Cultura

Como você se atreve, Paulo Coelho?

O autor de best-sellers tem sim o direito de provocar James Joyce

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Nunca li Paulo Coelho. Por nenhuma razão específica, a não ser uma: não sou uma pessoa mística, nunca fui. Portanto, os temas que são caros ao escritor não me atraem, não me atiçam, não me convidam à leitura.

Nunca li “Ulysses” de James Joyce. Por nenhuma razão, apenas não calhou. Não há suficiente tempo na vida para se ler tudo e a gente vai escolhendo o que é mais importante, cada um faz a sua própria lista de prioridades literárias e Ulysses jamais esteve na minha, não até hoje. Mas devo confessar que livros tidos como “difíceis” tampouco são my cup of tea.

Como não sou especialmente fã, como leitora, nem de um nem de outro, me sinto livre para opinar sobre a polêmica que se desenrola desde a semana passada, desde que Paulo Coelho ousou criticar “Ulysses”, tido como o melhor livro do mundo. (Embora muitos, como eu, jamais o tenham lido –inclusive alguns dos que defendem a obra neste qüiproquó.) “É só estilo. Não tem nada ali. Se você disseca ‘Ulysses’, dá um tuíte”, zombou Coelho em entrevista ao repórter Rodrigo Levino, da Folha de S.Paulo.

Últimos artigos de Cynara Menezes:

Não vou entrar no mérito sobre quem é melhor, Coelho ou Joyce, nem sobre o que é “literatura maior” ou “literatura menor”, o padrão normalmente usado pelos críticos para definir o que é bom e o que não é. Sempre discordei destes parâmetros; romances policiais, por exemplo, são considerados “literatura menor”. Ah, meus queridos Dashiell Hammett, Raymond Chandler e Rex Stout não mereciam isso! E o que dizer de Agatha Christie, Arthur Conan Doyle e Georges Simenon? Enfim, os críticos sabem do que estão falando, não é?

O que me chamou a atenção nesta polêmica foi a tentativa de deslegitimar Paulo Coelho em seu direito de criticar James Joyce. “Como você se atreve a opinar sobre um ícone da literatura mundial, Coelho? Ponha-se no seu lugar! Quem é você, um brasuca vendedor de livros qualquer, para falar mal do irlandês autor do livro mais bem-escrito do planeta?” O paradoxo chega a ser hilário: o autor que mais críticas literárias acumula no mundo não tem o direito, ele mesmo, de perpetrar uma crítica literária. Na verdade, nem foi bem uma crítica, mas algo com tradição no mundo das letras: uma provocação. Foi isso que Paulo Coelho fez.

É como se o autor best-seller fosse um pária da literatura, alguém que, apesar de ter uma obra, não recebeu carteirinha no seleto clube dos escritores, neste Hotel Algonquin imaginário e eterno; como se o autor best-seller fosse o rico primo pobre da literatura. “Você vende livros, mas não é um dos nossos”, parecem dizer os demais, torcendo o nariz. Responda com sinceridade, amigo leitor: se você fosse escritor e tivesse que escolher um dos dois, iria preferir o sucesso de crítica ou o de público? Sim, existe uma ponta de evidente inveja neste tratamento discriminatório ao best-seller.

E então vieram as reações estrangeiras à frase de Paulo Coelho. A revista The Economist chegou ao cúmulo de comparar a literatura de Joyce com a de Coelho, como se isso fosse possível. O jornal The Guardian ridicularizou o brasileiro dizendo que talvez ele tivesse confundido “Ulysses” de Joyce com o desenho animado Ulysses, de 1981. Como nós só somos ufanistas na hora de defender jogadores de futebol ultrajados por críticos esportivos (por exemplo, quando algum argentino diz que Maradona foi melhor que Pelé), todos aplaudiram que Paulo Coelho fosse colocado “em seu devido lugar” pelos gringos.

Mas qual é mesmo o lugar de um autor que tem milhões de leitores? Qual é mesmo a altura de um escritor do “terceiro mundo” traduzido em dezenas de países? Sinto muito: não importa a mínima que os críticos não considerem seus livros “boa” literatura, o autor best seller recebeu o aval dos leitores para ter uma voz importante, digna de ser ouvida. Ele possui, sim, o direito à crítica, inclusive a clássicos da literatura, seja James Joyce ou Machado de Assis. Por que não?

Nunca li Paulo Coelho, mas o respeito. Em todos os países para onde fui encontrei leitores dele, pessoas interessantes e inteligentes que apreciavam seus livros – só não eram críticos literários. A única coisa que lamento nesta polêmica toda é que James Joyce não esteja vivo para responder à provocação. Isso sim ia ser divertido.

Nunca li Paulo Coelho. Por nenhuma razão específica, a não ser uma: não sou uma pessoa mística, nunca fui. Portanto, os temas que são caros ao escritor não me atraem, não me atiçam, não me convidam à leitura.

Nunca li “Ulysses” de James Joyce. Por nenhuma razão, apenas não calhou. Não há suficiente tempo na vida para se ler tudo e a gente vai escolhendo o que é mais importante, cada um faz a sua própria lista de prioridades literárias e Ulysses jamais esteve na minha, não até hoje. Mas devo confessar que livros tidos como “difíceis” tampouco são my cup of tea.

Como não sou especialmente fã, como leitora, nem de um nem de outro, me sinto livre para opinar sobre a polêmica que se desenrola desde a semana passada, desde que Paulo Coelho ousou criticar “Ulysses”, tido como o melhor livro do mundo. (Embora muitos, como eu, jamais o tenham lido –inclusive alguns dos que defendem a obra neste qüiproquó.) “É só estilo. Não tem nada ali. Se você disseca ‘Ulysses’, dá um tuíte”, zombou Coelho em entrevista ao repórter Rodrigo Levino, da Folha de S.Paulo.

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O que me chamou a atenção nesta polêmica foi a tentativa de deslegitimar Paulo Coelho em seu direito de criticar James Joyce. “Como você se atreve a opinar sobre um ícone da literatura mundial, Coelho? Ponha-se no seu lugar! Quem é você, um brasuca vendedor de livros qualquer, para falar mal do irlandês autor do livro mais bem-escrito do planeta?” O paradoxo chega a ser hilário: o autor que mais críticas literárias acumula no mundo não tem o direito, ele mesmo, de perpetrar uma crítica literária. Na verdade, nem foi bem uma crítica, mas algo com tradição no mundo das letras: uma provocação. Foi isso que Paulo Coelho fez.

É como se o autor best-seller fosse um pária da literatura, alguém que, apesar de ter uma obra, não recebeu carteirinha no seleto clube dos escritores, neste Hotel Algonquin imaginário e eterno; como se o autor best-seller fosse o rico primo pobre da literatura. “Você vende livros, mas não é um dos nossos”, parecem dizer os demais, torcendo o nariz. Responda com sinceridade, amigo leitor: se você fosse escritor e tivesse que escolher um dos dois, iria preferir o sucesso de crítica ou o de público? Sim, existe uma ponta de evidente inveja neste tratamento discriminatório ao best-seller.

E então vieram as reações estrangeiras à frase de Paulo Coelho. A revista The Economist chegou ao cúmulo de comparar a literatura de Joyce com a de Coelho, como se isso fosse possível. O jornal The Guardian ridicularizou o brasileiro dizendo que talvez ele tivesse confundido “Ulysses” de Joyce com o desenho animado Ulysses, de 1981. Como nós só somos ufanistas na hora de defender jogadores de futebol ultrajados por críticos esportivos (por exemplo, quando algum argentino diz que Maradona foi melhor que Pelé), todos aplaudiram que Paulo Coelho fosse colocado “em seu devido lugar” pelos gringos.

Mas qual é mesmo o lugar de um autor que tem milhões de leitores? Qual é mesmo a altura de um escritor do “terceiro mundo” traduzido em dezenas de países? Sinto muito: não importa a mínima que os críticos não considerem seus livros “boa” literatura, o autor best seller recebeu o aval dos leitores para ter uma voz importante, digna de ser ouvida. Ele possui, sim, o direito à crítica, inclusive a clássicos da literatura, seja James Joyce ou Machado de Assis. Por que não?

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