Cultura

Este volta a ser o sonhado Rio

Todos os governantes maltratam a cidade, mas ela é como mulher de malandro: quanto mais apanha, mais linda fica. Por Edgard Catoira

Foliões no meio da festa. Foto: Edgard Catoira
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O Rio de Janeiro surpreende sempre. Como diz o presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Mauricio Azêdo, todos os governantes maltratam a cidade, mas ela é como mulher de malandro: quanto mais apanha, mais linda fica.

De qualquer forma, é sempre um privilégio estar em terras cariocas. Este Carnaval mostrou, mais uma vez, que é sempre hora de se caminhar pelo Rio.

Nos últimos dois anos, tudo vem se unindo para mostrar que o mundo é bom. A prefeitura se interessou em apoiar o Carnaval do Rio e, o resto, o povo sabe fazer. Foi bom, por exemplo, que a Riotur tenha organizado calendário para desfiles de blocos e, com isso, mandar homens da Guarda Municipal reforçar a segurança das áreas, além de também ter distribuído banheiros químicos ao longo dos trajetos estabelecidos.

Foi o suficiente para, durante toda a semana de carnaval, as pessoas se vestirem com cores berrantes e algum adereço: uma simples tiara com antenas de insetos ou orelhas de coelho foram os passaportes usados para mostrar o espírito de cada um em entrar na festa.

O cenário da cidade, claro, não precisa ser descrito. As belezas naturais do Rio, aliadas aos antigos casarios do centro da Cidade, são o que todos conhecem.

Os blocos, desfilando pelas ruas, sob o céu azul e o calor tropical, são o que há de perfeito para definir o que é a cara do Rio: alegria, descontração, diversão. Fora dos blocos, pelas ruas, os foliões e menos foliões, se mostravam em grupos alegres, usando ou não fantasias semelhantes. Mas, invariavelmente, a alegria estava estampada no rosto de cada um.

Nos botequins, outra instituição tipicamente carioca, as pessoas também bebiam, cantavam, conversavam – como sempre, em qualquer época do ano – recebendo turistas ou moradores, misturando conversa, fazendo com que ninguém possa se sentir só.

Os cachorros acompanharam seus donos – ainda estou tentando descobrir se no Rio os cachorros não são os verdadeiros donos dos humanos – também usavam fantasias, coleiras estampadas.

Cerveja, rolando o tempo todo. Claro que muita gente bebeu demais. Mas, nem por isso, sinal de tumulto em toda a cidade. E estamos falando de multidões, da Zona Sul aos subúrbios, se divertindo sem medo de ser feliz.

Visível, nesta festa fica apagada também a figura do desrespeito e do preconceito. Homens caminharam de mãos dadas – claro que sendo notados, mas não molestados – mulheres também, gente do morro e do asfalto, como acontece sempre nas praias, conviveram na alegria de estar vivo na festa de todo o povo carioca.

Hoje, nos jornais, aparecem dados estatísticos dos, sempre de plantão, arautos do Apocalipse. Anuncia-se que, na verdade, os números da Riotur estão superestimados. O Cordão do Bola Preta, por exemplo, não teria arrastado cerca de 2,5 milhões de foliões. Ou a Banda de Ipanema. A verdade é que o primeiro lotou toda a Avenida Rio Branco, no Centro. E a Banda não deixou espaços claros nas praias de Ipanema. Isso é o que interessa: milhares de pessoas se divertindo, bebendo, cantando ou passeando, em convívio sem qualquer tipo de briga, desentendimento.

Outro comentário foi o de que mais gente foi presa fazendo xixi na rua. Ora, claro que isso sempre vai acontecer. Antes, não se prendia ninguém por se aliviar no poste. Agora, apesar dois banheiros públicos espalhados por toda a cidade, alguns ainda ousam enfrentar a lei. Cerveja não é fácil de segurar.

Só se comentou o bom trabalho feito pela Comlurb, que acompanhou os foliões pelas ruas – com seus homens também brincando e dançando, ao lado de  diversos cidadãos que ajudaram na limpeza das ruas e praias, principalmente de pessoas ligadas a ONGs de reciclagem de lixo. Coisa de cidadão responsável de Primeiro Mundo.

Na verdade, o Rio deu sua virada. Em festas populares como as de Carnaval, Juninas ou nos grandes eventos internacionais, sobressai o espírito alegre do povo. E a liberdade de todos se deslocarem pela cidade sem traumas ou temores.

As autoridades mostraram, agora, que podem manter essa alegria instintiva do carioca. O prefeito Eduardo Paes, além de ter mandado fazer um figurino – par

de sapatos e chapéus – para usar em durante a passagem de cada escola de samba. Alegre, também desfilou na Marquês de Sapucaí e deu as caras nos importantes bailes da cidade e nas ruas. E fez bem a lição de casa: a Guarda Municipal, a Turisrio e a Comlurb mostraram bons serviços. Apareceu bem na fotografia neste ano eleitoral.

O governador Sergio Cabral é que não foi visto em lugar algum – será que passou por Paris? Apareceu só nos jornais, na quarta feira de cinzas, para dizer que as escolas de samba devem se separar dos patronos, ligados ao jogo do bicho, o que, aliás, é uma bela discussão. Ele também garantiu a ordem no Estado através da Segurança Pública. Todos – do Rio, ou não – puderam se divertir sem medo. E, os poucos que tiveram problemas com batedores de carteira foram atendidos com respeito e profissionalismo nas delegacias.

Em resumo, como antigamente, o Rio mostra ser uma cidade alegre, com povo manso e receptivo. A violência, que nunca combinou com o carioca, já não marca mais a cidade. A política do secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame está dando certo. Para melhorar mais, como diz o próprio Beltrame, as áreas pacificadas é que precisam receber imediatamente todos os serviços sociais para não abrir espaço para a volta das facções criminosas. Isso é tão verdade, que volto a repetir  – tem facção se instalando em favelas já tomadas pelo poder público, como Rocinha e Vidigal. Isso não precisa ficar sendo comentado, mas o Rio não suportaria ser, outra vez, tomado pela bandidagem.

A verdade é que entre quatro e cinco milhões de pessoas se divertiram juntas, nos mesmos espaços, liberando felicidade e criticando, em versos e fantasias, o comportamento de políticos e da sociedade em geral.

Esta é a verdadeira face do Rio de Janeiro. Parodiando a musiquinha da Caixa Econômica, ouso cantarolar: “Vem pro Rio você também. Vem!”.

O Rio de Janeiro surpreende sempre. Como diz o presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Mauricio Azêdo, todos os governantes maltratam a cidade, mas ela é como mulher de malandro: quanto mais apanha, mais linda fica.

De qualquer forma, é sempre um privilégio estar em terras cariocas. Este Carnaval mostrou, mais uma vez, que é sempre hora de se caminhar pelo Rio.

Nos últimos dois anos, tudo vem se unindo para mostrar que o mundo é bom. A prefeitura se interessou em apoiar o Carnaval do Rio e, o resto, o povo sabe fazer. Foi bom, por exemplo, que a Riotur tenha organizado calendário para desfiles de blocos e, com isso, mandar homens da Guarda Municipal reforçar a segurança das áreas, além de também ter distribuído banheiros químicos ao longo dos trajetos estabelecidos.

Foi o suficiente para, durante toda a semana de carnaval, as pessoas se vestirem com cores berrantes e algum adereço: uma simples tiara com antenas de insetos ou orelhas de coelho foram os passaportes usados para mostrar o espírito de cada um em entrar na festa.

O cenário da cidade, claro, não precisa ser descrito. As belezas naturais do Rio, aliadas aos antigos casarios do centro da Cidade, são o que todos conhecem.

Os blocos, desfilando pelas ruas, sob o céu azul e o calor tropical, são o que há de perfeito para definir o que é a cara do Rio: alegria, descontração, diversão. Fora dos blocos, pelas ruas, os foliões e menos foliões, se mostravam em grupos alegres, usando ou não fantasias semelhantes. Mas, invariavelmente, a alegria estava estampada no rosto de cada um.

Nos botequins, outra instituição tipicamente carioca, as pessoas também bebiam, cantavam, conversavam – como sempre, em qualquer época do ano – recebendo turistas ou moradores, misturando conversa, fazendo com que ninguém possa se sentir só.

Os cachorros acompanharam seus donos – ainda estou tentando descobrir se no Rio os cachorros não são os verdadeiros donos dos humanos – também usavam fantasias, coleiras estampadas.

Cerveja, rolando o tempo todo. Claro que muita gente bebeu demais. Mas, nem por isso, sinal de tumulto em toda a cidade. E estamos falando de multidões, da Zona Sul aos subúrbios, se divertindo sem medo de ser feliz.

Visível, nesta festa fica apagada também a figura do desrespeito e do preconceito. Homens caminharam de mãos dadas – claro que sendo notados, mas não molestados – mulheres também, gente do morro e do asfalto, como acontece sempre nas praias, conviveram na alegria de estar vivo na festa de todo o povo carioca.

Hoje, nos jornais, aparecem dados estatísticos dos, sempre de plantão, arautos do Apocalipse. Anuncia-se que, na verdade, os números da Riotur estão superestimados. O Cordão do Bola Preta, por exemplo, não teria arrastado cerca de 2,5 milhões de foliões. Ou a Banda de Ipanema. A verdade é que o primeiro lotou toda a Avenida Rio Branco, no Centro. E a Banda não deixou espaços claros nas praias de Ipanema. Isso é o que interessa: milhares de pessoas se divertindo, bebendo, cantando ou passeando, em convívio sem qualquer tipo de briga, desentendimento.

Outro comentário foi o de que mais gente foi presa fazendo xixi na rua. Ora, claro que isso sempre vai acontecer. Antes, não se prendia ninguém por se aliviar no poste. Agora, apesar dois banheiros públicos espalhados por toda a cidade, alguns ainda ousam enfrentar a lei. Cerveja não é fácil de segurar.

Só se comentou o bom trabalho feito pela Comlurb, que acompanhou os foliões pelas ruas – com seus homens também brincando e dançando, ao lado de  diversos cidadãos que ajudaram na limpeza das ruas e praias, principalmente de pessoas ligadas a ONGs de reciclagem de lixo. Coisa de cidadão responsável de Primeiro Mundo.

Na verdade, o Rio deu sua virada. Em festas populares como as de Carnaval, Juninas ou nos grandes eventos internacionais, sobressai o espírito alegre do povo. E a liberdade de todos se deslocarem pela cidade sem traumas ou temores.

As autoridades mostraram, agora, que podem manter essa alegria instintiva do carioca. O prefeito Eduardo Paes, além de ter mandado fazer um figurino – par

de sapatos e chapéus – para usar em durante a passagem de cada escola de samba. Alegre, também desfilou na Marquês de Sapucaí e deu as caras nos importantes bailes da cidade e nas ruas. E fez bem a lição de casa: a Guarda Municipal, a Turisrio e a Comlurb mostraram bons serviços. Apareceu bem na fotografia neste ano eleitoral.

O governador Sergio Cabral é que não foi visto em lugar algum – será que passou por Paris? Apareceu só nos jornais, na quarta feira de cinzas, para dizer que as escolas de samba devem se separar dos patronos, ligados ao jogo do bicho, o que, aliás, é uma bela discussão. Ele também garantiu a ordem no Estado através da Segurança Pública. Todos – do Rio, ou não – puderam se divertir sem medo. E, os poucos que tiveram problemas com batedores de carteira foram atendidos com respeito e profissionalismo nas delegacias.

Em resumo, como antigamente, o Rio mostra ser uma cidade alegre, com povo manso e receptivo. A violência, que nunca combinou com o carioca, já não marca mais a cidade. A política do secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame está dando certo. Para melhorar mais, como diz o próprio Beltrame, as áreas pacificadas é que precisam receber imediatamente todos os serviços sociais para não abrir espaço para a volta das facções criminosas. Isso é tão verdade, que volto a repetir  – tem facção se instalando em favelas já tomadas pelo poder público, como Rocinha e Vidigal. Isso não precisa ficar sendo comentado, mas o Rio não suportaria ser, outra vez, tomado pela bandidagem.

A verdade é que entre quatro e cinco milhões de pessoas se divertiram juntas, nos mesmos espaços, liberando felicidade e criticando, em versos e fantasias, o comportamento de políticos e da sociedade em geral.

Esta é a verdadeira face do Rio de Janeiro. Parodiando a musiquinha da Caixa Econômica, ouso cantarolar: “Vem pro Rio você também. Vem!”.

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