Cultura

Descrença nas instituições

Enquanto alguma coisa funcionar neste país, não se pode perder a esperança

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Exercício difícil este, muito difícil, mas necessário para não se levar a experiência imediata, o conhecimento empírico, para esferas mais altas como é o plano das convicções e da ética.

A tendência geral, por ser o caminho mais fácil, é transformar os dados brutos da experiência pessoal em verdade universal. O cronista é um pobre ser humano sujeito às mesmas tendências da maioria. E eu tinha perdido inteiramente a crença nas instituições da sociedade brasileira. Em todas, quero dizer. A experiência imediata me jogava muita lama sobre a cabeça.

Faça o favor de acompanhar estes exemplos do que estou afirmando e veja se pode negar minha conclusão: no futebol, há bem pouco tempo, tivemos a prova de que os resultados são discutidos a portas fechadas, e isso acontece todos os dias: mala preta, juízes recebendo propina, essas coisas.

Na política, consagrou-se o “dando é que se recebe” e hoje eles nem dão mais, só recebem; e não me venham dizer que isso foi invenção de um partido, pois vem de data em que nenhum dos partidos atuais existia. E a gente sabe que abaixo do equador não existe santo como na zona não se encontra virgem.

Na imprensa, bem, Cidadão Kane, e nem precisava tanto, pois sabemos muito bem quais os interesses que são defendidos; nunca vi um jornal ou qualquer outra mídia acusar seus proprietários de alguma falcatrua. E existem muitas. Nunca vi um jornal ou ou qualquer outra mídia que defendesse ideias contrarias às opiniões de seus proprietários.

E na igreja, uma das instituições de maior prestígio, também surgem vez por outra escândalos, sobretudo sexuais. E não é preciso falar do banco do Vaticano, não é mesmo?

No sistema judiciário, não me venham dizer que estou inventando a corrupção que grassa nos meios jurídicos. Ninguém mais acredita na neutralidade dos julgadores nem em sua incorruptibilidade. Todos os dias são noticiados casos que me confirmam.

Contava ao Dr. Edevard Pereira, de Ribeirão, meu drama com o barulho de uma chácara vizinha e acrescentava tudo isso acima sobre descrença. E ele, muito sério: “Não, não se pode perder a crença em tudo.”

Pediu-me alguns documentos, uma procuração, e pôs-se a trabalhar. Soube mais tarde que ele fez tramitar dois processos junto a autoridades locais e não tive de esperar muito tempo: trabalho e durmo sem ser perturbado pelo bando de jovens que brincam durante a noite e dormem não sei quando.

Ele tem razão: enquanto alguma coisa funcionar neste país, não se pode perder a esperança.    

 

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