Cultura

Esse papo já está qualquer coisa

Leia a crônica sobre o passeio de um mineiro no Rio anotando tudo o que as pessoas falam ao seu redor

Galeria de Jeff Belmonte/Flickr
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Por Alberto Villas

Mineiro que é mineiro adora o Rio de Janeiro. Não é uma rima, é uma solução – bem sabe o poeta Carlos. Mineiro que é mineiro vem pro Rio pra ver o mar. Na infância, qual mineiro nunca catou conchinha, fez castelos de areia ou provou daquela água pra ter certeza que era mesmo salgada? Toda vez que venho aqui na Cidade Maravilhosa a primeira coisa que faço é ir ver o mar, as ondas lambendo a areia, morrendo na praia. Sentir o cheiro da maresia, maresia que corroia os carros e a geladeira do apartamento alugado na Avenida Prado Junior.

Anteontem saí cedo mais mineiro do que nunca. O sol ainda estava nascendo e lá estava eu no calçadão de Ipanema pronto para andar do Posto 9 até a estátua do Zózimo Barroso do Amaral, lá no finalzinho, perto do Leblon. De orelha em pé para ouvir e anotar conversa alheia de gente que passava, gente que ia e voltava. O objetivo era um só: Anotar tudo para essa crônica da CartaCapial.

Ouvi papo de velho, de mulheres gostosas, de jovens, de empregadas domésticas, de operários empilhando coco nos quiosques. Ouvi papo de gari varrendo as pedras portuguesas, de gente de meia idade e de todas as raças. Frases soltas que sumiam no ar na mesma velocidade em que as pessoas andavam para não perder a forma jamais. Vamos lá!

– Já falei. Só vai se souber bem o inglês.

– Eu não pago 350 reais pra ver a Gal.

– O médico aconselhou tirar os dois.

– Já tem uma semana e ela não sabe nem o meu nome.

– Pra quê ter um carro de um milhão?

– Resultado: Acabou não indo pra lugar nenhum.

– Só compro daquele roxinho.

– Passou, mas está esperando ser chamada.

– Continua fumando sem parar.

– Viu o Paulo Coelho na Contigo?

– Não é fácil ser mulher.

– Aparece lá pra gente ver o Vascão.

– Vinte e nove reais um comprimido?

– Eu não uso mais óleo.

– Para um apartamento germinado não vale.

– Eu adoro o Crô!

– Ele não pode tomar nem aspirina.

– Não vale a pena ficar olhando pra trás.

– Deus que me livre daquela peste.

– Eu acordo com os pombos na janela.

– Parece limpo, mas esse mar tá podre.

– Ela só dorme com remédio.

– Ele passa e não fala oi pra ninguém.

– É só comprar um sofá-cama e tá resolvido.

– É só trabalho trabalho trabalho…

– Eu posso ter só um minuto que venho caminhar.

Por Alberto Villas

Mineiro que é mineiro adora o Rio de Janeiro. Não é uma rima, é uma solução – bem sabe o poeta Carlos. Mineiro que é mineiro vem pro Rio pra ver o mar. Na infância, qual mineiro nunca catou conchinha, fez castelos de areia ou provou daquela água pra ter certeza que era mesmo salgada? Toda vez que venho aqui na Cidade Maravilhosa a primeira coisa que faço é ir ver o mar, as ondas lambendo a areia, morrendo na praia. Sentir o cheiro da maresia, maresia que corroia os carros e a geladeira do apartamento alugado na Avenida Prado Junior.

Anteontem saí cedo mais mineiro do que nunca. O sol ainda estava nascendo e lá estava eu no calçadão de Ipanema pronto para andar do Posto 9 até a estátua do Zózimo Barroso do Amaral, lá no finalzinho, perto do Leblon. De orelha em pé para ouvir e anotar conversa alheia de gente que passava, gente que ia e voltava. O objetivo era um só: Anotar tudo para essa crônica da CartaCapial.

Ouvi papo de velho, de mulheres gostosas, de jovens, de empregadas domésticas, de operários empilhando coco nos quiosques. Ouvi papo de gari varrendo as pedras portuguesas, de gente de meia idade e de todas as raças. Frases soltas que sumiam no ar na mesma velocidade em que as pessoas andavam para não perder a forma jamais. Vamos lá!

– Já falei. Só vai se souber bem o inglês.

– Eu não pago 350 reais pra ver a Gal.

– O médico aconselhou tirar os dois.

– Já tem uma semana e ela não sabe nem o meu nome.

– Pra quê ter um carro de um milhão?

– Resultado: Acabou não indo pra lugar nenhum.

– Só compro daquele roxinho.

– Passou, mas está esperando ser chamada.

– Continua fumando sem parar.

– Viu o Paulo Coelho na Contigo?

– Não é fácil ser mulher.

– Aparece lá pra gente ver o Vascão.

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– Eu não uso mais óleo.

– Para um apartamento germinado não vale.

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– Parece limpo, mas esse mar tá podre.

– Ela só dorme com remédio.

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– É só comprar um sofá-cama e tá resolvido.

– É só trabalho trabalho trabalho…

– Eu posso ter só um minuto que venho caminhar.

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