Cultura

Adrien Brody: O americano silencioso

Ele fala sobre sua carreira diversificada, a dívida que tem para com seus pais e como fugir de um gorila

No filme Detachment, Adrien Brody é um professor que tenta convencer uma jovem a largar a prostituição. Foto: Divulgação
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Por Alex Clark

“Esta é a entrevista mais íntima que já dei”, sussurra Adrien Brody, que é exatamente o tipo de coisa que você quer ouvir quando está a centímetros de um ator de Hollywood ganhador do Oscar, que interrompeu suas férias para conversar com você. E quando os dois estão sentados em um dia muito quente em um condomínio de praia elegante em Mônaco que é meio anúncio de Stella Artois, meio romance de J.G. Ballard, sem um relações-públicas à vista para manobrar as coisas e evitar que você faça perguntas impertinentes. Então, quem é você para criticar se a intimidade a sotto voce se resume ao fato de o entrevistado ter perdido a voz?

“Estou com laringite… eles lhe disseram?”, ele murmurou assim que desceu a escada, usando um chapéu de feltro com uma faixa azul-pavão e um enorme sorriso.

Na verdade eles tinham me dito, mas eu pensei que fosse a língua das estrelas para uma voz meio rouca, e imediatamente tirei aquilo da cabeça. Afinal, Brody realmente não pode falar de maneira audível — e portanto gravável. Eu experimento um instante de extrema ansiedade seguido da certeza de que estou suando tão profusamente que logo estarei parecendo Dirk Bogarde na cena final de Morte em Veneza. Mais tarde percebo que é improvável que eu tenha escondido isso do altamente empático Brody, o qual imediatamente conta uma piada. “Não estou sendo um ator estranho”, ele garante. “‘Adrien só daria a entrevista em mímica… Eu e Daniel Day-Lewis fazemos isso, você sabe. Eu me recupero o suficiente para lhe dizer que se depois eu descobrir que isso é uma pesquisa no estilo método para um papel de mudo, ficarei realmente furioso.”

Mas é difícil imaginar isso. Brody é extremamente envolvente: ora solene, ora engraçado, irônico e sério. Ele está confiante e descontraído, mas com um ar de vulnerabilidade que é exacerbado, embora eu não considere criado, por seu visual ligeiramente lúgubre; você sente que ele não esconde nada, mas que há muito a descobrir.

Com ou sem laringite, é melhor ser rápido. “Quando eu tiver alguma coisa realmente importante para dizer, impostarei um pouco a voz”, ele me avisa. “Até então, vou apenas sussurrar.” Eu apenas balanço a cabeça e seguro o gravador bem perto dele. Às vezes durante a conversa percebo que também estou sussurrando, e peço desculpas. “Você pode sussurrar também”, ele sorri. “É agradável.”

Começamos murmurando sobre Detachment [Desligamento], em que Brody interpreta Henry Barthes, um professor substituto que enfrenta as falhas do sistema de ensino público dos Estados Unidos durante o dia e à noite tenta reverter a vida de uma prostituta adolescente. É interessante, extremamente brilhante, mas é justo dizer que também não provoca risos; para estes, pode-se recorrer a outro lançamento recente de Brody, High School, em que ele faz Psycho Ed, um traficante de drogas maníaco cuja erva deixa uma escola inteira chapada. É difícil encontrar dois filmes mais diferentes; a menos, talvez, que você pense em O Pianista, pelo qual Brody venceu o Oscar de melhor ator em 2002, e Predadores (2010). Ele não é, como veremos, um ator que deseja ter um papel típico, padronizado.

Em Detachment, Brody exibe a raiva contida com um efeito enorme: Henry Barthes doma hordas rebeldes de jovens indisciplinados através de uma espécie de distância carismática, enquanto em particular enlouquece, chorando no ônibus ao lembrar de sua mãe morta de alcoolismo ou cedendo a acessos de fúria explosiva. Não é uma grande surpresa descobrir que o filme foi dirigido por Tony Kaye, que também nos deu A Outra História Americana. Os dois filmes têm no centro homens que mantêm seu estoicismo em um mar de sofrimento e anormalidade; eles são, em certo sentido, explorações da masculinidade torturada. Na superfície, Detachment é um filme sobre os defeitos do ensino estatal; mas Brody insiste que também é sobre a “solidão como condição humana; como uma questão maior e mais grave”.

“Tony seria o primeiro a lhe dizer que seu objetivo não foi fazer um filme criticando o sistema educacional, que obviamente tem defeitos, todos sabemos disso”, diz Brody. “Mas eu acho que nossa educação, e nossa alma e nosso ser vêm de um lugar muito anterior, você sabe, e é responsabilidade dos pais e das pessoas amadas em nossas vidas. Um pouquinho de atenção e bondade podem mudar totalmente uma vida, e a falta delas pode fazer o mesmo… Penso muito nas crianças que não recebem o respeito que merecem, e a única coisa a que posso atribuir meu sucesso como pessoa, minha evolução, são meus pais, aquela educação — acho que nenhuma outra influência teve esse tipo de efeito profundo em mim.”

A vida familiar também teve uma influência mais direta sobre seu retrato de Henry Barthes, que ele descreve como “uma homenagem a meu pai e à contribuição que ele fez, que foi muito generosa e pouco apreciada pela sociedade”. Um professor durante toda a vida, o pai de Brody chegou a fazer uma cena para o filme, na qual interpretou o pai afastado de Henry. “Eu juro, ele foi muito brilhante; minha mãe e eu ficamos de queixo caído”, Brody sorri. Seu pai não entrou na edição final, mas Brody espera que a cena seja incluída nos extras do DVD. Enquanto isso, porém, ele está feliz por ter dado a seu pai a mesma importância que deu a sua mãe fotógrafa, cuja “tremenda inspiração” ele cita com frequência.

Ele cresceu no Queens, em Nova York: lá fora era “um ambiente relativamente duro, em termos de bairro”; lá dentro, “um lar que tinha amor, criatividade e respeito”. Sua mãe costumava levá-lo para sessões de foto, e um dia teve de fotografar uma escola de teatro. “É aleatório. Ela podia não ter recebido aquela tarefa. Eu podia não ter ido para a escola de teatro desde pequeno.” Na verdade ele havia começado a atuar antes disso, fazendo números de mágico na infância, e eu lhe pergunto se acha que o fato de ser filho único determinou sua opção profissional. Ele fala um pouco sobre como seus pais conversavam com ele como se fosse um adulto, e como foi incentivado a desenvolver sua imaginação, e então diz, muito sério: “Acho que isso me obrigou a ser maduro, porque eu tinha de responder pelas coisas quando chegava em casa. Não podia escapar e culpar meu irmão ou irmã. Eu tinha de ser responsável.”

Responsabilidade é claramente uma grande coisa para Brody, que raramente fala de um papel sem usar a palavra “responsabilidade”. Faz totalmente sentido, é claro, quando ele fala sobre interpretar Wladyslaw Szpilman, cuja luta pela sobrevivência durante a Segunda Guerra Mundial ele representou em O Pianista, de Roman Polanski. Brody tornou-se o mais jovem ganhador do Oscar de melhor ator, vencendo concorrentes como Michael Caine, Daniel Day-Lewis, Jack Nicholson e Nicholas Cage; foi um sucesso especialmente agradável depois da fase baixa alguns anos antes, quando o que havia começado como um papel substancial em Além da Linha Vermelha, de Terrence Malik, foi editado até virtualmente desaparecer.

O Pianista, ele diz hoje, foi “totalmente consumidor. Durante um ano inteiro depois dele eu estive provavelmente com uma séria depressão”. Um ano? “Facilmente”, ele responde. “Houve transições severas em que eu me esgotei física e emocionalmente… eu o filmei quando tinha 27 anos, e foi meu verdadeiro despertar e a entrada na idade adulta, essa responsabilidade e consciência de minha boa sorte que eu considerava garantida.”

A responsabilidade de interpretar um judeu polonês durante o Holocausto é óbvia; e Brody também fala intensamente sobre como lamenta não ter encontrado outros papéis daquele calibre durante a década seguinte a O Pianista. Então o que o atraiu para grandes sucessos como Predadores ou King Kong? Bem, ele explica cuidadosamente que não gosta de repetir coisas, mesmo cenas individuais: “O segredo é de alguma forma se colocar em um lugar onde pareça tão real quanto possível, e você não pode repetir aquilo… mas é tão precário, aquele lugar, é tão difícil de encontrar, e exige muito trabalho para chegar lá, então não é algo que você apenas liga e repete, portanto, sim, eu gosto de coisas que são muito diferentes para mim e me obrigam a me estender.”

Humanidade. King Kong também não foi apenas… divertido? Ele ri: “Foi muito divertido! Foi mais difícil do que eu havia previsto. Eu quis fazê-lo porque pensei que seria divertido, uma espécie de distanciamento de todas as coisas pesadas que me atraem, mas para demonstrar medo, por exemplo, que você tem de sentir em uma selva fugindo de um gorila de 7,5 metros, você precisa encontrar as coisas que o assustam, e é muito mais desafiador quando não há gorila lá, e há uma bola de tênis enfiada em um pau. Você ainda tem a mesma responsabilidade de sentir. Se eu não sentir, por que deveria querer que você sinta? Não posso fingir.”

A imersão de Brody nos papéis é conhecida — ele perdeu muitos quilos para fazer O Pianista (e não era gordo, para começar), sem falar em abandonar sua casa e seu relacionamento, ele ganhou corpo para Predadores e aceitou um papel quase sem falas em A Aldeia, de M. Night Shyamalan. Dizem que quando estava filmando The Jacket, em que fez um veterano da Guerra do Golfo enviado para uma instituição e submetido a terapia radical, ele pediu para ser posto em uma camisa-de-força em uma gaveta de necrotério mesmo quando as câmeras não estavam filmando. Há uma devoção a sua arte, e depois há obsessão.

E é por isso que de certa forma fico surpreso ao descobrir que suas férias não têm prazo definido, não há planos concretos de voltar ao trabalho. “Você está me vendo em um momento muito abençoado da minha vida”, ele diz. “Estou adotando o não fazer nada.” Seu trabalho, ele salienta, exige material, e enquanto espera que algo adequado apareça ele tem licença para relaxar; em sua vida pessoal, ele diz, é “um homem livre”. “Tenho muita disciplina e muito autocontrole, e acho importante abandonar isso às vezes, entregar-me a qualquer coisa.” Até agora ele só tem planos de passar o verão na Europa, “depois eu volto a trabalhar”. Em todo caso, ele ri, “meu nível de irresponsabilidade está… não muito ruim”.

Certamente não. Não tenho certeza se muitos atores teriam se afastado da praia e dado uma entrevista sem voz para promover um filme pequeno, incansavelmente sério. É claro que há algumas vantagens em ser um astro do cinema — o bar onde eu estive sentado foi aberto especialmente para nós, o lugar inteiro estava reservado. “Isto nunca me aconteceu antes!”, sussurra Brody enquanto saímos. “É como ser Tom Cruise ou coisa parecida!”

 

 

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Por Alex Clark

“Esta é a entrevista mais íntima que já dei”, sussurra Adrien Brody, que é exatamente o tipo de coisa que você quer ouvir quando está a centímetros de um ator de Hollywood ganhador do Oscar, que interrompeu suas férias para conversar com você. E quando os dois estão sentados em um dia muito quente em um condomínio de praia elegante em Mônaco que é meio anúncio de Stella Artois, meio romance de J.G. Ballard, sem um relações-públicas à vista para manobrar as coisas e evitar que você faça perguntas impertinentes. Então, quem é você para criticar se a intimidade a sotto voce se resume ao fato de o entrevistado ter perdido a voz?

“Estou com laringite… eles lhe disseram?”, ele murmurou assim que desceu a escada, usando um chapéu de feltro com uma faixa azul-pavão e um enorme sorriso.

Na verdade eles tinham me dito, mas eu pensei que fosse a língua das estrelas para uma voz meio rouca, e imediatamente tirei aquilo da cabeça. Afinal, Brody realmente não pode falar de maneira audível — e portanto gravável. Eu experimento um instante de extrema ansiedade seguido da certeza de que estou suando tão profusamente que logo estarei parecendo Dirk Bogarde na cena final de Morte em Veneza. Mais tarde percebo que é improvável que eu tenha escondido isso do altamente empático Brody, o qual imediatamente conta uma piada. “Não estou sendo um ator estranho”, ele garante. “‘Adrien só daria a entrevista em mímica… Eu e Daniel Day-Lewis fazemos isso, você sabe. Eu me recupero o suficiente para lhe dizer que se depois eu descobrir que isso é uma pesquisa no estilo método para um papel de mudo, ficarei realmente furioso.”

Mas é difícil imaginar isso. Brody é extremamente envolvente: ora solene, ora engraçado, irônico e sério. Ele está confiante e descontraído, mas com um ar de vulnerabilidade que é exacerbado, embora eu não considere criado, por seu visual ligeiramente lúgubre; você sente que ele não esconde nada, mas que há muito a descobrir.

Com ou sem laringite, é melhor ser rápido. “Quando eu tiver alguma coisa realmente importante para dizer, impostarei um pouco a voz”, ele me avisa. “Até então, vou apenas sussurrar.” Eu apenas balanço a cabeça e seguro o gravador bem perto dele. Às vezes durante a conversa percebo que também estou sussurrando, e peço desculpas. “Você pode sussurrar também”, ele sorri. “É agradável.”

Começamos murmurando sobre Detachment [Desligamento], em que Brody interpreta Henry Barthes, um professor substituto que enfrenta as falhas do sistema de ensino público dos Estados Unidos durante o dia e à noite tenta reverter a vida de uma prostituta adolescente. É interessante, extremamente brilhante, mas é justo dizer que também não provoca risos; para estes, pode-se recorrer a outro lançamento recente de Brody, High School, em que ele faz Psycho Ed, um traficante de drogas maníaco cuja erva deixa uma escola inteira chapada. É difícil encontrar dois filmes mais diferentes; a menos, talvez, que você pense em O Pianista, pelo qual Brody venceu o Oscar de melhor ator em 2002, e Predadores (2010). Ele não é, como veremos, um ator que deseja ter um papel típico, padronizado.

Em Detachment, Brody exibe a raiva contida com um efeito enorme: Henry Barthes doma hordas rebeldes de jovens indisciplinados através de uma espécie de distância carismática, enquanto em particular enlouquece, chorando no ônibus ao lembrar de sua mãe morta de alcoolismo ou cedendo a acessos de fúria explosiva. Não é uma grande surpresa descobrir que o filme foi dirigido por Tony Kaye, que também nos deu A Outra História Americana. Os dois filmes têm no centro homens que mantêm seu estoicismo em um mar de sofrimento e anormalidade; eles são, em certo sentido, explorações da masculinidade torturada. Na superfície, Detachment é um filme sobre os defeitos do ensino estatal; mas Brody insiste que também é sobre a “solidão como condição humana; como uma questão maior e mais grave”.

“Tony seria o primeiro a lhe dizer que seu objetivo não foi fazer um filme criticando o sistema educacional, que obviamente tem defeitos, todos sabemos disso”, diz Brody. “Mas eu acho que nossa educação, e nossa alma e nosso ser vêm de um lugar muito anterior, você sabe, e é responsabilidade dos pais e das pessoas amadas em nossas vidas. Um pouquinho de atenção e bondade podem mudar totalmente uma vida, e a falta delas pode fazer o mesmo… Penso muito nas crianças que não recebem o respeito que merecem, e a única coisa a que posso atribuir meu sucesso como pessoa, minha evolução, são meus pais, aquela educação — acho que nenhuma outra influência teve esse tipo de efeito profundo em mim.”

A vida familiar também teve uma influência mais direta sobre seu retrato de Henry Barthes, que ele descreve como “uma homenagem a meu pai e à contribuição que ele fez, que foi muito generosa e pouco apreciada pela sociedade”. Um professor durante toda a vida, o pai de Brody chegou a fazer uma cena para o filme, na qual interpretou o pai afastado de Henry. “Eu juro, ele foi muito brilhante; minha mãe e eu ficamos de queixo caído”, Brody sorri. Seu pai não entrou na edição final, mas Brody espera que a cena seja incluída nos extras do DVD. Enquanto isso, porém, ele está feliz por ter dado a seu pai a mesma importância que deu a sua mãe fotógrafa, cuja “tremenda inspiração” ele cita com frequência.

Ele cresceu no Queens, em Nova York: lá fora era “um ambiente relativamente duro, em termos de bairro”; lá dentro, “um lar que tinha amor, criatividade e respeito”. Sua mãe costumava levá-lo para sessões de foto, e um dia teve de fotografar uma escola de teatro. “É aleatório. Ela podia não ter recebido aquela tarefa. Eu podia não ter ido para a escola de teatro desde pequeno.” Na verdade ele havia começado a atuar antes disso, fazendo números de mágico na infância, e eu lhe pergunto se acha que o fato de ser filho único determinou sua opção profissional. Ele fala um pouco sobre como seus pais conversavam com ele como se fosse um adulto, e como foi incentivado a desenvolver sua imaginação, e então diz, muito sério: “Acho que isso me obrigou a ser maduro, porque eu tinha de responder pelas coisas quando chegava em casa. Não podia escapar e culpar meu irmão ou irmã. Eu tinha de ser responsável.”

Responsabilidade é claramente uma grande coisa para Brody, que raramente fala de um papel sem usar a palavra “responsabilidade”. Faz totalmente sentido, é claro, quando ele fala sobre interpretar Wladyslaw Szpilman, cuja luta pela sobrevivência durante a Segunda Guerra Mundial ele representou em O Pianista, de Roman Polanski. Brody tornou-se o mais jovem ganhador do Oscar de melhor ator, vencendo concorrentes como Michael Caine, Daniel Day-Lewis, Jack Nicholson e Nicholas Cage; foi um sucesso especialmente agradável depois da fase baixa alguns anos antes, quando o que havia começado como um papel substancial em Além da Linha Vermelha, de Terrence Malik, foi editado até virtualmente desaparecer.

O Pianista, ele diz hoje, foi “totalmente consumidor. Durante um ano inteiro depois dele eu estive provavelmente com uma séria depressão”. Um ano? “Facilmente”, ele responde. “Houve transições severas em que eu me esgotei física e emocionalmente… eu o filmei quando tinha 27 anos, e foi meu verdadeiro despertar e a entrada na idade adulta, essa responsabilidade e consciência de minha boa sorte que eu considerava garantida.”

A responsabilidade de interpretar um judeu polonês durante o Holocausto é óbvia; e Brody também fala intensamente sobre como lamenta não ter encontrado outros papéis daquele calibre durante a década seguinte a O Pianista. Então o que o atraiu para grandes sucessos como Predadores ou King Kong? Bem, ele explica cuidadosamente que não gosta de repetir coisas, mesmo cenas individuais: “O segredo é de alguma forma se colocar em um lugar onde pareça tão real quanto possível, e você não pode repetir aquilo… mas é tão precário, aquele lugar, é tão difícil de encontrar, e exige muito trabalho para chegar lá, então não é algo que você apenas liga e repete, portanto, sim, eu gosto de coisas que são muito diferentes para mim e me obrigam a me estender.”

Humanidade. King Kong também não foi apenas… divertido? Ele ri: “Foi muito divertido! Foi mais difícil do que eu havia previsto. Eu quis fazê-lo porque pensei que seria divertido, uma espécie de distanciamento de todas as coisas pesadas que me atraem, mas para demonstrar medo, por exemplo, que você tem de sentir em uma selva fugindo de um gorila de 7,5 metros, você precisa encontrar as coisas que o assustam, e é muito mais desafiador quando não há gorila lá, e há uma bola de tênis enfiada em um pau. Você ainda tem a mesma responsabilidade de sentir. Se eu não sentir, por que deveria querer que você sinta? Não posso fingir.”

A imersão de Brody nos papéis é conhecida — ele perdeu muitos quilos para fazer O Pianista (e não era gordo, para começar), sem falar em abandonar sua casa e seu relacionamento, ele ganhou corpo para Predadores e aceitou um papel quase sem falas em A Aldeia, de M. Night Shyamalan. Dizem que quando estava filmando The Jacket, em que fez um veterano da Guerra do Golfo enviado para uma instituição e submetido a terapia radical, ele pediu para ser posto em uma camisa-de-força em uma gaveta de necrotério mesmo quando as câmeras não estavam filmando. Há uma devoção a sua arte, e depois há obsessão.

E é por isso que de certa forma fico surpreso ao descobrir que suas férias não têm prazo definido, não há planos concretos de voltar ao trabalho. “Você está me vendo em um momento muito abençoado da minha vida”, ele diz. “Estou adotando o não fazer nada.” Seu trabalho, ele salienta, exige material, e enquanto espera que algo adequado apareça ele tem licença para relaxar; em sua vida pessoal, ele diz, é “um homem livre”. “Tenho muita disciplina e muito autocontrole, e acho importante abandonar isso às vezes, entregar-me a qualquer coisa.” Até agora ele só tem planos de passar o verão na Europa, “depois eu volto a trabalhar”. Em todo caso, ele ri, “meu nível de irresponsabilidade está… não muito ruim”.

Certamente não. Não tenho certeza se muitos atores teriam se afastado da praia e dado uma entrevista sem voz para promover um filme pequeno, incansavelmente sério. É claro que há algumas vantagens em ser um astro do cinema — o bar onde eu estive sentado foi aberto especialmente para nós, o lugar inteiro estava reservado. “Isto nunca me aconteceu antes!”, sussurra Brody enquanto saímos. “É como ser Tom Cruise ou coisa parecida!”

 

 

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