Cedro e Pedra que o Instituto Moreira Salles traz a São Paulo revela um pouco do que esse mestre da luz era capaz.
“Coppola teve contato com toda a vanguarda parisiense, Pablo Picasso, Henri Matisse, entre outros, o que se somou a seus contatos com o Modernismo brasileiro. Conheceu Manuel Bandeira, Mário de Andrade e tudo isso se reflete na viagem a Minas”, analisa o curador da mostra, Luciano Migliaccio, professor do Departamento de História da Arquitetura e Estética da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.
“Não se sabe se o trabalho foi uma encomenda, mas por certo houve influência do Patrimônio Histórico de Minas. Nesse sentido, as fotos são um documento do contato de Coppola com os modernistas, a experiência da fotografia de arte. O resultado é a sensibilidade extraordinária na abordagem das obras de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.”
Migliaccio pontua que outros fizeram o mesmo percurso, mas nenhum como ele. “As imagens de Coppola se distinguem pela escolha dos detalhes das esculturas. Ele faz falar a matéria por meio da luz, percebe a sensibilidade do escultor, a capacidade de transmitir emoções.”
Coppola, que foi casado com a fotógrafa Greta Stern e sofreu influência da Bauhaus, era obcecado pelo chiaroscuro. “Ele tinha um caderno em que anotava meticulosamente todas as exposições de luz. Possuía grande domínio técnico e sensibilidade apurada. O resultado em certos momentos é extraordinário, uma obra-prima de interpretação da escultura”, afirma o curador. Com uma Leika, Coppola revelou uma Buenos Aires lírica e insuflou vida aos profetas de Aleijadinho. Para o grande fotógrafo, tudo era uma questão de mirada: “Às vezes as coisas estão aí, outras, há que esperá-las. Só é preciso saber olhar”.
Luz, Cedro e Pedra
Instituto Moreira Salles, Rua Piauí, 844, Higienópolis, São Paulo
Até 11 de novembro
Faltavam apenas 13 dias para que Horacio Coppola completasse 106 anos. Em 18 de junho, o fotógrafo que nos anos 1930 retratou sua Buenos Aires como nenhum outro morreu na mesma cidade em que nasceu e primeiro treinou o olhar. Na infância, ao acompanhar o pai a fechar o portão da rua, seus olhos mergulhavam no que ocorria no bar em frente. Encantavam-lhe a simetria dos copos transparentes sobre a mesa, o rendado da toalha, as silhuetas negras recortadas. Um mundo a ser desvendado.
Figura central na fotografia latino-americana do século XX, Coppola chega ao público brasileiro por meio de 81 imagens feitas em 1945 nas cidades mineiras de Congonhas do Campo, Sabará e Ouro Preto. A exposição Luz, Cedro e Pedra que o Instituto Moreira Salles traz a São Paulo revela um pouco do que esse mestre da luz era capaz.
“Coppola teve contato com toda a vanguarda parisiense, Pablo Picasso, Henri Matisse, entre outros, o que se somou a seus contatos com o Modernismo brasileiro. Conheceu Manuel Bandeira, Mário de Andrade e tudo isso se reflete na viagem a Minas”, analisa o curador da mostra, Luciano Migliaccio, professor do Departamento de História da Arquitetura e Estética da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.
“Não se sabe se o trabalho foi uma encomenda, mas por certo houve influência do Patrimônio Histórico de Minas. Nesse sentido, as fotos são um documento do contato de Coppola com os modernistas, a experiência da fotografia de arte. O resultado é a sensibilidade extraordinária na abordagem das obras de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.”
Migliaccio pontua que outros fizeram o mesmo percurso, mas nenhum como ele. “As imagens de Coppola se distinguem pela escolha dos detalhes das esculturas. Ele faz falar a matéria por meio da luz, percebe a sensibilidade do escultor, a capacidade de transmitir emoções.”
Coppola, que foi casado com a fotógrafa Greta Stern e sofreu influência da Bauhaus, era obcecado pelo chiaroscuro. “Ele tinha um caderno em que anotava meticulosamente todas as exposições de luz. Possuía grande domínio técnico e sensibilidade apurada. O resultado em certos momentos é extraordinário, uma obra-prima de interpretação da escultura”, afirma o curador. Com uma Leika, Coppola revelou uma Buenos Aires lírica e insuflou vida aos profetas de Aleijadinho. Para o grande fotógrafo, tudo era uma questão de mirada: “Às vezes as coisas estão aí, outras, há que esperá-las. Só é preciso saber olhar”.
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