Cultura

As luzes da história

Mostra seleciona 170 anos de imagens

A trama oculta. Plantadora de soja em Soledade, Rio Grande do Sul, 1978, por Luiz Abreu
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Se uma imagem vale mais do que mil palavras, então diga isto com uma imagem”, provocava  o humorista Millôr Fernandes, atento a um mundo arrogantemente visual, a cada dia desinteressado dos raciocínios por escrito. Um historiador concordará com Millôr, até mesmo um especialista em fotografia como Boris Kossoy. Para ele, uma imagem dirá de imediato uma infinidade de coisas, mas não prescindirá da palavra, responsável por ver além de sua aparência com o passar dos anos. “Toda imagem fotográfica tem, atrás de si, oculta, uma história a ser desvendada”, afirma.

Desde 2009, ele que é o maior pesquisador da fotografia do Brasil tem-se atracado ao valor “micro- -histórico” de 430 imagens arduamente pinçadas, agora reunidas no Instituto Tomie Ohtake. Kossoy procura essa essência desde o Império, quando Hercule Florence aqui batizou a palavra “fotografia” e, neste mesmo território, aportaram os primeiros daguerreótipos. Sua exposição navega pelo Brasil colonizado e pelo republicano. Fala dos tempos duros do Estado Novo e da ditadura dos anos 1960. Mostra as conquistas no campo da política, do esporte, da arte. A democratização a duras penas. De 1833 a 2003, serão 170 anos de história investigados pelo pesquisador, que incluirá tais imagens em livro da coleção Brasil Nação a ser lançado neste mês, coordenado por Lilia Schwarcz para a editora Objetiva.

As salas mostram fotografias que por si são fatos históricos, eivados de representações da cultura, da sociedade, das paisagens urbanas e rurais. Toda imagem ali exposta é uma construção de seu autor,  escolhida por aquele que vê sua relevância. E Kossoy pensa sinteticamente. Não raro as imagens, exceto as icônicas, como aquelas nas quais há Pelé, Leônidas, Maria Esther Bueno ou Eder Jofre, os sem-terra, os camponeses explorados, os artistas, os soldados, os políticos ou os magnatas da imprensa, sugerem fatos em camadas. Como a foto de André Cypriano, na qual é expresso o paradoxo de turistas com pranchas de surfe diante de um cenário de construções. Ou a de Tuca Vieira, que vê o Brasil contrastante, dividido entre um condomínio do Morumbi e a favela de Paraisópolis. Ou aquela na qual Hans Gunter Flieg fotografa a cobertura  do condomínio Vitória Régia, em 1958, no intuito de revelar a pujança de um Brasil urbano. Kossoy lança à história profundas, irônicas luzes.

Um olhar sobre o Brasil – a fotografia na construção da imagem da nação


Instituto Tomie Othake


De 13 de novembro a 27 de janeiro

Se uma imagem vale mais do que mil palavras, então diga isto com uma imagem”, provocava  o humorista Millôr Fernandes, atento a um mundo arrogantemente visual, a cada dia desinteressado dos raciocínios por escrito. Um historiador concordará com Millôr, até mesmo um especialista em fotografia como Boris Kossoy. Para ele, uma imagem dirá de imediato uma infinidade de coisas, mas não prescindirá da palavra, responsável por ver além de sua aparência com o passar dos anos. “Toda imagem fotográfica tem, atrás de si, oculta, uma história a ser desvendada”, afirma.

Desde 2009, ele que é o maior pesquisador da fotografia do Brasil tem-se atracado ao valor “micro- -histórico” de 430 imagens arduamente pinçadas, agora reunidas no Instituto Tomie Ohtake. Kossoy procura essa essência desde o Império, quando Hercule Florence aqui batizou a palavra “fotografia” e, neste mesmo território, aportaram os primeiros daguerreótipos. Sua exposição navega pelo Brasil colonizado e pelo republicano. Fala dos tempos duros do Estado Novo e da ditadura dos anos 1960. Mostra as conquistas no campo da política, do esporte, da arte. A democratização a duras penas. De 1833 a 2003, serão 170 anos de história investigados pelo pesquisador, que incluirá tais imagens em livro da coleção Brasil Nação a ser lançado neste mês, coordenado por Lilia Schwarcz para a editora Objetiva.

As salas mostram fotografias que por si são fatos históricos, eivados de representações da cultura, da sociedade, das paisagens urbanas e rurais. Toda imagem ali exposta é uma construção de seu autor,  escolhida por aquele que vê sua relevância. E Kossoy pensa sinteticamente. Não raro as imagens, exceto as icônicas, como aquelas nas quais há Pelé, Leônidas, Maria Esther Bueno ou Eder Jofre, os sem-terra, os camponeses explorados, os artistas, os soldados, os políticos ou os magnatas da imprensa, sugerem fatos em camadas. Como a foto de André Cypriano, na qual é expresso o paradoxo de turistas com pranchas de surfe diante de um cenário de construções. Ou a de Tuca Vieira, que vê o Brasil contrastante, dividido entre um condomínio do Morumbi e a favela de Paraisópolis. Ou aquela na qual Hans Gunter Flieg fotografa a cobertura  do condomínio Vitória Régia, em 1958, no intuito de revelar a pujança de um Brasil urbano. Kossoy lança à história profundas, irônicas luzes.

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